Depressão entre Jovens na Coreia do Sul e o impacto do genero musical Kpop

Não é incomum apontarem kpop como um gênero menor, “coisa de menina” ou bobagem infantil e adolescente.

Esse tipo de crítica infelizmente também parte até de pessoas críticas da esquerda que veem o kpop apenas como “música degenerada” e fruto da Coreia do Sul capitalista.

Esse artigo pretende discutir um lado mais positivo do gênero e seu impacto em uma juventude, especialmente em temas como saúde mental.

Todos sofremos a pressão de se dar bem na escola, mas é perceptível como em muitos países asiáticos essa pressão ocorre de forma mais intensa por sua cultura e filosofia.

A realidade dos doramas, animes e mangás ambientados em internatos ou colégios de certa forma diz muito sobre um ponto significativo em todas as sociedades: é uma epoca de grande período de mudanças.

No estudo “Desigualdades socioeconômicas na depressão adolescente na Coreia do Sul: análise multi-nível” os autores investigam um crescente aumento de doenças como a depressão na juventude sul coreana.

Os pesquisadores optaram em estabelecer uma série de possibilidades de contextos e averiguar os níveis e índices de maior ou menor presença do problema.

Dois níveis foram estabelecidos para a análise geral: o individual e o coletivo.

O primeiro se referindo muito mais ao contexto pessoal dos estudantes e o segundo sobre o contexto escolar, sua posição geográfica, etc.

Os alarmantes dados ainda diziam sobre 90% dos adolescentes com tendências suicidas sofriam da doença depressiva.

No nível individual, a pesquisa estabeleceu parâmetros como performance acadêmica, hábitos de vida, contexto escolar, gênero, apoio familiar e condição socioeconômica. Os resultados da pesquisa exibiram a prevalência da depressão levando em conta vários fatores individuais e escolares.

Os Estudantes do gênero feminino demonstraram maior prevalência da doença do que estudantes do gênero masculino (43,96% vs 32,03%), enquanto o nível escolar era o de ensino médio e geralmente com baixo desempenho em sua vida escolar.

Fatores como pais solteiros também se mostraram mais constantes nos índices mais prevalentes, alunos com pais com menor escolaridade também demonstraram maior taxa de resposta.

Hábitos pessoais como fumar, beber, abuso de drogas/substâncias e dependência digital (internet, redes sociais) também se mostraram significativos nos índices.

É curioso como gênero aparece na pesquisa.

Um fator gira em torno de maior prevalência de depressão em meninas, as escolas mistas. Apesar de escolas para um só gênero ser uma tradição conservadora rígida, as escolas mistas no contexto sul-coreano surge como um agravante para a depressão de meninas, provavelmente por experiências como bullyng, assédio, etc.

Enquanto para meninos foi percebido que mães com maior nível de escolaridade são fatores centrais para o aumento dos índices, especialmente pela possível maior cobrança e pressão que serão exercidas nos estudantes do gênero masculino.

Apesar de todas as diferentes possibilidades, a pesquisa sintetiza que fatores socioeconômicos, cobranças familiares e contexto escolar são agravantes sérios para a depressão jovem.

Os autores ainda pontuam que a cultura confucionista da Coreia pode ser vista como um desses fatores influenciadores na ideia de auto-superação, entregar o melhor de si, sempre estar em primeiro, etc.

Os gosambyoung (exames de admissão para a universidade) são os grandes medos dos estudantes.

É interessante também que apesar de um maior agravamento aos estudantes mais pobres, as classes mais altas também não escapam dessa realidade.

Foi percebido altos níveis de depressão juvenil em condições financeiras mais altas, podendo assim ver que a pressão familiar é talvez ainda maior em estudantes com melhores condições financeiras.

A Coreia do Sul claramente ainda vive sob vários dogmas e tradicionalismos (como grande maioria das sociedades capitalistas, como o Brasil, etc) e seu sistema escolar não foge disso. Os exames, as intensivas horas de estudos e a alta pressão psicológica são ligeiramente comuns para a realidade dos estudantes.

