Por que o jornalismo tem que se preocupar com a neutralidade da rede?

Jéssica Botelho
LabF5
Published in
3 min readJan 15, 2017

A popularização das tecnologias de informação e comunicação, a disseminação da Internet e das ferramentas de produção colaborativa e de compartilhamento que favorecem a interação social proporcionada pelas redes sociais na Internet, tais como blogs, YouTube, Facebook, Twitter, Medium, Whatsapp e inúmeras outras, descentralizaram a produção e a comunicação jornalística, levando a uma crise profunda no modelo de negócios das empresas jornalísticas, colocando-as diante dos reordenamentos promovidos pelo jornalismo pós-industrial.

Pode-se destacar o crescimento de iniciativas de jornalismo na rede que se veem amparadas, principalmente após a regulamentação do Marco Civil da Internet, pelo espaço aberto e democrático que é a Internet, onde se articulam e desenvolvem integralmente suas ações. Para citar duas propostas significativas nesse cenários: o coletivo Jornalistas Livres, que operam em rede e se colocam como contraponto à mídia hegemônica e a Gênero e Número — Narrativas pela equidade, que desenvolve reportagens a partir do jornalismo de dados para debater gênero na web. Segundo Sérgio Amadeu, sociólogo e ativista do movimento pelo Software Livre:

“Se a liberdade de expressão e de opinião distribuídas pelas plataformas da rede incomodam sobremaneira os setores que definem as razões de Estado como princípio superior, a liberdade de criação de novas tecnologias, aplicações ou formatos têm preocupado e colocado em risco os velhos modelos de negócios de grandes corporações erguidas no mundo industrial.”

As transformações em curso no jornalismo têm lançado desafios e horizontes relacionados à inovação e ao desenvolvimento tecnológico para todos os setores e agentes envolvidos com a atividade. Nesse sentido, faz-se necessário que os jornalistas compreendam os conceitos tanto quanto a importância da Governança da Internet, além de participarem dos debates relacionados ao tema, pois o fluxo de informações em plataformas massivamente utilizadas pela sociedade, sobretudo as redes sociais, usadas como geradoras de tráfego ou como fonte de informação para seus conteúdos jornalísticos são diretamente amparadas pela neutralidade da rede.

Segundo o IDEC, a neutralidade é o princípio que determina que todos sejam tratados com igualdade, sem que haja benefício para uns e não para outros na hora de navegar, sem fazer distinção de tráfego com base em interesses comerciais.

Em “O Filtro Invisível: O que a Internet está escondendo de você”, Eli Pariser alerta para a manipulação dos algoritmos que empresas como Google e Facebook fazem, utilizando dados fornecidos pelos usuários para distribuir informações determinadas de acordo com os cliques dentro das plataformas. O perigo da personalização de informações interfere diretamente no trabalho do jornalista, abrindo espaço para discutirmos sobre liberdade de informação e acesso à informação, e até sobre o processo de seleção dos fatos a serem noticiados ao público, função que antes cabia somente aos editores da redação.

Para o fazer jornalístico, é de fundamental importância que os direitos de liberdade de expressão e acesso à informação sejam garantidos. Ambos estão intrinsecamente ligados também à neutralidade da rede para o desenvolvimento do jornalismo, pois o direito de acesso, criação, distribuição e compartilhamento de conteúdo na Internet deve ser comum a todos, já que, segundo os princípios do Comitê Gestor da Internet, “filtragem ou privilégios de tráfego devem respeitar apenas critérios técnicos e éticos, não sendo admissíveis motivos políticos, comerciais, religiosos, culturais, ou qualquer outra forma de discriminação ou favorecimento”.

Mais leituras sobre jornalismo digital no nosso antigo blog também, acesse: http://labf5-blog.tumblr.com/

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