Curta o clip!

Quando um videoclip é também um curta-metragem

MarcusBarão
La Scena

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Não é mistério para ninguém que a união entre o áudio e o visual é poderosa. E assim como o cinema já se apropriou de músicas que levaram cenas e sequências a patamares inimagináveis, cada vez mais o mercado musical vem se apropriando da linguagem cinematográfica para não só servir de suporte à música em questão. Mas sim contar histórias, ampliando e aprofundando a experiência do público.

O La Scena selecionou para você nove exemplos de videoclips que funcionam também como curtas-metragens. Ou vice-versa. Confira.

Michael Jackson — Thriller e Ghosts

É impossível começar uma lista com videoclips-que-são-curtas-metragens sem citar aquele que abriu essa vereda no universo audiovisual — nada menos que Thriller, de Michael Jackson, considerado até hoje por muitas publicações como o melhor videoclip de todos os tempos.

Lançado em 1982 e dirigido por John Landis, em Thriller acompanhamos a transformação do Rei do Pop em zumbi nos seus 13 minutos de duração, que ainda apresentam uma coreografia que entrou no panteão da cultura pop mundial, sendo copiada, parodiada ou citada até hoje.

Na década de 1990, Jackson, já em outro patamar de sua carreira, quis repetir a dose. Convocou o mestre do terror Stephen King para escrever o roteiro junto com ele, Stan Winston para dirigir e Steven Spielberg para aconselhar. O projeto conhecido como Michael Jackson’s Ghosts, não atingiu o mesmo sucesso de Thriller. Mas entrou para o Guinness como videoclip mais longo do mundo.

Lady Gaga & Beyoncé — Telephone

No clip de um de seus maiores sucessos, Paparazzi, Lady Gaga acaba indo para uma prisão feminina acusada de matar seu namorado por envenenamento. Telephone é a continuação dessa história e começa com Beyoncé pagando a fiança e, por consequência, libertando Lady Gaga.

Considerado pela revista Billboard o clip mais legal dos anos 2000, Telephone é recheado de referências a filmes como Pulp Fiction e Kill Bill, de Quentin Tarantino. E como ele termina com a frase “To be continued…”, a imensa comunidade de fãs de ambas aguarda ansiosamente por mais um capítulo dessa história. Especula-se que na próxima aventura quem será liberada da prisão será Rihanna, que também assassina seu namorado no clip da música BBHMM.

M.I.A. — Born Free

Engajamento político sempre foi uma marca forte de M.I.A., cantora britânica com origem tâmil (Sri Lanka). Em Born Free, ela recrutou o também engajadíssimo diretor Romain Gavras — filho de Constantino Costa Gavras, diretor grego conhecido por seus filmes de cunho político — e o resultado da parceria foi tão poderoso que, quando de seu lançamento, o YouTube chegou a banir o vídeo de seus servidores devido às fortes cenas de violência.

Pudera: no vídeo acompanhamos uma perseguição étnica metafórica aos ruivos, levada a cabo pelo exército dos Estados Unidos em algum país fictício, mas que com toda certeza pode estar acontecendo nesse exato momento em algum canto do mundo.

Kanye West — Runaway

Kanye West pode ser o músico mais polêmico de nosso tempo, mas quando o assunto é a sua obra propriamente dita, o rapper norte-americano não brinca em serviço. E em 2010 ele colocou na rede o curta-metragem de 34 minutos Runaway, título de umas das canções de seu aclamado álbum My Beautiful Dark Twisted Fantasy, lançado no mesmo ano.

Narrado por Nicki Minaj, o filme conta a história de amor entre o rapper e uma fênix (!!!) recém-chegada ao mundo como forma de metaforizar relacionamentos que ainda sofrem preconceitos sociais. Contando também com outras músicas do mesmo álbum como trilha, Runaway veio ao mundo para tentar superar Thriller, de Michael Jackson, de acordo com o próprio Kanye. Pretensões à parte, o resultado continua bem legal.

Arcade Fire — Scenes From The Suburbs

O fim da infância e o começo da vida adulta são os temas que o Arcade Fire explorou em Scenes From The Suburbs, curta-metragem realizado para acompanhar o terceiro disco de estúdio da banda canadense, o intitulado, consagrado e premiado The Suburbs.

Dirigido pelo experiente Spike Jonze (Quero Ser John Malkovich, Onde Vivem os Monstros, Her), que misturou técnicas de documentários a tomadas complexas cinematograficamente falando, o resultado surpreende ao nos transportar para a vida de um grupo de jovens que tenta levar uma vida normal em um contexto contemporâneo em que os bairros do subúrbio dos Estados Unidos mais parecem pequenos estados independentes que disputam território e poder com seus vizinhos.

U2 — Every Breaking Wave

Como parte dos esforços promocionais que se seguiram ao lançamento de seu último álbum, Songs of Inocence, o U2 convocou a diretora irlandesa Aoife McArdle para transpor para o audiovisual aquela que talvez seja a melhor música do disco — Every Breaking Wave.

O resultado foi um curta-metragem passado na Irlanda do Norte na década de 1980 que conta a história de um casal de adolescentes unidos pelo amor, mas separados pelo conflito que dividiu o país na época. O curta ainda conta com outra música dos irlandeses, The Troubles.

Emicida — Boa Esperança

Sim, o Brasil também conta com representantes nessa lista. Em Boa Esperança, música que integra o último trabalho lançado pelo rapper paulistano Emicida, Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa, o dedo é colocado em duas das maiores feridas de nossa sociedade — o racismo e a desigualdade social.

Dirigido por Kátia Lund (Cidade de Deus) e João Wainer, acompanhamos a história hipotética de uma revolta de um grupo de trabalhadores domésticos de uma mansão contra seus patrões e seus comportamentos abusivos.

Criolo — Duas de Cinco + Cóccix-ência

Bairro Grajaú/SP. Ano de 2044. A tecnologia se desenvolveu (ainda mais) e permeia (ainda mais) a vida das pessoas. Porém, mesmo daqui a quase 30 anos, os problemas sociais vivenciados na periferia continuam os mesmos, só com um pano de fundo diferente. Esse é o contexto pelo qual se desenrola a história contada no clip dos singles Duas de Cinco e Cóccix-ência, dirigida com maestria por Cisma.

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