Um pedaço de desespero
Respira fundo. Respira fundo
Tá difícil, sabe, eu queria te falar isso
Eu tô há uns dias com esse texto na cabeça se debatendo pra sair, enquanto eu esperava passar
Por favor, tinha que passar
Mas não passa
As coisas vêm em ondas e engolem
Me engolem
Meu peito tá subindo com dificuldade, descendo fácil demais
Me sinto esmagado e dói… Dói a beça
A mente não para um segundo, tem sempre sempre sempre sempre
Sempre
Sempre
Sempre
Algo acontecendo em primeiro plano segundo plano terceiro plano
Eles falam que na verdade uma mente não é tão boa assim com multi thread e talvez seja verdade
Eu estou só fingindo, sabe?
Sei lá, queria pedir arrego, mas ai podem falar que eu nem faço tanta coisa assim e foda-se respeitar o tempo de cada um
As palavras elas andam andam andam andam
Correm
Correm
Eu corro
Meu peito continua subindo e descendo aflito como se eu tivesse corrido uma maratona
Eu to… exausto
O que é isso aqui dentro de mim que eu queria tanto expulsar, tanto cuspir, tanto fingir que não é parte de mim
Que essa coisa repugnante também sou eu
Ou, talvez, que justamente essa coisa não sou eu
É difícil distinguir quando está tudo tão entrelaçado
Respira fundo
Respira
Fundo
Tem tanta coisa aqui dentro e coça, coça, coça muito
Parecem minhocas se arrastando embaixo da minha pele, entrando e saindo da minha carne
Vermes dos grandes
Os dias bons ainda são maiores que os dias ruins, mas os dias ruins afogam
A maré sobe sobe sobe e eu não sou grande o suficiente a água bate na beira da boca
Muito cedo
Muito cedo
Eu queria trazer tranquilidade, eu gosto de ser porto seguro
Mas o mar hoje não está hospitalar
Por favor, não se afoga comigo
Não se afoga em mim
Esse projeto maluco de mim está sempre inacabado mas em constante reforma
Respira fundo
Respira
Fundo
O amanhã é um novo dia e eu posso começar de novo
E se der errado tudo bem
(vai ser difícil se convencer disso, mas, eu juro, vai estar tudo bem)
E chora, se for preciso
Uma gota a mais pro mar
Um turbilhão a menos pra mim