Por que as healthtechs são a próxima grande tendência

Gabriel Bonela
Kria
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7 min readAug 9, 2022
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Startups existem para resolver problemas da sociedade utilizando tecnologia como meio de criação de valor. Diversos são os exemplos em nosso contexto de mercados sendo dramaticamente alterados pela atuação delas.

Caso emblemático é o do setor financeiro, que passou por uma verdadeira revolução a partir da ascensão das fintechs — com empresas como Nubank e Stone chegando à bolsa de valores e se tornando sinônimos de seus segmentos. O sucesso das startups desse mercado se deve a uma soma de fatores: um mercado enorme e concentrado, mas com empresas que entregavam experiências questionáveis e pouco adaptadas à digitalização dos clientes.

O mesmo que aconteceu com a área financeira pode ser visto em outros setores. E, pelo título do texto, talvez você já desconfie que um desses mercados-alvo da transformação é o de saúde. Ao longo desse texto, te explico o que está por trás dessa visão.

A indústria

O mercado de saúde brasileiro é o oitavo maior do mundo. Traduzindo em números, estamos falando de uma indústria que movimentou R$ 710 Bilhões no ano de 2019 (dados pré-pandemia). Tal valor representa cerca de 9,5% do PIB, sendo uma das indústrias de maior relevância na economia nacional.

Na configuração atual dos sistemas de saúde no Brasil, temos três formas principais de acesso. A primeira é via SUS, um dos maiores sistemas universais de saúde pública do mundo, com diversas características positivas, mas com ineficiências crônicas e com uma oferta muito aquém da demanda da população. O sistema de saúde pública no Brasil representa pouco mais de 40% do total do setor.

A segunda e a terceira forma se dão por meio do acesso privado, existindo duas alternativas: ou indivíduos e famílias contratam algum seguro saúde ou pagam a cada utilização de serviços e produtos específicos.

Apesar do mercado de saúde privado representar cerca de 60% do PIB desse setor, sua penetração na população é relativamente baixa. Segundo dados da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), cerca de 49 milhões de brasileiros (pouco menos de um quarto da população) utilizam algum seguro saúde. O gráfico abaixo mostra a evolução do consumo desses serviços.

Fonte: Banco Inter Research

Nessa linha, um dado pertinente diz respeito à origem dos planos. Cerca de 80% dos beneficiários são de planos coletivos empresariais. Isso indica uma forte correlação com a economia formal — e também um desafio extra: uma vez que os gastos com a contratação de serviços de saúde tendem a perder apenas para a própria folha de pagamento na lista de maiores linhas da estrutura de custo das empresas brasileiras.

Desafios do tamanho do mercado

A pressão pela redução de custos na cadeia de valor da saúde tem sido um fenômeno observado globalmente. No Brasil, a inflação do setor é medida pelo VCMH (Variação do Custo Médico Hospitalar). Observando os dados, o indicador apresenta patamares bem acima da inflação medida pelo IPCA e, ao mesmo tempo, acima dos reajustes autorizados pela ANS. Ou seja, os repasses ao consumidor vem sendo menor do que o crescimento dos custos, demonstrando a centralidade da questão para os players.

O gráfico abaixo mostra a evolução desses indicadores:

Fonte: XVI Research

Diversas são as explicações sobre a causa desse sintoma, mas todas elas convergem para os seguintes pontos:

  1. Distorção de incentivos devido a um modelo de remuneração baseado em volume, ou seja, os incentivos trabalham para o crescimento da demanda de modo que muito dos exames e internações podem ser desnecessários.
  2. Falta de atenção primária, uma vez que o setor é fortemente concentrado em hospitais e cuidados paliativos. Isso significa que o foco se dá em curar doenças, e não evitá-las.
  3. A transição de um carácter de doenças agudas para um perfil de doenças crônicas. Tal tendência foi documentada nos países desenvolvidos, implicando no aumento de gastos. Segundo a consultoria internacional Bain, doenças crônicas custam sete vezes mais do que doenças infecciosas.

Em busca de eficiência operacional, o setor vem passando por um processo de consolidação. Os movimentos essencialmente buscam ganhos de escala e redução de custos fixos. Isso se dá por meio de uma estratégia de verticalização, na qual as operadoras de saúde buscam incorporar provedores dentro do próprio ecossistema.

Principais elementos da cadeia de valor do mercado de saúde

A oportunidade à frente

Olhando para as características estruturais do setor, vemos uma forte pressão de redução de custos em um contexto de pouca atenção em tratamentos preventivos. Nesse sentido, visualizamos uma oportunidade com o potencial impacto de melhorar a vida de milhões de pessoas, criar valor na cadeia produtiva e impactar positivamente a sociedade.

As chamadas Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) são responsáveis por 72% das mortes evitáveis no mundo, sendo que no Brasil, estima-se que 52% da população seja acometida com pelo menos uma enfermidade. São cerca de 41 milhões de pessoas acometidas com obesidade, 38 milhões com hipertensão arterial e 17 milhões de diabéticos.

