1 — #Maretober — Aventureire
O menino tinha só seis anos. Se aventureiro já era uma palavra forte para descrever o que seus pais faziam, era ainda menos adequada para ele: o garoto que fazia companhia, que olhava as visitas por detrás das saias do pai, que ouvia conversas sentado embaixo da mesa e que viajava as longas distâncias nas costas de um lobo. Um lobo grande, tudo bem, mas ainda um lobo. Nada comparado aos ursos brancos e bonitos que seus pais guiavam pela neve.
Mas ele sonhava com coisas grandes: batalhas épicas, um resgate ousado e magias brilhantes. Talvez por isso o ursinho o tenha escolhido. Isso, ou o fato de que ele era provavelmente a única criança aventureira daquela região, e nenhum adulto levaria o ursinho a sério. Porque eles são adultos, é claro, e adultos fazem esse e outros tipos de burrice. Sir Móric era seu nome, e ele tinha muita magia a oferecer. Em doses homeopáticas, certamente, para não explodir a cabeça da criança.
Do jeito que só os pequenos sabem como é, eles se tornaram melhores amigos. Corriam pelas florestas durante o dia, saltando troncos, caçando sapos, nomeando os tipos de passarinho. À noite, dormiam juntos, agarrados. Sonhavam com um futuro gigante, como o menino ainda seria, e todas as coisas de sempre — resgates, magia, desventuras e heroísmos. Todas elas incluíam agora também o Móric, porque o garoto ainda tinha muito a aprender, mas de uma coisa ele sabia: não se deixa amigos e família para trás. E isso bastava para seguir em frente.