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A educação que estamos precisando

Cynthia Hansen
KOMONO | POR UMA VIDA MAIS CONSCIENTE
5 min readOct 22, 2020

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Foi por intermédio do Alex Bretas que eu conheci o Blake Boles, autor do delicioso livro ‘The Art of Self-Directed Learning’, que o Alex, muito generosamente, traduziu para o português (A Arte da Aprendizagem Autodirigida). Lendo a newsletter do Boles, que eu adoro, eis que ele me presenteia com um trecho maravilhoso do novo livro do Alain de Botton, criador da The School of Life — TSOL (A Escola da Vida, em tradução livre), que tem uma filial em São Paulo e faz um trabalho excepcional que eu classifico de filosofia terapêutica. Nas palavras deles mesmos:

A The School of Life se dedica a desenvolver inteligência emocional através da cultura. Oferecemos uma variedade de cursos, programas e serviços voltados para como viver bem e sabiamente.

O livro se chama The School of Life: An Emotional Education (algo como ‘A Escola da Vida: uma educação emocional’) e estou na torcida para que logo seja lançada a edição em português. Se você ainda não tinha ouvido falar da TSOL, vale a pena conhecer toda a bibliografia, canal do Youtube e atividades oferecidas pela Escola! (Sério!).

Eu amei o trecho que o Boles trouxe porque ele fala de educação e faz uma crítica com a qual eu concordo TANTO que me deu vontade de compartilhar na mesma hora (e aqui estou eu!). O texto original está em inglês, então o que segue é uma tradução livre, um pouco do Google Tradutor, um pouco minha (o Google Tradutor já melhorou muito, mas ainda carece de uma revisão no final…)

As sociedades modernas estão profundamente comprometidas coletivamente com a educação e possuem os mecanismos necessários para ensinar todas as profissões imagináveis e para cobrir todos os tópicos de investigação. Educamos pilotos e neurocirurgiões, atuários e dentistas de forma confiável; oferecemos aulas sobre as irregularidades do mais que perfeito no francês e livros sobre as propriedades condutoras de ligas metálicas…

No entanto, o que se destaca é o quão seletivos somos no que diz respeito aos tópicos que consideramos serem possíveis para nossa educação. Nossas energias são predominantemente direcionadas para assuntos materiais, científicos e técnicos, distanciando-se dos psicológicos e emocionais.

Muita ansiedade envolve a questão de quão boa a próxima geração será em matemática; já, em relação as suas habilidades no casamento ou sua bondade, muito pouca. Dedicamos horas excessivas para aprender sobre placas tectônicas e formações de nuvens, e relativamente poucas sondando a vergonha e a raiva. O pressuposto é que o insight emocional pode ser desnecessário ou, em essência, não ensinável, estando além da razão ou método, um fenômeno irreprodutível que é melhor se abandonado ao instinto e intuição individuais.

Somos obrigados a encontrar nosso próprio caminho rumo a nossas mentes inacreditavelmente complicadas — um movimento tão surpreendente (e tão sábio) como sugerir que cada geração deve redescobrir as leis da física por si mesmas. Nunca finalizamos o trabalho ímpar de nos tornar a mais extraordinária e valiosa das coisas, uma pessoa emocionalmente madura — ou, para colocar de uma forma mais simples, um adulto quase crescido.

Em uma sociedade ideal, se saberia que não são apenas as crianças que precisam de educação. Todos os adultos reconheceriam que inevitavelmente necessitam de educação continuada de tipo emocional e permaneceriam seguidores ativos de um currículo psicológico. As escolas dedicadas à inteligência emocional seriam abertas a todos, para que as crianças sentissem que estão participando dos estágios iniciais de um processo vitalício. Algumas aulas — sobre raiva ou mau humor, culpa ou consideração — teriam crianças de sete anos aprendendo ao lado de adultos de cinquenta e cinco, tendo-se verificado que ambas coortes têm maturidades equivalentes em uma determinada área. Em tal sociedade, a frase ‘Eu terminei a escola’ soaria extremamente estranha.

Senti na pele essa carência de educação emocional quando passei por questões difíceis na minha vida por conta da mistura do peso da vida familiar com a jornada acadêmica e profissional. Foi na terapia que consegui desenvolver o aprendizado necessário para administrar de forma emocionalmente mais madura as minhas reações diante do contexto que eu estava vivendo.

Foi um processo revelador, que me permitiu passar a enxergar também a fragilidade emocional das pessoas que vivem no meu entorno. Essa percepção me despertou uma profunda compaixão, um desejo imenso de, de alguma forma, estender minha mão e dizer: vem, existe uma forma melhor de lidar com tudo isso. Podemos aprender juntos.

Meu primeiro movimento foi passar a inserir meus novos aprendizados sobre inteligência emocional nas entrelinhas dos processos de aprendizagem que conduzo no Ensino Superior. E, claro: estudar, estudar e estudar sobre o assunto. Os resultados que pude perceber foram tão gratificantes que comecei a pensar em como expandir esse movimento que eu estava realizando para mais pessoas. Passei a usar minha rede social preferida, o Instagram, para dar destaque a conteúdos eu considerava úteis para gerar reflexões sobre o entendimento de si mesmo e das relações. Mais feedbacks positivos foram chegando e me estimulando a pensar em novas possibilidades.

Foi assim que a ideia de desenvolver um projeto voltado a criar e facilitar jornadas de aprendizagem (de todos os tipos e tamanhos) focadas em questões que pudessem auxiliar as pessoas nesse movimento de se repensarem e, por consequência disso, melhorarem seus contextos de vida, surgiu, no início de 2019. De passo em passo, em 2020 tomei coragem de tirar um primeiro experimento do papel: um grupo de leitura reflexiva para discutir um livro que faz com que repensemos nosso papel e nossos comportamentos como parte de uma grande sociedade global: ‘Sapiens: uma breve história da humanidade’, do incrível Yuval Harari.

Agora, dou mais um passo: focar em criar e curar conteúdos e desenvolver novos experimentos (as leituras de Sapiens ainda estão em curso!). E resolvi fazer isso assumindo que tenho um projeto e acreditando que ele tem potencial de somar na vida das pessoas: a Komono.cc. (Atualização: estamos em 2021 e este projeto ganhou mais cabeças e braços, se transformando num laboratório de aprendizagem que queremos apresentar ao mundo ainda este ano, O Heimo Lab).

Sei que o peso das responsabilidades do trabalho afeta muito nossa saúde mental e que, muitas vezes, acreditamos que precisamos aparentar sermos invencíveis para que as pessoas possam confiar e apostar em nós. E minha ideia aqui é fazer um contraponto a este pensamento. É a nossa capacidade de sermos humanos, de assumirmos nossas vulnerabilidade e, AINDA ASSIM, seguir em frente, que nos torna capazes de realizar cada vez mais.

Este texto foi publicado originalmente no LinkedIn.

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Cynthia Hansen
KOMONO | POR UMA VIDA MAIS CONSCIENTE

Publicitária, professora, apaixonada por aprendizagem, eterna aprendiz, co-idealizadora do Heimo Learning Lab e ligada em 220V! about.me/cynthia.hansen