A TV universitária resiste

Mesmo sem incentivos públicos, as televisões universitárias exercem papel fundamental na formação de uma comunicação mais democrática.

Gabriel Veras
LabF5
3 min readMar 14, 2018

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Gabriel Veras e Jullie Pereira, especial para o LabF5.

Foto: Mateus Pereira/Tv Anísio Teixeira

O modelo de tv educativa instituído no Brasil, no final da década de 1960, surgiu como um contraponto ao já difundido formato comercial que priorizava o lucro e a audiência. A ideia era mostrar conteúdo socialmente relevante, a partir da perspectiva inquieta dos jovens estudantes. Teoricamente, eles teriam liberdade de produzir o conteúdo que desejassem, no entanto, a pressão social de um governo militar levou à instrumentalização desse meio de comunicação como propaganda “oficial”, perdendo a preocupação com a democracia e o conhecimento.

De acordo com a Associação Brasileira de Televisão Universitária (ABTU), organização que representa o segmento, a televisão pública é aquela voltada exclusivamente para o desenvolvimento da cidadania e melhoria de qualidade de vida da população, o apoio à educação e o incremento à cultura regional. Hoje, há quem defenda a tv universitária como toda e qualquer produção audiovisual realizada pela comunidade acadêmica e que ganhe espaço fora do ambiente universitário.

Relatório aponta que TVs universitárias são financiadas majoritariamente pelas universidades. Fonte: Associação Brasileira de Televisão Universitária (ABTU)

Os canais universitários ganharam maior espaço a partir da década de 1990 e, consequentemente, maior espaço na formação dos alunos. Esses avanços, contudo, não foram acompanhados de investimentos financeiros e profissionais por parte das instituições de ensino superior (IES). O relatório “A televisão universitária no Brasil” (2004) da ABTU mostrou que 73% das televisões universitárias brasileiras são financiadas exclusivamente pela universidade.

No relatório, a ABTU também aponta que a falta de equipamentos e equipes suficientes para a produção em grandes volumes são responsáveis pela produção e reprodução de conteúdos comercialmente consolidados. Segundo Renata de Lima, jornalista da Tv Ufam, por conta dessa defasagem a tv não se atualiza. Ela ressaltou que a tv universitária “tem que encarar uma nova realidade. Ela precisa aprender a experimentar, a buscar novas linguagens, novas técnicas, mas sem esquecer a ética e o compromisso com a sociedade”.

Mesmo com as dificuldades a serem enfrentadas, a televisão universitária vive um experimento diário de resistência no cumprimento do seu papel social. Para Renata, a televisão universitária é defensora de que “a universidade não seja um espaço fechado, onde a comunidade acadêmica viva de costa para a sociedade, porque a universidade existe para a sociedade, ela [a universidade] não pode ser descasada dela”.

13 anos de Tv Ufam

Em comemoração ao aniversário de 13 anos, a Tv Ufam realizou nesta quarta-feira (14) o evento “Tv Ufam de portas abertas” e reuniu alunos e profissionais de comunicação para debater os caminhos do audiovisual no Amazonas. A programação também contou com uma oficina sobre videografismo e uma mesa redonda com jornalistas e realizadores audiovisuais locais.

Aniversário da Tv Ufam debateu a produção audiovisual no Amazonas. Foto: Jullie Pereira

O sócio da Artrupe Produções e ex-colaborador do programa Set Ufam, César Nogueira, falou sobre a experiência dentro da televisão universitária. “A Tv Ufam me deu a possibilidade do erro, porque a gente precisa treinar, a gente precisa produzir, a gente precisa de uma janela e essa foi a minha janela no início”, afirmou.

A TV universitária no Brasil persiste dando voz aos estudantes, tanto para criar, de maneira responsiva, quanto para levantar questões que não são debatidas na mídia comercial. O conteúdo dessa TV deve ser visto com um olhar de transição para outras perspectivas, se adaptando junto com as novas gerações. A resistência virá com a força de uma juventude que não está ligada aos seus anos de existência, mas à inquietação que é a esperança desde o início.

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