NÓS > EU = Quando “nós” é maior que “eu”

Laís Vargas
Blog — Laís Vargas
3 min readJan 17, 2016

Essa semana, comecei a ler um livro que ganhei em um amigo oculto no fim de 2015: “Vinicius de Moraes — Histórias de canções”. Um livro incrível escrito pelo Wagner Homem e pelo Bruno de La Rosa contando as histórias por trás das canções escritas pelo grande poetinha (Vinicius tinha a mania de falar palavras no diminutivo, então “poetinha” é, na verdade, uma homenagem).

O livro possui uma dinâmica muito interessante. Cada capítulo é reservado para as composições feitas por Vinicius e um parceiro, então temos capítulos reservados a Baden Powell, Carlos Lyra, Tom Jobim e muitos outros (mas não menos importantes…). O capítulo começa contando rapidamente sobre a vida do compositor-parceiro e, em seguida, com as letras compostas por eles e Vinicius. Ao final de cada música, um texto explicativo com histórias, acontecimentos, cartas e fotos trazem à tona uma imensidão de informações incríveis sobre a composição, é realmente imperdível para quem gosta, assim como eu, de Vinicius de Moraes.

Tom Jobim foi o grande parceiro de Vinicius, mesmo com a diferença de idade entre eles. Ao final desse capítulo em especial, me deparei com duas questões e é sobre elas que falarei nos parágrafos a seguir.

Como disse no início do texto, o livro, apesar de levar o nome de Vinicius de Moraes em seu título, expõe em suas páginas as parcerias do poeta ao longo de sua carreira.

Ao final, me dei conta que não é possível conquistar absolutamente nada sozinho, seja no âmbito pessoal ou no profissional, sempre existe um amigo, professor, pai, mestre, artista — quem quer que seja — para te ajudar e/ou te inspirar a conquistar algo.

As primeiras tentativas da dupla Vinicius e Tom não foram bem sucedidas e nunca foram publicadas. Sem muita intimidade, a dupla demorou para entrar em sintonia. Eles contaram com a ajuda de um terceiro amigo: o uísque. Entre uma garrafa e outra, nasceu uma amizade, uma parceria e grandes sucessos da bossa nova, graças a Deus (ou graças ao uísque).

Como diria Tom Jobim:

“Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho”

Na verdade, vejo que é impossível conquistar algo sozinho. Nos dias de hoje, onde o “eu” supera o “nós”, aquele que pensa no grupo já está na frente.

A outra reflexão que fiz foi após ler sobre os direitos autorais de “Garota de Ipanema”, uma das músicas brasileiras mais conhecidas em todo o mundo.

Vinicius e Tom, ao contrário do que muitos pensam, não ficaram ricos com os direitos da composição e, até hoje, suas famílias enfrentam a justiça para receber algo justo pela reprodução e sucesso da música.

A partir disso, percebi que todos nós julgamos, o tempo todo, a profissão das outras pessoas e, só pra variar um pouquinho, “a grama do vizinho é sempre mais verde”. Julgamos o quanto as pessoas ganham, sempre pensando que foi fácil ou tirando proveito de outras.

O grande problema é que falamos sem conhecimento de causa.

Em nenhum momento nos colocamos no lugar do outro ou, ainda, nos perguntamos sobre o lado negativo de qualquer trabalho. Quem iria imaginar que Tom e Vinicius não ganharam dinheiro com “Garota de Ipanema? Mas paramos para analisar? É claro que não. É mais fácil falar que outras pessoas estão ficando ricas e você não.

Até quando supervalorizaremos o “eu” em detrimento do “nós”?
Quando, finalmente, “nós” será maior que “eu”?

--

--