A Grande Virada de Chave nas Empresas Modernas

Saulo Nascimento
Kobe
Published in
3 min readJul 14, 2022

O que está acontecendo com o mercado moderno? Por que tantas startups num histórico recente estão realizando demissões em massa (ou num termo mais soft e errado Layoffs)? O que é esse movimento de reestruturação que tanto pregam por aí?

Para responder a essas perguntas, vamos dar dois passos para trás. O primeiro, definindo uma startup. Basicamente é um grupo de pessoas à procura de um modelo de negócios repetível e escalável, trabalhando em condições de incerteza, à procura de investimentos para tornar seu negócio rentável e poder ganhar dinheiro com isso.

Para uma startup então chamar atenção e escalar, aderem ao nosso segundo passo: a teoria “Winners Take All”. Nela, a empresa no mercado faz tanta pressão dentro da sua área de atuação para dominá-lo, que acaba afastando competidores e estabelecendo praticamente um monopólio do setor, atraindo assim maiores investimentos, afinal, qual investidor não gostaria de ter na sua carteira uma empresa que domina aquela parte do mercado?

Exemplos dessa teoria estão bem próximos da gente: WeWork, Loft, QuintoAndar, iFood. Essas empresas tinham uma estratégia tão agressiva para poder se estabelecerem como dominantes no mercado que seus concorrentes acabaram com pouca influência e atuação em seus respectivos segmentos (alguns até deixando de atuar aqui no país).

Para uma empresa crescer nesses termos, de forma tão agressiva, utilizam o CashBurn. É uma manobra desenfreada de gastar (queimar) todo o capital reunido para poder comprar empresas concorrentes menores, trabalhar na aquisição de clientes (promoções, cuponzinhos, cashback), contratação de pessoas e por aí vai. Neste tipo de crescimento, a lucratividade do negócio vem em segundo plano, o foco realmente está em crescer, expandir e mostrar seu potencial para receber novos aportes. Aportes esses vindos das Venture Capitals, investidores que injetam recursos financeiros em empresas de pequeno e médio porte (inclusive startups), que estão passando por um momento de crescimento ou expansão, com potencial de retorno muito grande em determinado período de tempo.

Os investidores utilizam bastante da análise de mercado para poder escolher onde vão colocar seu precioso capital: capacidade de crescimento daquela empresa, estabilidade financeira de onde eles atuam, estabilidade política, dentre outros fatores. Entretanto, com a imprevisível pandemia da Covid-19, instabilidade política nacional, instabilidade política internacional (guerra Ucrania-Russia), que chacoalharam o mercado, fez com que os investidores olhassem para fontes de investimento mais seguras.

Um exemplo disso é o Brasil, que nesse período a inflação subiu consideravelmente, aumentando consigo algo que despertou o interesse desses investidores: a taxa de juros. Por ser um investimento mais seguro, as venture capitals deixaram de aportar dinheiro para as startups para beberem da fonte dos rendimentos mais seguros que a taxa de juros oferece para eles.

As startups se viram num cenário onde elas não geram lucro, ou seja, não tinha como continuar no mesmo ritmo de crescimento que anteriormente. Pior ainda, elas não teriam dinheiro suficiente para poder continuar operando com toda aquela estrutura montada para sustentar o cash burn.

Com isso, o objetivo das startups passa da expansão agressiva no mercado para a busca pelo Break Even, o ponto onde a empresa para de dar prejuízo e começa a dar lucro. Esse lucro será fundamental para sustentar a empresa, e posteriormente voltar a crescer.

É, neste momento, que entram os Layoffs, enxugar o máximo que puder a operação da empresa, entre atuação no mercado, ramificações do negócio e inclusive funcionários que tinham sido contratados para acelerar o crescimento, para poder reduzir custos e focar na principal entrada de dinheiro da empresa.

Uma característica que não mencionamos até aqui é que essas startups, além do seu core business principal, investem em diferentes frentes, para poderem diversificar sua atuação e ter a possibilidade de gerar lucro de forma mais estável. Caso haja algum problema no core, as ramificações podem segurar a onda, e vice-versa.

Agora vamos àquelas reflexões: será que todas essas empresas estão nesse pensamento de focar 100% no negócio principal? Será que algumas delas aproveitaram esse movimento geral do mercado para poder desinchar a operação e ter um lucro maior? Será que existem ainda aquelas empresas que acharam uma oportunidade de reduzir o quadro de funcionários para sobrecarregar os que ficaram sob o pretexto de “otimização de processos”? São os questionamentos que precisam ser levados para discussão, não só nas empresas em que esse movimento aconteceu, mas como em todas as outras que trabalham nesse modelo descrito aqui na nossa conversa.

Olhamos para o lado do negócio quando essas movimentações acontecem, mas e as pessoas que são afetadas diretamente? As expectativas delas, os sacrifícios feitos para elas estarem ali, é justo? Fica a reflexão e a provocação ao diálogo entre todos.

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