Fazia tempo que eu não lia um bom poema.

M. Vicente
La Distopista
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2 min readOct 7, 2021

Fazia tempo que eu não lia um bom poema.
Também fazia tempo que eu não escrevia um texto trivial.

Sempre pensei que as letras me acompanhariam em todos os momentos, mas elas foram me abandonando aos pouco. Ou fui eu quem as abandonou.

Meu texto virou algo técnico com sentimentos disfarçados, — porque eu não sei travar o sentimento que escorre pelos dedos — eu escrevo de verdade, oras!

Aos poucos fui achando bobas as coisas não óbvias, o subjetivo, o não dito, a surpresa e a rima um fetiche intelectual.

Sempre achei que escrever um livro me salvaria e, num instante, me contentei com a história dos outros. Contentei-me com um texto de oficina.

Na minha cabeça poema se tornou só
palavra
na outra linha
palavra

Sempre pensei que eu sabia tudo o que eu deveria fazer, que eu poderia controlar todas as coisas. Mas eu nunca havia entendido o quanto isso me sugava energia.

Na minha cabeça a vida virou uma SUBIDA ETERNA.

Aos poucos fui amadurecendo, mas esqueci de escutar meus próprios conselhos.

É sempre aos poucos que a gente se perde de tudo, de absolutamente tudo que a gente pode e deve ser. Que também pode ser nada, absolutamente nada.

Sempre achei que aos poucos, na minha cabeça, as coisas iam se ajustar naturalmente.

Mas a minha cabeça não é o mundo.
Eu nunca fui todo mundo!

tirei os anéis e os dedos. Finalmente.

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M. Vicente
La Distopista

UX/ Service Designer na PagSeguro e pesquisadora mestranda do Programa de Integração Latino Americana da Universidade de São Paulo. www.marianavicente.com.br