Resale: Aquisição pelo BTG Pactual dá 1a saída para investidores crowd

Nas palavras do CEO Marcelo, o crowdfunding foi gatilho para a entrada do banco

Kria
Kria
7 min readJul 29, 2019

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Os fundadores, Marcelo Prata (CEO) e Paulo Nascimento (CTO)

A Resale, startup de gestão e venda de imóveis retomados, recentemente foi adquirida pelo banco BTG Pactual em uma operação que marca a primeira saída de todos os investidores do crowdfunding de investimentos — 29 pessoas, que entre 2016 e 2018, investiram um total de R$400mil no negócio.

Na operação de venda da Resale para o BTG Pactual foi feito o pagamento do “tag along” a todos os investidores e minoritários. Esse mecanismo garante que cada um receba, proporcionalmente a sua participação no negócio, o mesmo valor pago pelo Banco às ações dos acionistas originais e co-fundadores da startup.

Para a concretização da aquisição pelo BTG, além da aprovação da operação pelo Banco Central, todos os investidores precisaram estar de acordo com o negócio.

O ticket médio de investimento médio dos minoritários foi de R$ 8 mil na startup. O rendimento obtido por aqueles que entraram no negócio durante a primeira rodada chegou a 128%. Já os investidores que ingressaram durante a segunda rodada, há menos de 1 ano, saíram com 87%.

Sentado em seu escritório, em frente a uma parede azul onde lê-se o provérbio japonês “Caia sete vezes, levante-se oito”, o fundador Marcelo Prata compartilhou com entusiasmo a história da Resale, que além de muito cabelo branco (nas palavras dele, não nossa!), trouxe muitas boas conquistas.

Vem conhecer ;)

Olhando para trás, você consegue identificar quando foi o momento de virada da Resale? O momento em que você percebeu que tinha acertado no negócio.

Foram três momentos:

Eu sabia que a gente tinha acertado no negócio logo no lançamento da empresa, em 22 de julho de 2015, quando saiu uma notícia nossa na Exame. A audiência foi tão grande que o site ficou instável e aí eu tive que passar o dia inteiro lidando com os ruídos que isso gerou. O barulho foi tamanho que falamos: acertamos.

Um ano depois, o segundo momento foi quando trouxemos o banco Santander como cliente e começamos a validar o modelo. Aí eu sabia que não só tínhamos acertado na veia, mas também no modelo.

O terceiro momento, menos óbvio, foi quando tivemos que reinventar o negócio. Nascemos com um modelo de negócios de vender imóveis e em 2017 a política de vendas do banco Santander mudou, e com 6 meses de antecedência conseguimos ver que isso estava acontecendo e pudemos remodelar o negócio, passando a ser também uma plataforma B2B, licenciando nossa ferramenta para banco. Isso foi o que garantiu nossa sobrevivência.

Então foram esses três momentos: o primeiro que mostrou que de fato tínhamos descoberto esse mercado e que tinha demanda, o segundo quando os clientes entenderam o produto e que estávamos efetivamente oferecendo valor, e o depois foi mais interno, essa capacidade de se adaptar a uma mudança de mercado. A compra do BTG foi então a cereja do bolo.

A Resale não foi sua primeira experiência empreendedora, né?

A Resale não foi minha primeira experiência empreendedora, mas está sendo a mais bem sucedida.

Eu sempre empreendi, e a experiência mais recente, antes da Resale, foi com uma startup que eu criei lá atrás em 2011, chamada Canal do Crédito, que era uma plataforma de comparação de linhas de financiamento imobiliário. O negócio precisava de capital intensivo, então fizemos algumas rodadas com Venture Capital e sócios mais estratégicos. No final, eu acabei recomprando a participação de todos os sócios, e depois dessa experiência, decidi fundar a Resale.

Posso dizer que essa experiência anterior foi a minha escola para a Resale. Aprendi muito do que não fazer.

Quando a Resale nasceu, o plano era monetizar muito rápido, para o negócio poder parar em pé sozinho. Não queria um negócio de capital intensivo sem que a receita acontecesse. Isso talvez foi o alicerce para irmos ao crowdfunding. Chegamos com a visão de que precisávamos trazer o dinheiro e que muito rapidamente esse dinheiro precisaria se pagar ou monetizar — e isso era um compromisso que tínhamos com nós mesmos.

Vocês fizeram então duas rodadas via Kria. Como foi?

Um dos meus sócios à época, Yim Lee, foi quem me provocou para o modelo de captação via crowdfunding. Foi ele que me apresentou ao Kria, na época Broota, e a esse modelo de rodada.

Nossa primeira rodada estruturada foi com o Kria lá em 2016. Depois fizemos uma rodada privada, e trouxemos 3 investidores com cheques maiores, mas que também entraram no modelo de título de dívida. Por fim, em 2018 fizemos a terceira captação, que foi efetivamente a segunda oferta pública.

A primeira rodada foi um momento de validação. Tanto é que na época queríamos captar R$400mil, e no meio da oferta o Banco Santander entrou como cliente e com isso começamos a monetizar — até interrompemos a captação antes de chegarmos nos R$400mil por conta disso: validamos o nosso modelo no meio da captação.

