ARTIGO

8 de março: o que nós queremos?

Alessandra Taveira
LabF5
Published in
4 min readMar 8, 2018

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Manifestação, greve, reivindicação. Essas e muitas outras palavras descrevem a trajetória feminina pela igualdade de direitos ao longo das décadas. A data diz respeito ao incêndio na fábrica de tecidos Triangle Shirtwaist Company, que vitimou cerca de 125 mulheres e 21 homens. Apesar da crença popular remeter o Dia Internacional da Mulher ao incêndio da fábrica, o que prevalece são as lutas operárias femininas. A criação de movimentos que encorajavam as mulheres a denunciar as péssimas condições de trabalho se fortificou com a introdução em massa da mão-de-obra feminina nas grandes fábricas, principalmente têxteis. Líderes de vários movimentos surgiram em prol da construção de uma nova consciência do papel da mulher como trabalhadora e cidadã.

Alexandra Kollontai, Clara Lemlich, Clara Zetkin, Emma Goldman e Simone Weil (Foto: Divulgação)

Clara Zetkin, Alexandra Kollontai, Clara Lemlich, Emma Goldman, Simone Weil e outras militantes dedicaram suas vidas ao que posteriormente se tornou o movimento feminista. Em 8 de março de 1917, o Dia Internacional da Mulher foi consagrado nos anos seguintes, quando a greve das tecelãs e metalúrgicos de São Petersburgo influenciou o início da Revolução Russa.

Primeira folha do jornal O Sexo Feminino, de 1873 (Foto: Reprodução/Isto É Campanha)

Desde o século XIX as mulheres, no Brasil, pautam sua luta pela igualdade de gênero. Primeiro com a imprensa feminina, com o “O Jornal das Senhoras” e “O Sexo Feminino”, que pediam pela melhoria na educação das mulheres. Posteriormente, com o interesse pela política e o sufrágio feminino, as mulheres conseguiram o direito de votar em 1932 e somente em 1946 em condições iguais às dos homens. Essa luta se intensificou durante a redemocratização do país, no fim dos anos 70, quando as mulheres passaram a se unificar em prol de direitos básicos da cidadania e igualdade, reunindo associações e movimentos diversos.

Primeiras eleitoras do Brasil, em Natal, no Rio Grande do Norte (Foto: Reprodução/ Wikipédia)

O avanço da Internet conduz à uma informação mais acessível. O movimento feminista das últimas décadas soube usá-lo com inteligência, difundindo as ideias em redes sociais, sites, blogs e outros tipos de veículos de comunicação. Com isso, a igualdade entre os gêneros cresceu e produziu mudanças efetivas. A luta não é mais pelo sufrágio ou pelo acesso à educação igualitária,no entanto as pautas não diminuíram, pelo contrário, a cada dia se percebem outras questões em torno da construção da mulher dentro da sociedade brasileira.

Segundo pesquisa feita pelo Datafolha, a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, cerca de 503 mulheres sofreram agressão física a cada uma hora em 2016. Em 61% dos casos, o agressor era conhecido da vítima. Apesar do acesso à informação mais rápida, o mapa da violência contra mulher é alarmante e crescente, para a mulher negra, ainda pior: no Amazonas, a chance de uma jovem negra ser assassinada é 6,97 vezes maior que uma jovem branca, segundo o Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência 2017. Além disso, existem diversas pautas sobre empoderamento feminino, liberdade sexual e quebra de padrões estéticos.

O dia 8 de março, portanto, se diferencia dos demais por destacar aquilo que deveria nos ocorrer em todos os 365 dias do ano: uma reflexão acerca da situação da mulher na sociedade atual. Afinal, quando se trata de equidade, feminicídio e índices de assédio e abuso contra a mulher e tantas outras questões que norteiam a luta de milhares, avançamos ou estagnamos?

A pergunta é objetiva, mas a resposta requer uma certa subjetividade e respaldo através de dados e minuciosa pesquisa.

Para uma parcela da população feminina, o Dia Internacional da Mulher nada mais é do que o dia para ser presenteada, agraciada e lembrada pelos companheiros, amigos e familiares. Entretanto, na década de 20, a data servia para o governo comunista convencer as mulheres de que elas eram lembradas e que os homens no poder levariam em conta suas lutas. Como homenagem, as mulheres recebiam, todo dia 8 de março, uma flor de seus chefes e maridos. Por esse motivo, tantas mulheres não gostam de receber flores nesse dia. Afinal, esse gesto era apenas uma artimanha do patriarcado para continuar no poder e ludibriar as mulheres. Ou seja, se trata de uma data comercial.

Os diversos anúncios, as infindáveis promoções em salões de beleza, shoppings e supermercados que brotam um mês antes a março só alimentam a teoria de que é tudo marketing e, claro, a verdadeira acepção de luta e resistência é jogada para escanteio.

Em contrapartida, ao redor do mundo, grupos de mulheres se reúnem, vão às ruas, gritam em uníssono cada direito que nos é retirado sucintamente, em forma de frases prontas, aquilo que engasgou-se por tanto tempo.

Encontro Internacional da Marcha das Mulheres em protesto na Avenida Paulista (Foto: Reprodução/Rede Brasil Atual)

Aproveitar a data, seja para meditar, resgatar em memória aquelas que um dia já lutaram e falaram por nós, numa época retrógrada, ou tomar a frente de uma passeata em prol dos nossos direitos, de algum modo nos torna mais humanas e reascende a esperança de um futuro em que possamos ser livres. Não é à toa que lugar de mulher é onde ela quiser: no colégio, em casa, no trabalho ou na rua.

Manifeste-se.

*Artigo de Alessandra Taveira, Jullie Pereira e Kássia Tavares, estudantes de Jornalismo da Universidade Federal do Amazonas e colaboradoras do LabF5.

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