ChefTime: Aquisição estratégica do GPA
A ChefTime, startup que tem como objetivo facilitar o processo de cozinhar — transformando todos nós em Chefs — foi recentemente adquirida pelo GPA, após um ano de parceria. Informações sobre a aquisição e retorno da operação aos investidores não foram abertas ao público.
A operação marca a segunda saída de nosso portfólio para aquisição estratégica: no início de 2017, a startup captou investimentos com uma alocação liderada pelo Frederico Rizzo para uma rede de investidores estratégicos do Broota (antigo Kria).
Conversamos com a fundadora e CEO, Daniella Mello, sobre a sua experiência e a história da ChefTime, que está apenas começando.
Vem ver :)
Dani, pra começarmos: como nasceu a ChefTime?
Cozinhar é uma das coisas mais importantes que você pode fazer por você e sua família. É algo que envolve saúde e também é algo emocional. Será que conseguimos fazer as pessoas voltarem a cozinhar, mas de um jeito mais bacana e moderno? Essa é a pergunta que fizemos quando criamos a ChefTime, e que nos orienta até os dias de hoje.
Eu sempre fui apaixonada por alimentos, mas como entusiasta. E adorava me aventurar: cozinhava em casa, e aprendi muitas coisas no trabalho — fiz uma carreira na indústria de alimentos, fiquei por dez anos em uma multinacional, nesse setor. Em algum momento o mosquitinho do empreendedorismo me picou, e decidi empreender.
Comecei a empreender com moda e design e então em um churrasco com amigos da faculdade foi que surgiu a ideia de fazermos a ChefTime. Éramos três entusiastas de gastronomia, mas trabalhando em segmentos diferentes. Fizemos a Cheftime pensando em nós mesmos: será que conseguimos facilitar esse processo de cozinhar? Cozinhar é tão legal, mas será que poderia ser mais fácil?
Começamos com kits avulsos, que você podia encomendar pelo site. Aí entendemos que o brasileiro não tem o costume de se programar e encomendar as coisas — é algo de última hora. Então vimos os clubes de assinatura, que entram na rotina da pessoa — e era algo super recente que decidimos experimentar. E quando o modelo começou a evoluir, fomos aprendendo e mudando: saímos das receitas mais sofisticadas para apresentarmos comidas do dia a dia, sobremesas, drinks, e qualquer coisa relacionada a cozinha e gastronomia que podemos facilitar.
E como foi sua saga empreendedora? Quais os principais desafios que teve que superar?
Todo dia pro empreendedor é um desafio. E aqui, o ecossistema não joga tão a favor — desde cargas tributárias, trabalhistas, logística. Construímos um site próprio, e com experiência altamente personalizada, então tivemos um super desafio dessa parte tecnológica mesmo. Pra produção, temos uma fábrica de comida que precisa se reinventar a cada semana. E como encontrar fornecedor pra tudo isso? E entregar porta a porta pro cliente…
Resiliência é tudo! Você precisa ter um produto bom e gente boa pra fazer acontecer. Eu falo sempre que a vida do empreendedor é como um eletrocardiograma. No mesmo dia você acha que vai dar tudo certo, algo dá errado e no final do dia você precisa dormir e acordar com energia pra lutar de novo. Passamos por várias, um pouco de tudo aconteceu.
Pra um negócio dar certo você precisa acreditar muito e lutar, lutar lutar. Eu sempre falei que ia até a última gota de sangue com esse negócio. E sangue mesmo, não suor.
Mas são também vários pequenos momentos que te fazem acreditar. Desde o dia um, quando apresentamos nosso negócio no mercado, ninguém fechou a cara. Minha energia vem do feedback na rua, dos clientes. O desafio era: como melhorar ainda mais a percepção do usuário.
Acredito muito no que fazemos, e foram checkpoints que foram acontecendo e nos dando a validação: o primeiro investimento anjo, lançamento de site novo, assinaturas, receita do dia a dia e grandes parcerias que fechamos — de fazer receitas harmonizadas com cervejas da Ambev, com a RedBull, e várias outras marcas. E cada nova parceria que fechávamos ficávamos super empolgados, que uma marca acreditou e colocou seu nome em nosso produto. E pra selar, com a marca que a gente mais queria: o negócio com o GPA, que foi uma grande validação.
Como foram suas experiências como empreendedora no mercado de Venture Capital?
