O NOVO JORNALISMO ESPORTIVO:
Oportunidades e riscos nas novas plataformas de comunicação

Aspirantes a Jornalistas
LabCon / UFMG
Published in
18 min readJul 4, 2022

Por André Mendes, Caio Veríssimo, Gustavo Souza e Lucas Silvério

Em um cenário de constantes mudanças na comunicação, o jornalista esportivo Victor Canedo compartilha seu cotidiano, suas ambições e preocupações após fazer a transição do “velho jornalismo” para o mundo das redes sociais

Foto: Victor Canedo | Instagram

É inegável a transformação radical imposta pelo surgimento das redes sociais em praticamente todas as áreas de atuação profissional no mundo. Além do uso pelas grandes empresas a fim de expandir suas campanhas de marketing, essas mídias se tornaram destaque ao passarem a funcionar como market place no universo de vendas. Elas aproximaram os mais diversos prestadores de serviços a seus clientes, por meio da criação de conteúdo. Foram advogados, médicos, investidores profissionais, professores, nutricionistas, personal trainers … e a lista continua.

No entanto, o trabalho do jornalista é discutivelmente um dos mais afetados pela chegada das novas mídias. Afinal de contas, tudo o que passou a circular nesses meios pode ser considerado informação (seja ela falsa ou verdadeira). E o trabalho do jornalista se tornou muito mais complexo, uma vez que a informação agora pode ser compartilhada por qualquer um com apenas alguns cliques.

O jornalista atual recebeu novas responsabilidades, como a de refutar e combater as inúmeras fake news facilitadas pelo contexto vigente, além de ter que se adaptar a um formato mais leve, objetivo e descontraído, mais atrativo para um público de leitores cada vez mais dependentes desse tipo de conteúdo.

Foi a partir daí que o jornalista esportivo Victor Canedo (e inúmeros outros) realizou a transição do “velho jornalismo” para as redes sociais, se aventurando em uma carreira empreendedora, assumindo mais riscos e, ao mesmo tempo, abrindo uma infinidade de novas oportunidades.

VICTOR CANEDO

11 anos após o início de sua carreira no Grupo Globo, Victor Canedo decidiu seguir um caminho diferente do jornalismo tradicional e embarcar na autonomia digital.

O extrovertido e espirituoso jornalista trouxe seu rico conteúdo para as redes sociais e aventurou-se no empreendedorismo digital em meio às incertezas da pandemia do COVID-19.

Influenciado por seu amigo, o fenômeno da Internet, Casimiro Miguel, iniciou suas atividades na Twitch plataforma de vídeos ao vivo em crescimento no Brasil. Segundo os sites especializados Streamlabs e Stream Hatchet, a plataforma teve um crescimento vertiginoso na pandemia. As mudanças no lifestyle promovidas pelas políticas de distanciamento social geraram uma grande procura por conteúdos produzidos nas redes. Era o momento perfeito para criar e reter público.

No primeiro trimestre de 2020, a Twitch somava 3,1 bilhões de horas visualizadas. No segundo trimestre, o número pulou para 5,1 bilhões. O crescimento seguiu até ultrapassar a marca dos 6 bilhões no primeiro trimestre de 2021.

Foi nesse contexto que Victor cresceu na Twitch sobre o nome TheCanedo. Lá apresentava notícias esportivas, conversava e jogava Football Manager ao vivo com seus fãs. O sucesso fez Canedo intensificar sua presença no YouTube, com o canal ainda conhecido por “Cortes do Canedo”. Ali, postava vídeos cortados de suas lives na Twitch. Atualmente, o nome é “Canal do Canedo”.

O rebranding significa também uma mudança de posicionamento e conteúdo. Além dos cortes, o canal passou a vincular vídeos próprios, mais curtos, em um conteúdo com forte apelo ao molde de pílulas. Esses vídeos, chamados de shorts, são o equivalente aos reels do Instagram e aos dos tiktoks, onde sua presença também começa a ser sentida.

Estar no YouTube é, de certa forma, voltar aonde se foi feliz. No GE, Canedo era um dos apresentadores de um dos quadros mais famosos do canal, o Bola Quadrada. O quadro era parte da programação do SporTV e após sua transmissão, era disponibilizado no site ge.globo e no canal GE, no YouTube.

No Bola Quadrada, Canedo, junto de outros apresentadores recebia grandes personalidades do esporte para participar de jogos dinâmicos e divertidos com temática de futebol.

Foto: Bola Quadrada | GE

O dinamismo faz parte da produção geral individual de Canedo. Vídeos rápidos e opiniões fortes mesclam fundos enérgicos para produzir efeitos que encantam os espectadores e garantem sua atenção até o final.

