Uma história de 12 anos de Escriba Cafe

Christian Gurtner
Escriba Cafe
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5 min readMay 29, 2017

Era uma fria manhã de maio. Já não me lembro se estava cinzenta ou se o céu azul trocava elogios com o sol de outono. Provavelmente aquele dia de 2005 estava cinza, pois é o cenário em que a inspiração surge como um fantasma bíblico e me faz querer criar algo.

Com um computador sem nada de mais e um headset de terrível qualidade gravei algo que poderia ser considerado o primeiro protótipo do Escriba Cafe.

Eu não sabia nada de gravação ou edição de áudio. Estava com uma ideia e uma vontade e assim me virei para publicar e fazer o tal do “feed”.

Sinceramente eu não sabia o que esperar. Pensei que gravar algo seria uma boa e gratuita forma de divulgar meu livro. Mas algo aconteceu: eu recebi um comentário.

Ao abrir a página do Escriba Cafe e ver um comentário no post daquele protótipo mal feito, e o que foi mais espantoso, com um elogio, algo me tocou. Alguém me ouvia.

Eu tinha um ouvinte e era tudo que eu precisava. Se há alguém no mundo que realmente quer ouvir o que você tem a dizer, não fique calado. Isso é raro.

Assim comecei a elaborar o que viria a ser o Escriba Cafe. História! Eu já havia viajado um pouco e gostaria muito de contar a história dos lugares que visitei, queria opinar e filosofar sobre a trilha do homem nesse planeta e pesquisar e descobrir sobre a história de tudo aquilo que me atraía e eu ainda não conhecia. E assim eu poderia compartilhar, pelo menos, uma pessoa. Alguém que realmente queria me ouvir. E quem sabe outros também não viriam?

Se há alguém no mundo que realmente quer ouvir o que você tem a dizer, não fique calado. Isso é raro.

Assim saía o primeiro episódio do Escriba Cafe, mas que, por alguma razão mística, levou o número 7. Essa confusão pairou por vários anos entre os ouvintes: o episódio 7 é, na verdade, o episódio 1. É que contar a partir do um não estava interessante.

Nele eu contava, dentre outros, a história da Catedral de Colônia, a Kölner Dom. Eu passei incontáveis horas num auto-aprendizado diante do editor de áudio pois eu queria porque queria fazer um trecho em que desse a impressão de que eu realmente estava gravando de dentro da catedral. Não me lembro se o resultado ficou muito bom. Mas foi o suficiente para eu ganhar alguns outros ouvintes. Dentre eles o Ricardo Macari, que tinha um podcast no qual divulgou o Escriba Cafe. E assim outros podcasters gostaram e também espalharam a notícia.

Creio que o Escriba Cafe ganhou essa divulgação pois era o único — ou um dos únicos — podcast brasileiro, na época, que não tratava de tecnologia. Não só por isso, mas principalmente graças ao apoio de outros (que mantenho imensa gratidão) como Bia Kunze, Maestro Billy, Eddie Silva… (e a lista é grande.. desculpem-me os que não citei).

O Escriba Cafe começou a ganhar mais e mais ouvintes e cada vez mais eu me sentia na obrigação de fazer episódios cada vez melhores, tanto na pesquisa quanto no roteiro, gravação e edição.

Com o passar dos anos, muito dinheiro foi gasto com equipamentos, aplicativos e, principalmente tempo. Pesquisar, escrever, gravar, editar e publicar um episódio, nesse trabalho de um homem só, passou a me tirar quase duas semanas de tempo.

Mas o retorno veio em formato de reconhecimento: por dois anos seguidos foi eleito o melhor podcast do Brasil e ficou entre os 11 finalistas do mundo pela Deutsche-Welle! Isso foi uma enorme alegria.

No entanto, Escriba Cafe ficara caro demais. Por não ser um podcast com milhões de downloads por episódio e conter uma temática menos “pop”, eram poucos os que procuravam o E.C. para patrocinar ou anunciar. E também o anúncio tem que ser legal, harmônico com a temática (como foi o do Eduardo Sales com a VirtualNet no episódio sobre a Somália) e ter credibilidade, pois estou indicando algo quando anuncio.

E assim a época negra chegara. Eu precisava escolher entre projetos profissionais ou o E.C. para dividir o tempo. Uma hora no E.C. era uma hora sem ganhar dinheiro. E o Escriba já gera gastos por si só. Então as publicações ficaram mais escassas… tendo um episódio a cada dois, três, quatro meses, ou quando fosse que eu tivesse tempo para produzir.

O que fazer? Cobrar para ouvir? De forma alguma. Mudar a temática ou o estilo para entrar no mundo “pop”? Nunca.

Mais ou menos nessa época, foi criado um grupo de assíduos ouvintes do Escriba Cafe que, sem pedir nada em troca começaram a se reunir para dar ideias, discutir projetos e ajudar por trás dos bastidores no E.C. Apesar de o podcast em si continuar sendo um trabalho executado só por mim, eles ajudam em todo o resto que envolve o E.C., como, por exemplo, o Mug do Escriba Cafe. Formava, então, o Conselho de Löwenttur.

“Tente um crowdfunding com os ouvintes” disse um membro do Conselho. Ok. Apesar de cético, fui lá. Criei o Patreon do Escriba Cafe para começar a aceitar doações mensais dos ouvintes.

Eis que para minha surpresa, dezenas de pessoas começaram a doar algum valor. Aquilo me tocou. Pessoas estavam realmente pagando para o Escriba Cafe continuar sendo produzido. E não era algo como um ingresso, onde você só ouve se pagar. Não. Mesmo podendo ouvir de graça, algumas pessoas estavam tirando dinheiro do bolso para apoiar o Escriba Cafe, algumas até um valor relativamente alto. E isso foi algo que eu jamais esperaria e que me fez perceber que existem pessoas por aí que gostam tanto do Escriba Cafe quanto eu.

Não é um valor alto, mas já dá para produzir aproximadamente um episódio por mês. Um dia, quem sabe, não conseguiremos mais e mais conteúdo?

E assim, graças àqueles que apoiaram no início, aos que ajudaram divulgando, doando ou palpitando, o Escriba Cafe continuou sua trilha.

Hoje o Escriba Cafe completa 12 anos de idade, entrando em seu Anno XIII (o mais misticamente esperado) e esse post foi feito para agradecer todas essas pessoas. As pessoas que ouvem, as que comentam, as que participam ou apoiam de alguma forma; Àqueles que ajudam financeiramente, como os patronos que ainda ajudam e aos que já ajudaram; aos membros do conselho de Löwenttur; à família, sem a qual o Escriba Cafe nunca teria sido criado; enfim, obrigado às dezenas de milhares de pessoas que, de alguma forma, fazem parte da história do Escriba Cafe.

Obrigado, obrigado, obrigado, obrigado, obrigado, obrigado, obrigado, obrigado, obrigado, obrigado, obrigado, obrigado.

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Christian Gurtner
Escriba Cafe

Escritor, piloto comercial, produtor e fundador do podcast Escriba Cafe em Löwenttur.