Foto: Rafael Moura

Shopping dos Desejos

O Tabuleiro
O Tabuleiro
Published in
6 min readOct 28, 2015

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por Gabriela Navalon e Rafael Moura

Lingeries de um lado, fantasias de outro, óleos, velas, jogos. Para os mais avançados, próteses e vibradores que vão desde produtos mais discretos a até aos maiores, cheios de tecnologia, com vibrações de diferentes níveis. Brinquedos inusitados de partes intimas femininas e masculinas, que vibram, mexem e brilham com suas luzes coloridas.

Entrar pela primeira vez em um sex shop não é tão assustador quanto imaginamos. Ao mesmo tempo que tem ar discreto na parte de fora, por dentro esse local há um mundo a ser descoberto.

Engana-se quem pensa que um sex shop é feito apenas de diferentes próteses de órgãos genitais. Lá, é possível encontrar lingeries diferentes e sensuais, fantasias como de enfermeira ou policial, óleos que têm sabores ou mesmo óleos para massagem, velas com diferentes cheiros e jogos eróticos.

Justamente por causa da crise econômica no País, esse mercado está crescendo. De acordo com a Abeme (Associação Brasileira de Empresas do Mercado Erótico) o setor cresceu 8% em 2014. A Associação acredita que, por não estarem dispostos a gastar muito dinheiro com motel, jantares, cinema etc, os clientes estão gastando com esses produtos de sex shop, que podem ser usados em casa e duram por algum tempo.

Isso também aconteceu durante a crise dos Estados Unidos, em 2008, quando o mercado erótico americano cresceu por conta das pessoas evitarem eventos externos e preferirem ficar em casa. O novo estilo de vida austero potencializou o mercado erótico. “Hoje, temos muitos produtos baratos, bem mais do que antigamente. Mesmo nos momentos de crise, podemos contribuir com o casal. Então, o trabalho que o mercado erótico está fazendo no Brasil não está sendo tão impactado pela crise quanto outros negócios”, explica Paula Aguiar, presidente da Abeme.

“Mesmo na crise podemos contribuir com o casal”

De acordo com a Associação, hoje existem 11 mil pontos de venda de produtos eróticos em todo o Brasil. Só em São Paulo são 2.310 lojas físicas, enquanto 1.600 são e-commerce, blogs ou páginas com sede no estado paulista.

Os produtos mais procurados nacionalmente, tanto nas lojas físicas quanto nas da internet, são os cosméticos como gel. As mulheres são as maiores consumidoras e tentam compensar sua líbido e a sensualidade — o que significa que elas também procuram lingeries. Mesmo nesse momento de recessão econômica, a Abeme espera que o mercado erótico lucre 345 milhões só em São Paulo. Enquanto isso, o comércio varejista acumulou, entre janeiro e agosto deste ano, 3% de retração, de acordo com pesquisa do IBGE.

Apesar do momento bom em que vive esse tipo de comércio, começar a empreender no setor é uma tarefa árdua. É necessário conhecimento amplo sobre a área, conhecer fornecedores, leis e regulamentações, tanto para lojas físicas como lojas online (também chamado e-commerce).

Rosangela Gomes, proprietária do sex shop ‘Peppers’ (Foto: Rafael Moura)

O primeiro passo é escolher o modelo do negócio, assim como Adão Roberto e Rosangela Gomes, microempresários do ramo, fizeram. “Eu tenho uma serralheria, fiz um trabalho para um fabricante que produzia produtos de sex shop e ele me falou como funcionava o negócio. Resolvi entender o mercado, fiz uma pesquisa de 3 anos, achei um ponto em Diadema [São Paulo] e montei. Em poucos meses já tinha a segunda loja e agora já estamos quase prontos para a inauguração da terceira”, explica Adão.

A procura pelos produtos também aumenta por conta dos desgastes do tempo no relacionamento, o que faz com que os casais queiram inovar. “Depois um tempo o relacionamento sexual das pessoas começa a perder a graça, a intensidade, o tesão, o interesse. Então as pessoas ficam mais interessadas em melhorar a relação, aumentar o sexo, fugir do convencional. Cada um vem atrás de um tipo produto específico e abrange todos os seguimentos, desde os lubrificantes, óleos de massagem e boneca inflável. Acho que é para todos os tipos de pessoas”, conta o empreendedor. “Antigamente uma mulher entrava tremendo para comprar alguma coisa. Hoje elas entram e ficam em média 2 horas dentro da loja”, detalha.

Ao contrário de Adão, Nathalia Ziemkiewicz optou por abrir um negócio na internet. Depois de se demitir de uma redação jornalística, ela fez uma pós-graduação em educação sexual e abriu o ‘Na Pimentaria’, um site especializado em conteúdo erótico. “Larguei uma carreira promissora porque gosto de me reinventar e me desafiar. Tinha em mente a missão de quebrar tabus no sexo e empoderar as mulheres. Acontece que, na prática, foi bem mais difícil do que podia imaginar — tive depressão por conta da solidão e de tantas portas na cara, passei infinitos meses no cheque especial”, detalha ela.

“Tinha em mente a missão de quebrar tabus no sexo”

Depois da onda ruim pela qual Nathalia passou, seu site teve algumas matérias que viralizaram na internet, o que fez com que suas ideias se renovassem mais uma vez. Foi assim que ela investiu também na sua profissão de educadora sexual, levando produtos eróticos às pessoas que sentem interesse em palestras. “No início, achei que a minha renda viria de anúncios no blog. Com o tempo, percebi que se ganha muito pouco com isso. Inventei os tais eventos, como palestras e chás de lingerie, onde cobro por presença e ainda posso revender produtos eróticos. Digamos que meu faturamento atual seja 25% do site, 40% com presença em eventos, 35% com venda de sex toys”, revela a educadora.

Nathalia Ziemkiewicz é dona do site especializado em conteúdo erótico ‘Pimentaria’

Assim como Nathalia, Kelly também optou pelo mundo do sexo virtual. A analista de marketing é dona do Sensilinea e começou a carreira vendendo produtos de sex shop aos 22 anos, ainda quando estava na faculdade de Marketing. Tudo no boca a boca. O valor que recebia com um estágio não era grande e ela começou as vendas para conquistar dinheiro extra. “Me abriu a mente para várias coisas, tanto sobre sexualidade como negócios. É o tipo de experiência que contribuiu muito pro meu crescimento pessoal e emocional também”, contou ela. Depois, surgiu a ideia de abrir uma loja online. “Preferi o mercado online porque não tinha capital para manter um espaço físico. Não tinha conhecimento e nem experiência sobre como tocar um negócio deste tipo, então como era infinitamente mais barato ter uma loja online, preferi este tipo de praça para começar”, explica.

A internet também aproximou os sex shops das pessoas, já que muitas não se sentem à vontade de ir ao estabelecimento. “A revolução virtual democratizou esse mercado. Mostrou para as pessoas um novo universo e isso foi importante para o crescimento do meu sex shop. A tecnologia mudou a mentalidade das pessoas em relação à sexualidade”, finaliza Paula.

Como qualquer outro negócio, sex shops também passaram a usar as mídias sociais para ganhar mais clientes, como o Facebook, WhatsApp, Instagram ou mesmo o Google. Ainda que o crescimento do ramo seja um estímulo para entrar em um novo negócio, dados da Abeme apontam que 83% das pessoas nunca compraram um produto erótico. Nesse momento de crise, o foco tem sido conquistar ainda mais compradores, como esses que nunca experimentaram, e fazer com que os negócios permaneçam firmes.

No bolso e na cama.

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