COLUNA PAPO RETO
O ano de 2019 tem desempenhado um papel importante para a história do futebol feminino.
Camila Barbosa, especial para o LabF5.
Na última terça, 23, Megan Rapinoe, atacante da seleção estadunidense de futebol, recebeu o prêmio de melhor jogadora de futebol do ano da Federação Internacional de Futebol, FIFA. O futebol feminino ganhou o seu, enfim, merecido lugar de destaque, e o prêmio de Rapinoe é a consagração não só do desempenho individual de uma atleta durante a temporada, como também a de uma modalidade por muito tempo esquecida. Essa premiação serve de parâmetro para o novo patamar que o futebol feminino mundial alcançou em 2019, pela primeira vez houve a escalação da seleção feminina da temporada e a escolha de melhor goleira.
Além disso, o prêmio também coroa uma postura rara no futebol, a qual a jogadora do Seatle Reign assumiu ao longo de sua carreira: utilizar sua posição de destaque para lutar por mais igualdade entre atletas, igualdade racial, igualdade de gênero e direitos de minorias como deixou claro em seu discurso proferido na cerimônia da FIFA.
“Se realmente queremos mudanças, precisamos de todo mundo se posicionando contra o racismo, contra a homofobia, pela igualdade de pagamentos. Nós temos a oportunidade de usar o futebol para mudar o mundo. É isso que peço para todos. Temos um poder incrível nesta sala.”, disse a jogadora para a plateia de atletas e ex-atletas e para o todo o mundo que a assistiam naquele momento.
Rapinoe, ao lado de Alex Morgan, sua companheira de seleção e também finalista do prêmio, e Marta, seis vezes eleita a melhor jogadora do mundo e a maior artilheira de Mundiais, masculino e feminino, é uma das principais vozes e representantes do movimento “equal pay”, que luta por igualdade de pagamento e de tratamento para homens e mulheres no futebol — a diferença de premiação entre o Mundial Feminino e o Masculino é de 1,4 bilhão de dólares.
O futebol feminino se mostra verdadeiramente representante da famosa frase: “Não é só futebol”. As três citadas junto a Ada Hegerberg — a primeira mulher a ganhar uma Bola de Ouro em 2018 e que se negou a disputar a Copa da França em protesto por mais investimento no futebol feminino no seu país, a Noruega — e a atacante Sofia, que foi dispensada do Sport Club Recife após críticas contundentes ao presidente do clube e a falta de estrutura para o time feminino, assim como o futebol feminino, fazem resistência e política dentro e fora dos gramados. Características essas, que mesmo tentando evitar a comparação, afinal, já passou da hora de o futebol feminino ter suas próprias narrativas e histórias, se perdeu no futebol masculino.
“Muitas coisas precisam mudar para que as condições paras as mulheres que jogam futebol melhorem. Não é sempre sobre dinheiro.” — Ada Hegerberg sobre a sua recusa em jogar a Copa do Mundo deste ano.
Elas podem ser consideradas símbolos de um futebol feminino que além de resistência, a qual sempre trouxe na ponta da chuteira e a cada nova entrada em campo, estão virando o jogo contra o machismo, a desigualdade e o silêncio. Na copa do mundo de 2019, disputada na França, a seleção campeã na bola foi o Estados Unidos, mas quem foi o verdadeiro campeão naquele mundial foi o futebol feminino. Não cabe mais desculpas para desqualificá-lo e justificar a falta de estrutura e incentivo para a modalidade, que tem público, tem emoção e tem talento. Só não tem respeito.