O mercado não era tão maduro como hoje, e acho que vai amadurecer muito mais. Eu vivi a evolução desse ecossistema, até chegarmos a empresas e grupos de anjos investindo — coisas que não existiam lá no início da Cheftime.
Minha captação via equity crowdfunding foi uma forma de usar a tecnologia para facilitar o acesso a investidores estratégicos, e com investimentos mais acessíveis. Eu fechei investimento anjo com um grupo que eu acreditava que tinham muita relação com o nosso negócio. Foram escolhidos a dedos.
Com esses investidores, busquei ser transparente e também envolvê-los. O smart money é um conceito lindo, mas é importante aprender a extraí-lo de verdade. Esse é o X da questão, por que todo mundo tem muita coisa pra fazer. Então eu criei comitês, e os investidores que se interessaram entraram de cabeça nisso e ajudaram mesmo — ou na parte estratégica, ou realmente abrindo portas. Inclusive, a conexão com o GPA foi introdução de um investidor.
Hoje, fico muito feliz de ver o mercado do jeito que tá — é cada vez mais comum você ver e falar de investimento anjo na rua. Estão surgindo novos caminhos, e eu acho que vamos viver um modelo novo de investir, diferente do padrão do mercado. O mercado evoluiu e talvez meu maior aprendizado é que não existem regras para como fazer o negócio — não precisamos seguir o playbook.
Como foi a negociação e entrada no GPA?
Sempre quisemos um investidor estratégico e de grande porte, e para nós um player do varejo seria o investidor ideal. Se pudéssemos sonhar com um parceiro ideal, seria o GPA: o maior, mais respeitado, e com mais fit com nossa marca.
Começamos a conversar com eles no ano passado. E precisamos amadurecer bastante nosso negócio pra chegarmos lá: os processos, atendimentos, caixa, marca, e a empresa no geral. Passamos por um processo de maturação pra conseguirmos negociar com um grupo como o GPA, para no momento da conversa podermos usar as forças do grupo para crescermos.
E o processo foi muito legal: o primeiro passo pra parceria foi ver se tínhamos objetivo em comum e um fit pra junção de forças. Entendendo que sim, fizemos a parceria e anunciamos ao mercado essa parceria estratégica e que o GPA tinha a opção de compra da Cheftime, de acordo com o andamento.
Começamos então a trabalhar juntos. Alinhamos times e esforços, e tivemos boas trocas:
De um lado trouxemos a inovação, postura de startups, agilidade pra trazer e testar novos produtos e conceitos, e a cultura de startup. Trouxemos pro grupo essa marca mais jovem e que fala de gastronomia, tem esse valor de querer ensinar o consumidor e estar junto com ele gerando experiências.
Do lado deles, recebemos inúmeros benefícios, como acesso a inúmeros PDVs, ajuda de áreas mega estruturadas que uma startup dificilmente teria acesso — do jurídico à operação da loja. Viver essa coisa do corporate innovation, essa junção da startup à grande empresa, foi super positivo. Mas ambos os lados precisam estar com a mesma vontade, abertura, e claro, transparência.
Foi um ano super importante e frenético pra sabermos a importância e impacto que um grupo desses pode ter, se aliando à startup.
Tínhamos um prazo de um ano e meio pra atingirmos um objetivo bem agressivo que estipulamos, e o sucesso foi tão grande que alcançamos em 6 meses. E por isso então decidimos firmar esse acordo de longo prazo e anunciar ao mercado que viramos sócios de fato.
Onde você vê a ChefTime no futuro?
Continuamos com o mesmo propósito — mais experiências incríveis em volta da mesa — , e temos grandes desafios: primeiro de desenvolver essa marca exclusiva, e ao mesmo tempo acelerar nossas soluções de alimentação, para trazermos mais praticidade pra sua cozinha, mas com comida de verdade. E com receitas sempre abertas pra você aprender a fazer. Eu estou a frente disso, como líder desse negócio agora no GPA, e super animada.
E você: como é que vê agora o seu papel ativo no ecossistema empreendedor?
Eu tenho duas startups que estou namorando investimento, como investidora anjo, e sempre muito próxima de outros empreendedores também. Eu fui empreendedora Endeavor de alimentos e bebidas, e lá no GPA temos iniciativas com Foodtechs, participamos do Cubo… Temos várias iniciativas de conversar, mentorar — vou estar sempre à disposição. Acho que depois de passar por tudo isso, de ter recebido tanto, tenho essa vontade de devolver.