Tais doenças são muito expressivas dentro dos gastos nos Sistemas público e particular de Saúde. Apenas no SUS, estima-se que os tratamentos de doenças cardiovasculares e diabetes representam um custo de mais de R$ 45 bilhões, de acordo com os dados mais recentes disponíveis, de 2015. No âmbito da iniciativa privada, na qual os dados são disponíveis, o custo de um paciente crônico é seis a sete vezes maior do que o de um paciente normal.

Mas onde está a oportunidade?

O grande valor a ser destravado está no tratamento contínuo, ou seja, acompanhar os pacientes crônicos de modo a melhorar a qualidade de vida deles. Com pacientes mais saudáveis, menores as chances de internações e tratamentos emergenciais, o que diminui a pressão de custos de toda cadeia.

À medida que tais custos evitáveis são desinflados, temos reduções de custos consideráveis para os cofres públicos e uma menor pressão inflacionária no âmbito da saúde privada.

Acreditamos que muito valor pode ser criado endereçando o impacto financeiro da falta de atenção primária de doentes crônicos.

O que já deu certo?

O impacto que os doentes crônicos e a falta de atenção primária causam com pressões de custo na cadeia não são uma exclusividade brasileira. No mercado norte-americano, estima-se que o impacto financeiro seja de mais de USD 100 Bilhões.

Dada a magnitude desse problema, os EUA foram o berço de alguns cases interessantes de empresas endereçando tal problema, sendo eles:

  1. Livongo.

A Livongo é uma empresa americana criada em 2008 com o objetivo de melhorar a vida dos pacientes crônicos. Por meio de uma solução integrada de hardware, software e inteligência artificial, a empresa entrega uma terapia holística que permite um acompanhamento contínuo dos doentes crônicos, empoderando-os.

Inicialmente endereçaram diabetes, expandindo para doenças cardiovasculares e acompanhamentos recorrentes de indicadores. O segredo deles foi apostar na experiência dos clientes, criando não apenas um produto funcional, mas também encantador.

A empresa seguiu a trilha do venture capital levantando alguns rounds e em 2019 fez o seu IPO na Nasdaq. Após um tempo listada, ela foi adquirida pela Teladoc em 2020, em uma operação de US $18,5 Bilhões.

Além dos pontos já mencionados, um importante fator para o sucesso da Livongo foi o seu modelo de negócios. Por meio de uma engrenagem B2B2C e um modelo de receita recorrente a Livongo criou um eficiente modelo de go-to-market vendendo e cobrando na ponta B2B, mas entregando o valor para o consumidor. Esse modelo propiciou um rápido crescimento, uma vez que a cada novo cliente, como um provedor de saúde, milhares de novos usuários eram acoplados.

2. Omada Health

Com uma solução semelhante a Livongo, mas com um forte elemento de coaching, temos o recente unicórnio Omada Health. Baseado no uso de dados para o tratamento, a startup traz como elemento de diferenciação o uso de profissionais para o suporte dos clientes. A rodada series E foi concluída no início do ano, na qual foi captado US $192 M.

Os exemplos não são apenas estrangeiros, a criação desse mercado no Brasil também já se iniciou. Vamos a elas:

  1. Klivo

A Klivo desenvolveu um sistema de tratamento contínuo e acompanhamento para doentes crônicos. Por meio do seu aplicativo, a solução busca entregar mais qualidade de vida, engajando os pacientes no acompanhamento dos indicadores. No ano final do ano passado, a empresa recebeu um aporte de R$ 45 Milhões em sua rodada series liderada pela Valor Capital. Soma-se ao board a Tau Ventures, Canary e Norte Ventures.

2. Axenya

De origem Uruguaia, mas com atuação no Brasil, a Axenya busca desenvolver soluções para gerenciar, prevenir e tratar doenças crônicas por meio do pretexto de “software como tratamento”. No ano passado, a startup levantou US $3 Milhões, em uma rodada que contou com a Igah, a Big Bets e a Alexia Ventures.

Os exemplos latinoamericanos mostram que não estamos sozinhos em acreditar nessa oportunidade de mercado e que há um grande potencial a ser explorado.

What ‘s next?

Estamos convictos que a transformação ocorrida no mercado norte-americano está sendo iniciada aqui. As condições para o crescimento desse mercado são claras e a oportunidade de criação de valor e de melhoria na qualidade de vida de milhões de pessoas é latente.

Dito isso, temos o prazer de apresentar a Lincon, uma startup brasileira que atua com medicina preventiva para doentes crônicos (diabetes, hipertensão arterial e obesidade) e pré-crónicos, por meio de uma plataforma de terapia digital e personalizada (TDP). Composta por vários profissionais da saúde (nutricionista, enfermeiro, educador físico, psicólogo e médico), a plataforma estabelece um acompanhamento diário do paciente e com feedbacks em tempo real. Para saber mais sobre a Lincon e por que acreditamos que a empresa reúne condições para aproveitar o potencial do mercado de saúde no Brasil, acesse a página da oferta em nosso site.

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