Por quê precisamos de mistérios?
Há alguns dias correu a notícia de que o Manuscrito de Voynich finalmente foi decifrado (apresentado em um artigo anterior no Escriba Cafe).
Trata-se de um manuscrito medieval com imagens estranhas e textos codificados — ou um idioma desconhecido — , chamado também de “o manuscrito mais misterioso do mundo”, e que, durante várias décadas tem sido estudado por inúmeras pessoas que tentam entendê-lo e decodificá-lo.
E ele realmente encanta. Imagens de mulheres nuas banhando-se em uma estranha piscina com líquido verde, plantas desconhecidas e até supostas representações inusitadas de nossa galáxia. O que seria aquilo? Representação de outros mundos? Prova de que aliens nos visitaram? Ou uma civilização que passou despercebida pela história?
Porém,agora ele é desvendado acabando com todo o encantamento, toda a magia, toda a empolgação. De acordo com Nicholas Gibbs, pesquisador e autor do artigo, o manuscrito nada mais é do que um guia para a saúde feminina. E não está codificado, e sim abreviado.
Apesar de muitos se oporem a essa “solução” do mistério - inclusive renomados historiadores - algo toca lá no fundo: o tempo é igual para tudo. Assim como nós, que ao crescermos, começamos a nos desencantar com certas coisas: o que era mágico se torna normal, o que era grande se torna pequeno, o que era empolgante agora é entediante… e isso se aplica em larga escala às civilizações, às crenças… assim como se foram Seth, Osiris e todo o panteão egípcio, os deuses gregos e suas cópias romanas e, assim como, também, será, em breve, com a mitologia cristã.
Às vezes gostamos de nos agarrar ao fantástico e ao místico, dando assim uma temperada em nossa existência, nos permitindo admirar mistérios mais próximos, mais palpáveis, e não àqueles abstratos, impalpáveis e longínquos enigmas do universo: o que havia antes do Big Bang? A ciência vai resolver isso.
Saber que há algo enigmático que, ao ser solucionado, poderá revelar algo surpreendente, tão próximo de nós, cria uma certa emoção, como temos ao assistir filmes de aventura e mistério — só que na vida real. Mas isso só é emocionante enquanto o mistério não é desvendado, como um truque de mágica.
Será que um dia, daqui a séculos ou milênios, todos os mistérios e enigmas terão sido decifrados? O que será de nós?
