Descrição da imagem: em primeiro plano, um rosto visto de lado. Ele está desfocado. O foco está no fundo, que é a tela de um computador com diversos códigos escritos.

Por que apenas nos importamos com a inclusão de mulheres desenvolvedoras?

Koda Gabriel
kodagabriel
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2 min readMar 11, 2019

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A área de desenvolvimento em geral infelizmente sempre foi predominantemente dominada por homens cisgêneros. Esse problema começa desde a educação básica quando garotas são incentivadas a serem melhores em áreas voltadas para literatura e história, enquanto garotos são incentivados a seguir áreas voltadas para ciência, tecnologia e matemática.

De alguns anos pra cá, muita coisa vem mudando. Temos criados mais diálogos sobre o assunto e diversos coletivos, eventos e movimentos surgiram exclusivamente voltados para mulheres desenvolvedoras. E isso é ótimo! Exceto que está criando um buraco ainda mais embaixo e colocando um monte de gente nele.

Voltando no começo dessa conversa, veja que eu disse que a área de dev é dominada por homens cisgêneros. Ou seja, todos os demais grupos são excluídos e inferiorizados no meio dev. E esses demais grupos não são compostos apenas de mulheres cisgênero e transgênero. No meio dessa conversa esquecemos homens trans e pessoas não-binárias e criamos ainda mais espaços nos quais essas pessoas não são bem vindas, ao invés de espaços que acolham todas as diferenças.

É importante que haja formas de se dialogar exclusivamente sobre a exclusão de mulheres e como ela se dá, mas também é importante reconhecer que existem outros grupos tão excluídos quanto e seria interessante que as mulheres não contribuíssem com essa exclusão, como vem acontecendo.

Um movimento que deveria trazer para pessoas excluídas o sentimento de inclusão na verdade acaba trazendo pra um grupo de outras pessoas um sentimento duplo de exclusão e a sensação de que nossas narrativas não importam nem mesmo dentre quem devia entender como é ser constantemente excluído.

Fora do país tem se falado mais sobre isso, mas acho importante trazermos essa discussão para a nossa realidade e buscar incluir homens trans e pessoas não-binárias nas nossas propostas e grupos. Todo mundo que não é homem cis acaba de alguma forma excluído do mercado de desenvolvimento, então todas essas pessoas deveriam ser abraçadas por movimentos de inclusão e diversidade no meio dev.

Mesmo que alguns de nós tenhamos sidos designados mulheres ao nascer nos incluir ou exigir presença em movimentos voltados para mulheres é nocivo e apaga nossa identidade, nos resumindo a um genital e associando esse genital ao gênero. Algumas das coisas que vivenciamos serão iguais a de mulheres, outras não e é preciso criar essa interseccionalidade nos movimentos que buscam a diversidade de pessoas no desenvolvimento.

Caminhamos para um futuro, espero, inclusivo e igualitário não somente nas áreas de programação, mas em todas. Mas o caminho até lá é árduo, e torço para que possamos torná-lo mais simples garantindo que todas as pessoas se sintam bem vindas e capazes de programar.

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Koda Gabriel
kodagabriel

25 anos, bissexual e não binário. escrevo romances, ficção especulativa e putarias em geral https://kodagabriel.com.br