O que venho descobrindo atuando com D&I no mercado de trabalho

Eduarda Girotto Damiani
Kobe
Published in
4 min readMar 30, 2022

Iniciei minha trajetória com Diversidade e Inclusão ainda durante minha graduação, em um estágio, no qual atuava com atração e seleção de Pessoas com Deficiência em uma consultoria especializada. Percebi, desde o início, que para que meu trabalho fosse realmente feito por completo, e de forma genuína, precisaria começar a me desconstruir em relação ao significado de alguns conceitos, tais como: deficiência e inclusão. Foi lá que ouvi pela primeira vez sobre capacitismo, entendi o que era equidade de oportunidades e ali tudo passou a fazer sentido.

Existem alguns termos importantes pra mim, que são geralmente discutidos e trazidos quando o assunto é D&I, e acho que sempre é bom relembrar o real significado destas palavras quando se aborda o tema:

Inclusão: vem do senso de pertencimento, é a construção de vínculos e acolhimento. Onde as oportunidades são apresentadas de forma igualitária.

Diversidade: está ligada à representação demográfica. São os grupos representados dentro de uma companhia, por exemplo.

Capacitismo: é a subestimação da capacidade e aptidão de pessoas em virtude de sua deficiência.

Equidade: diferente de igualdade, a equidade garante uma diversidade de oportunidades, de acordo com as necessidades individuais de cada sujeito.

Sabia desde aquele primeiro estágio que levaria práticas e condutas anti capacitistas para todas as esferas da minha vida, me tornando uma pessoa aliada. Mas, ao mesmo tempo, me questionava sobre como seria a melhor forma de ser uma pessoa aliada às temáticas de D&I e por vezes achava que como pessoa aliada eu precisava ter todas as respostas. Grande engano, eu não estava no lugar de fala e para que eu conseguisse me tornar realmente uma aliada precisava ouvir, humanizar e reconhecer. Então, busquei me aprofundar no assunto através das redes sociais de pessoas que representam e se importam com pautas sobre grupos sub representados, e que fornecem conteúdos de um trabalho sério e de muita qualidade. Outra coisa que me auxiliou de maneira ímpar, foi procurar livros e artigos sobre o tema, e percebo que cada vez mais tanto consultores especializados, acadêmicos da área e pessoas referências vem publicando seus conteúdos e promovendo lives/debates para discussão e aprofundamento.

Além disso, logo que saí da consultoria e entrei efetivamente na outra ponta do iceberg, percebi que precisaria estar mais inserida, mas não sabia como, foi aí que veio a necessidade/oportunidade de um voluntariado dentro de um destes grupos que mencionei anteriormente, atuando na prática com maior proximidade das pessoas, que é o que realmente importa. Ao longo da minha trajetória profissional passei por algumas empresas e consegui identificar diferentes níveis de maturidade quando a pauta era incluir. Tanto na consultoria quanto nessas empresas, pude atuar com os mais diferentes momentos de negócio e conduzir processos seletivos das mais diferentes áreas, porém o que mais me chamava atenção era que mesmo com iniciativas educativas e a alta gestão engajada com as ações, de alguma forma sempre esbarravam em questionamentos e algumas atitudes por vezes muito semelhantes.

Resolvi trazer alguns questionamentos chaves que podem cercar ou já cercaram o trabalho de quem atua ou começou atuar agora com Diversidade e Inclusão no mundo corporativo. Vou chamá-los de mitos, no sentido de serem limitantes e sem embasamento nenhum e fatos, baseado em evidências reais.

1 - Não precisamos saber tudo sobre diversidade e inclusão para começar a trabalhar com iniciativas (FATO).

Na dúvida, não ache ou suponha nada, pergunte pras pessoas! Por favor, pergunte, é tão mais humano.

2 - É arriscado começar qualquer ação de D&I agora, pois ainda não estamos com o cenário ideal (MITO).

Certo, é necessário ter cuidado e pensar quais impactos estão relacionados para determinadas ações e nem preciso citar para não soar falso ou passem uma realidade que não é vivenciada no cotidiano da empresa. Mas hora perfeita dificilmente vai existir, a melhor escolha que se pode fazer nesse momento é arregaçar as mangas de forma genuína e começar com o mais viável para aquele momento, o feito é melhor do que perfeito.

3 - Diversidade e Inclusão precisa ser um dos pilares da empresa e não somente da área de Pessoas (FATO).

Já devem ter ouvido bastante sobre isso, mas ainda vejo muitas iniciativas sendo abordadas como responsabilidade somente da área de RH ou de uma pessoa que a representa, dessa forma, dificilmente vi alguma ação durar muito tempo.

4 - Quando se fala em contratação de pessoas com deficiência, o que mais ouvia e ainda acredito que ocorra é o discurso que não existem bons candidatos disponíveis no mercado (MITO).

De fato, não vão existir se estivermos indo buscar da mesma forma de sempre. Inove nas buscas! Quem procura, com certeza acha e os números estão aí para nos mostrar que sim existem profissionais qualificados.

5 - Equipes diversas geram inovação (FATO).

E isso já foi pra lá de comprovado por várias pesquisas já realizadas, basta dar um Google que chovem referências em relação a exemplos sobre como equipes formadas por pessoas diversas consequentemente promovem um ambiente com maior segurança psicológica que resulta em mais inovação nas entregas.

6 - Representatividade não faz tanta diferença assim (MITO).

A falta de singularidade faz toda a diferença, precisamos abordar sempre a importância do pertencimento. A necessidade de pertencer a algo é a essência do ser humano.

Para finalizar, acredito que a maior dica para quem vai iniciar um trabalho ou quer se aprofundar sobre pautas relacionadas à Diversidade e Inclusão, seja você da área de pessoas ou em posição de liderança, é se permitir desconstruir e aceitar que todos nós temos vieses inconscientes (tema para outro artigo) que precisam ser atentamente trabalhados e olhados repetidamente.

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