Mas tem algo que a pesquisa não aborda, que é a competição no mercado de trabalho:

O mercado de trabalho na Coreia do Sul já é abordado com bastante frequência e se tornou algo famoso e característico do país. A pressão é gigantesca não por acaso, mas sim pela enorme competição entre quem procura emprego.

Os habitantes da Coreia do Sul foram expostos a um capitalismo catastrófico que chega a ser irracional, resultado da “modernização” do trabalho, que deixa de ser feito por pessoas para ser feito por softwares, como essas loja sem atendentes.

Junto à tendência de contratar somente pessoas extremamente capacitadas. É cada vez mais comum a romantização da obsessão pelo trabalho, e em como para ser contratado é necessário “viver, comer e respirar” aquilo que só deveria ser necessário fazer em horas comerciais.

É por isso que apesar de ser muito pior para estudantes mais pobres, as classes mais altas também não escapam dessa realidade. Foi percebido altos níveis de depressão juvenil em condições financeiras mais elevadas na pesquisa.

O kpop entra nessa discussão em vários sentidos. O primeiro é obviamente o público-alvo do gênero (apesar de sim, ter várias idades) ainda é o jovem.

As grandes empresas de música pensam o estilo voltado para esse nicho jovem e adolescente, a estética em si é bastante juvenil: presença digital intensa, letras bem escritas, produção bem-feita, visuais extravagantes e enorme contato com os fandoms são exemplos disso.

A saúde mental na indústria kpop é delicada, pois é também conhecido que vários idols sofrem de desgaste emocional por pressão e exploração das empresas. Nesse ponto que percebemos o centro da nossa discussão: não só os fãs de kpop (juventude) enfrentam problemas relacionados com saúde mental, como os próprios idols também passam por isso. No entanto, pesquisas já evidenciam que essa mesma juventude faz uso do próprio kpop para superar os próprios problemas.

No artigo “Managing Depression With Kpop Fandoms”, os autores perceberam que uma prática constante de fandoms e fãs de kpop é tornar o gênero uma ferramenta de ajuda em momentos difíceis e de saúde mental complicada. Por meio de entrevistas, a pesquisa percebeu que muitos fãs mencionam o kpop como um espaço que serve de suporte e distração contra pensamentos negativos, também causando conforto e alegria para si. Sabendo das dificuldades que os próprios artista enfrentam, muitos fãs não veem os idols apenas como figuras exemplares, mas também como amigos, que eles podem enxergar como suporte e motivação.

É importante ressaltar que não indicamos que pessoas com problemas de saúde mental não deixem de buscar ajuda profissional e médica, mas como a pesquisa demonstra, fazer uso desse mecanismo para suporte pessoal é um passo de superação de vários adolescentes e fãs e é uma realidade. A proximidade gerada com os idols e a experiência de “acompanhar a trajetória” de fato produzem uma sensação de familiaridade com eles, um espelhamento. Ao mesmo tempo em que adolescentes do mundo inteiro enfrentam problemas pessoais, nas casa e nas escolas e os idols enfrentam suas dificuldades com a indústria, sua vida pessoal e a escolha de ser um artista, a música aparece como um conjunto dos dois lados, enfrentando os problemas e desafios, juntos.

A proximidade gerada com os idols e a experiência de “acompanhar a trajetória” de fato produzem uma sensação de familiaridade com eles, um espelhamento.

Esperamos que esse material possa te dar uma ideia sobre o impacto que o Kpop tem nos jovens.

Fontes:

Socioeconomic Inequalities in Adolescent Depression in South Korea: A Multilevel Analysis: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0047025

JOEY TEO KAI TING (2019–04–19). MANAGING DEPRESSION WITH K-POP FANDOMS. ScholarBank@NUS Repository.: https://scholarbank.nus.edu.sg/handle/10635/157983

Blood Sweat & Tears: A Closer Look at the K-Pop Phenomenon: http://www.thembj.org/2019/11/blood-sweat-tears-a-closer-look-at-the-k-pop-phenomenon/

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