Nas próximas rodadas, tanto a privada quanto a pública, já estávamos tracionando e o objetivo era expandir mesmo. Estávamos no radar com outros grandes projetos e sabíamos que seria necessário fazermos investimentos mais pesados. A lógica era: já fizemos, já entregamos, agora precisamos acelerar mais o negócio.

E essa última rodada, em 2018, posso dizer que foi o gatilho para o BTG entrar.

Por mais trabalhoso que seja o processo de captação, você entra no modo RoadShow. No dia a dia você não está nesse modo, você está no modo produção e entrega. Quando você vai captar, obrigatoriamente parte do seu dia é dedicado a trabalhar em atrair investidores.

Nós já tínhamos relação com uma empresa que foi adquirida pelo BTG, a Enforce, e foi em função de abrirmos a segunda rodada que a Enforce nos chamou para uma conversa.

Além do BTG, estávamos conversando com outro grupo. Tivemos uma espécie de rally pelo nosso negócio, e o BTG fez uma oferta nos 45’ do segundo tempo, quando eu estava para assinar o contrato com outro grupo.

Inclusive, usamos o crowdfunding para formalizarmos. Como tínhamos duas ofertas, falamos para a Enforce: “Você quer exclusividade? Então complete a captação”. E no fim, a Enforce completou nossa rodada com o Kria.

O crowdfunding foi o gatilho, e também o meio que achamos para provar que a oferta era firme. Sem o crowdfunding, essa operação teria sido mais difícil.

Suas rodadas no Kria foram lideradas pelo investidor Luciano França. Ter um investidor à frente de sua oferta fez diferença?

Como empreendedor, foi muito importante termos um investidor como o Luciano. Pela participação, nível de engajamento que ele teve como investidor líder.

Uma decisão que tomamos lá atrás, que considero fundamental para quem faz esse tipo de captação, foi desde o começo criarmos um conselho consultivo. O Luciano teve uma cadeira, e esteve muito perto da Resale. Ele abriu várias portas, foi bastante hands on, tanto que na segunda rodada nós quisemos ter ele liderando novamente.

A vantagem de se ter um conselho é ter pessoas com experiências diferentes da sua. O Luciano é um cara do mercado financeiro, que passou pelo mercado imobiliário, pela sua expertise financeira, ele participou inclusive no início das conversas com o BTG.

Como foi esse processo de aquisição do BTG?

O processo com o BTG, até assinar o acordo de investimentos, durou 6 meses. Depois tivemos que passar ainda pelo BACEN. Ficamos de julho do ano passado até novembro para assinar o acordo de investimentos, e depois até abril para o Banco Central aprovar.

Se você pegar uma foto minha de 2 anos atrás, vai ver a quantidade de cabelo branco que me apareceu. É um processo importantíssimo, mas não é trivial.

A venda pro BTG é uma venda estratégica. Meu sócio, Paulo Nascimento e eu não estamos saindo do negócio, continuo como CEO e ele como CTO da empresa. temos bastante coisa para fazer, agora com a capacidade de multiplicar o impacto na enésima potência.

E você, como é que vê agora o seu papel ativo no ecossistema empreendedor? E até ouso perguntar: como investidor.

Quando você sabe o que se vive como empreendedor, é natural começar a olhar para outros empreendedores.

A experiência de mundo real é sem dúvidas muito importante. Ainda mais no cenário que temos, de um ecossistema que pode ficar inflacionado com vários players querendo entrar. E nós estamos vendo movimentos que são super válidos, como o do Softbank por exemplo, que daqui a pouco compra até a Colômbia, porque compra todo mundo. O grande perigo disso é distorcer a percepção de empreendedores que estão iniciando, de que eles vão dar essa porrada e ficar milionários.

É muito trabalho, é muita validação de negócio, entrega no dia a dia, então sem dúvida quero trazer mais pro mundo real um pouco do que vivemos aqui.

E fazer isso com pouco: com mentoria, com conversas e com pouco dinheiro você consegue ajudar. E foi o nosso caso: um pouquinho, de um monte de gente, foi o que nos trouxe até aqui.

A primeira coisa que fiz depois dessa operação foi abrir um negócio de Venture. Hoje vou também navegando no Kria e monitorando as novas oportunidades que tenho para participar.

Muito obrigada por compartilhar sua história. Uma história muito legal, muito inspiradora, e muito sincera. Isso é o mais importante, não é fácil, mas é gratificante. A última pergunta que fica: onde você vê a Resale no futuro?

Em um RoadShow, um investidor uma vez nos perguntou o que tornaria a Resale o próximo unicórnio. Na época, eu falei: “Tem tanta coisa para fazermos antes de chegar lá…”. Mas agora pensar na Resale como um unicórnio — não na festa, mas na geração de valor mesmo, sustentável, é algo bem factível.

Estamos com o parceiro certo agora para fazer história no mercado imobiliário. Temos o potencial muito grande, agora com o banco.

Estamos aqui torcendo pelo sucesso de vocês. Nossos investidores tiveram uma saída, mas vocês não saíram de nosso portfólio e de nosso coração. Estaremos sempre acompanhando.

Obrigado! Saiba que o carinho é recíproco, contem conosco para o que precisar, porque temos uma história que extrapola o que a gente fez. Sou muito grato.

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