Descrição da imagem: Uma mesa decorada ocupa toda a extensão da imagem. Do lado esquerdo, decorações em rosa com os dizeres “princesa”. Ao fundo, uma coroa de rainha. Do lado direito, decorações em azul com os dizeres “príncipe”. Ao fundo, uma coroa de rei.

Porque “chás de revelação” estão reforçando estereótipos de gênero — e nós estamos apenas rindo

Koda Gabriel
kodagabriel
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3 min readFeb 15, 2019

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A ideia de chás de revelação é recente. As primeiras referências à essa festa surgiram há mais ou menos quatro anos nos Estados Unidos e estão chegando com cada vez mais força no Brasil. Mas o que é um chá revelação?

Antigamente, era um momento íntimo e importante para o casal a descoberta do genital do bebê (e, como vivemos em uma sociedade cissexista, por consequência, o gênero — mesmo isso não sendo uma verdade absoluta). Entretanto, as festas de revelação do “sexo” do bebê surgiram com força e trazem muitos estereótipos de gênero como a cor azul para representar meninos e rosa para representar meninas, brinquedos fortemente ligados a estereótipos de gênero como “roupas de balé e objetos de cozinha e limpeza” para representar meninas e “carrinhos, bolas e ferramentas para representar meninos”. É nessa (e em tantas outras coisas) que mora o perigo.

Que vai demorar muito tempo pra escaparmos da tradição de se definir o gênero da criança ao nascer com base em seu genital é uma verdade inegável. Mas já dá pra ir desatrelando o gênero dos papeis de gênero, o que é bem mais simples. Entretanto, festas como essa que ligam roupas, cores e brincadeiras e profissões à gêneros só ajudam a reforçam na cabeça da população os estereótipos que estamos lutando tanto para combater. (Leia também: “O que é estereótipo de gênero e papel de gênero”)

É de extrema importância que a gente pare de fazer piadinhas ridicularizando chás de revelação porque são “bobos” ou “excessivamente criativos” (dado pessoas que soltam fogos de artifícios de determinada cor, misturam pozinho com água, colocam a cor dentro do bolo, estouram balões, etc). Ao invés disso, devemos compreender que essas festas devem ser criticadas por si só, independente de método escolhido para a revelação. Festas alternativas surgem a todo momento onde pessoas tentam fugir do estereótipo de gênero, mas sempre acabam querendo definir o gênero da criança com base na genitália e isso reforça a ideia de que genitália define gênero, o que não é a realidade.

É também importante que criemos diálogos reais sobre os estereótipos de gênero que sejam capazes de evidenciar como eles são nocivos não só para pessoas transgênero, mas também para pessoas cis. Afinal, ser transgênero não é sinônimo de seguir (ou deixar de seguir) estereótipos de gênero. Existem mulheres e homens cis que fogem completamente do estereótipo de gênero, e eles são feridos também por cobranças inatingíveis e ultrapassadas de que uma pessoa de tal gênero deve ter determinada aparência, determinada postura, gostar de determinadas coisas.

Roupas, brinquedos, jogos, nada disso têm gênero. Pessoas têm gênero, e elas podem escolher expressar esse gênero da forma que quiserem e gosto nenhum afeta isso.

No fim, o importante é lembrar que o terrível vilão disso tudo é o estereótipo de gênero que, aliado da cisnormatividade, quer ditar que corpos com determinada genitália estão fadados a ser o que se espera, do gênero que se espera, gostar do que se espera e tudo mais.

Lutamos pela liberdade de sermos o que bem entendermos :)

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Koda Gabriel
kodagabriel

25 anos, bissexual e não binário. escrevo romances, ficção especulativa e putarias em geral https://kodagabriel.com.br