Por favor opine

Christian Gurtner
Escriba Cafe
Published in
5 min readOct 11, 2016

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Ouvi, recentemente, que a internet abriu as porteiras para a boiada, resultando em muito bullshit (expressão em inglês que significa "besteira", porém cuja tradução literal é "merda de boi") — eu sei, explicar uma analogia cômica é como explicar um piada: não devia nem ter contado, desculpe.

O que a frase acima quis dizer é que hoje a internet está repleta de informação — aliás, "repleta" é eufemismo. Um rápida busca no Google pela letra "a" resulta em mais de 25 bilhões de páginas.

Vamos parar e pensar um pouco sobre esse número. São 25 bilhões de páginas contendo texto em alfabeto romano. Caso o Google não retorne resultados em outros alfabetos que não possuam a letra "a" ou correspondentes, esse número poderia até dobrar. Mas pela dúvida, continuemos nos 25 bilhões (se alguém souber explicar isso, faça o favor nos comentários). Essas são as páginas que estão disponíveis para serem encontradas pelos mecanismos de busca. Estima-se que a quantidade de páginas que não aparecem nos mecanismos de busca, como a maioria dos fóruns e redes sociais fechadas, seja muito, muito maior — deixe-me ressaltar novamente o "MUITO".

Você é enganado todos os dias

Seria necessário um extremo otimismo e uma fé xiita na raça humana para crer que todo esse conteúdo disponível na internet seja benéfico, de qualidade, verdadeiro ou útil. Não, obviamente não é nenhuma dessas opções.

Tirando toda inutilidade, mentira deliberada ou conteúdo falso ou ruim, enfim, toda a bullshit da rede, sobraria uma esmagada minoria de conteúdo na internet.

Escrever ou gravar qualquer coisa sobre qualquer assunto é muito fácil. Tão fácil que praticamente todos com acesso à internet fazem, já o fizeram ou, certamente, irão fazer. O que é difícil é pensar, pesquisar e evitar ao máximo passar informações falsas ou exageradas.

Quer um exemplo? Escrever um artigo como esse de forma direta, ou seja, digitar tirando (ou, quem sabe, "chutando") todas as informações da minha cabeça e publicar sem revisão levaria menos de 15 minutos. Porém, mesmo em um texto opinativo como esse, sempre que vou falar algo que está além da mera opinião, pesquiso antes e checo as informações - mesmo se for algo que tenho "certeza" saber - resultado em três ou mais horas de trabalho (ei, tem a pausa para o café também, né?).

Para a grande maioria dos "geradores de conteúdo" da internet, o importante é impressionar, gerar cliques e/ou ganhar alguns centavos com banners. E para isso, na cabeça deles, sensacionalismo e quantidade é mais "rentável" que qualidade. E acredite: muitos deles nem fazem isso propositalmente. São, talvez, ingênuos de acreditar nas informações de qualquer blog e preguiçosos ao ponto de não checar as informações.

Há também os maliciosos, que inventam notícias ou geram sensacionalismo para prejudicar adversários, acumular cliques, enganar criminosamente as pessoas ou simplesmente porque são "babacas".

Assim, acredite, você já foi e, possivelmente, ainda é enganado sempre que navega pela internet.

Mas você também engana. Se você compartilha ou curte posts com notícias sensacionalistas do facebook sem checar a veracidade antes, é quase certo que você enganou boa parte de sua timeline — várias vezes. E entenda que isso pode ser muito maléfico.

Com essa enorme maioria de bullshit na internet ouve-se muito que "nem todos deviam poder escrever o que pensam". Apesar de me deparar diariamente com horrores da ignorância e estupidez na internet posso dizer que, ainda sim, é melhor todos terem voz. Nunca se sabe de onde pode surgir algo genial ou revolucionário. Até entre os mais idiotas dos posts, algo pode acabar surgindo. Já imaginou se a internet e redes sociais sempre tivessem existido? É possível que muita coisa interessante teria saído até mesmo de posts estúpidos.

Ao reprimir qualquer tipo de manifestação (dentro da legalidade) reprimimos também uma probabilidade maior de surgir algo de grande interesse. Se todos tivessem receio de opinar, a internet, com certeza, teria muito menos baboseira mas, também, muito menos genialidade. E deixando claro que isso se refere à opinião e não a pessoas que tentam passar, deliberadamente, mentiras como verdade, ofensas ou sensacionalismo falso como notícia.

No entanto poderíamos deduzir que, quanto mais baboseira, mais difícil será de achar e até identificar conteúdo de qualidade. Mas a tecnologia e o ser humano estão ajudando nesse garimpo.

Os algorítmos criados pelos desenvolvedores dos mecanismos de busca, tentam, cada vez com mais precisão, encontrar e trazer os resultados com mais relevância e confiabilidade - ainda não é o ideal, mas estão progredindo - E há também o garimpeiro humano: pessoas ou grupo de pessoas que estão sempre buscando e filtrando conteúdo de qualidade pela internet e disponibilizando para os usuários. E há também os próprios produtores de conteúdo de qualidade. Todas essas pessoas e/ou organizações acabam por criar uma certa credibilidade e confiança entre os leitores, espectadores ou ouvintes, que os terão como uma espécie de referência.

Mas mesmo aqueles que aparentemente não estão acrescentando em nada, com uma linha de texto abstrata ou uma crítica infundada acabam por se tornarem importantes para alguém em algum lugar. Uma simples frase ou um tweet de alguém entediado podem servir de inspiração para alguém em algum lugar, criar algo genial.

Portanto, escreva, opine e comente. Só não tente passar como fato sua opinião ou como verdade sua imaginação. Aí você estará enganando as pessoas.

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Christian Gurtner
Escriba Cafe

Escritor, piloto comercial, produtor e fundador do podcast Escriba Cafe em Löwenttur.