Descrição da imagem: Uma pessoa negra ajoelhada contra a neve. Ela está de calças pretas e sem camisa. O peito tem pelos e os braços estão flexionados para trás da cabeça. A pessoa pende a cabeça para trás e faz uma expressão facial como se gritasse com muita força.

Ansiedade social parte dois

Koda Gabriel
kodagabriel
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3 min readFeb 3, 2019

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Eu estava agora há pouco em uma festa e fui consumida pela ansiedade. Preciso dizer, tem dias que eu não suporto sem socialmente “inadequada” com aspas e em itálico porque eu odeio essa palavra. Isso vai virar um texto, eu sei que vai. Mas é sobre o fato de eu estar me sentindo deslocada no meio de alguns poucos amigos. E de depois ter saído de perto porque não aguentava mais fingir socialização. Eu falo muito alto e de coisas muito esquisitas quando estou me forçando a socializar e eu não sou eu, sabe? Eu faço umas piadas que não faria normalmente, rio de coisas que não riria normalmente. Isso me entope a garganta. Eu voltei bem cedo porque comecei a sentir meu coração acelerar e sentir muita muita cede. Solucei o caminho inteiro, a pressão baixou. Tenho certeza que reconhece parte desses sentimentos. Hoje foi um dia logo. Há alguns meses eu tomei a decisão de não mais brigar ou xingar ninguém que pensa diferente de mim. Essa foi uma decisão que tomei porque eu acredito piamente que pessoas podem mudar e que a briga não nos leva a nenhum lugar. Ainda não consigo conversar com ninguém pessoalmente, mas pela internet tenho melhorado muito e hoje já debate longas conversas sem surtar (antes chegava a quase desmaiar). Hoje foi um dia longo.

Eu queria ter levado o kindle, baixei o a cura por lá, ficou formatadinho. Mas decidi deixar em casa e foi ruim a decisão. Tem dias que eu ODEIO ser socialmente inadequado. Sabe quando você sente que metade do pessoal apesar de estar se divertindo em suas mesas está te olhando de cabo de olho pensando em como você é… esquisita? Sentada sozinha na sua mesa, ora olhando para o celular, ora para o teto. Hoje foi um dia esquisito e eu fiquei o dia inteiro usando o que autistas chamam de stims (movimentos repetitivos para regular o sensorial do corpo), balançando as mãos e brincando com bolinhas de plástico mas eu continuo isolada e desequilibrada.

Tinha muito barulho lá e tampar os ouvidos não adiantou. Eu vim embora com a boca tão seca que pensei que ia desmaiar no caminho. Meu coração batia rápido demais e minhas pernas não respondiam.

Você já sentiu isso?

Tipo… Não pertencer?

Eu acho que isso já virou um texto.

A gente que cresceu sozinho vive num mundo a parte é complicado. Eu sei que você disse que é trágico, mas eu não acho. Não a maior parte do tempo. É só diferente, e tem vezes que ser diferente é o inferno. Mas eu sou uma coleção de coisas diferentes e eu gosto disso. A maior parte do tempo.

Estou naquele limbo bizarro em que você sente que está no meio de todo mundo mas está em outra dimensão só sua.

Só minha. Só minha.

Caramba.

Tem dias que eu odeio ser

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Koda Gabriel
kodagabriel

25 anos, bissexual e não binário. escrevo romances, ficção especulativa e putarias em geral https://kodagabriel.com.br