A fórmula se repete na maior parte das redes em que Canedo está presente, e são muitas. Atualmente, a expansão pode ser vista rumo ao Tiktok, onde Victor não era tão atuante antes de sua mudança para o empreendedorismo autônomo.

“Antes eu não mexia muito nas redes sociais, hoje percebo que precisamos estar presentes, produzindo conteúdo, em tudo.”

Foto: Victor Canedo | Twitter

Os shorts são formados principalmente por “tier-lists”, matérias editoriais na qual o jornalista, em forma de ranking, expressa sua opinião sobre determinado tema, aqui específico do futebol.

Os shorts são produzidos e divulgados em média 3 por dia, enquanto os vídeos longos, em média maiores do que 30 minutos, são apresentados semanalmente. Os vídeos longos também são do ramo editorial. Neles, o jornalista apresenta notícias e curiosidades e às debate durante um período maior.

O canal já conta com mais de 600 vídeos, enquanto o Instagram já possui mais de 1400 publicações que variam entre o conteúdo formado principalmente por reels e o conteúdo pessoal, esse apresentado de forma mais espaçada. Isso gera uma sensação maior de conexão entre o seguidor e o influencer.

Foto: Publicidade Victor Canedo | Twitter

Canedo traz a jovialidade necessária para empreender nos meios digitais e a experiência para ter sucesso nesse empreendimento. É a mescla entre o conhecimento do “que produzir” — trazendo conteúdos atualizados e levantamentos exclusivos — com o senso de “como produzir”, com edições inteligentes, linguagem moderna e versatilidade para produzir nos mais diversos meios.

DE ONDE VEIO VICTOR CANEDO?

Victor Canedo Villela de Andrade, mais conhecido como Victor Canedo, ou até mesmo apenas Canedo. Este é um dos grandes jornalistas esportivos que atua no país do futebol. Para muitos ainda não é alguém que vem à mente quando se fala sobre profissionais de comunicação do esporte. Mas o rapaz, que agora trilha o seu caminho nas redes sociais com conteúdo esportivo, já tem sua história na televisão.

O jornalista é do ano de 1988. Nascido e criado na cidade do Rio de janeiro, Canedo desde criança tem um carinho pelo futebol, adquirido pela insistente presença em tudo que tinha a ver com bola.

“Minha relação com o futebol veio desde cedo, por frequentar o Maracanã de verdade, por volta dos 11 anos.”

Torcedor do Fluminense e sem forçar uma falsa imparcialidade, como fazem alguns jornalistas esportivos ao omitirem o seu time do coração, o sempre sincero e honesto — durante seus comentários — Victor Canedo mostra ser um verdadeiro apaixonado pelo esporte e pelo seu time.

Foi em 1999, quando Victor tinha 11 anos de idade, que o tricolor carioca esteve em sua pior fase, na qual disputava a série C do Campeonato Brasileiro de futebol. Talvez seja por isso que o fã do esporte se apaixonou tanto pela arte de jogar bola com os pés. O jovem Canedo conseguiu ver a ascensão do seu time do peito, e também todas as outras conquistas, principalmente nos anos de 2010 e 2012, nos quais o time se sagrou Campeão Brasileiro, desta vez, na série A.

“Comecei a consumir bastante futebol e naquela época decidi que trabalharia na área. Logo depois veio a ideia de jornalismo.”

A intenção de ser jornalista continuou na mente do carioca. No ano de 2006 ele ingressou no curso de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Em 2008, quando estava no meio do curso, Victor entrou como estagiário na Globo. No mesmo ano em que se formou, veio a contratação para a permanência dele como jornalista.

Nesta jornada, Canedo ganhou experiências e cresceu profissionalmente. Um de seus destaques foi ter sido apresentador do programa Bola Quadrada, um quadro semanal que traz pessoas do universo do futebol e faz games de perguntas e respostas sobre jogo de bola. O jornalista também atuou bastante na editoria de futebol internacional, onde foi “apadrinhado” pelo renomado Lédio Carmona, referência para o jovem até hoje.

Após 12 anos de Globo Esporte e SporTV, Canedo viu oportunidades fora dos grandes canais de comunicação. Ele percebeu que a pandemia causada pela covid-19, juntamente com os avanços tecnológicos, criou um novo mercado no qual as pessoas consumiam muito conteúdo nas redes sociais. Foi então, neste momento, que Victor saiu da rede Globo e decidiu dedicar sua carreira como jornalista independente, usando como ferramenta de trabalho as redes sociais.

“Sair da Globo nunca é fácil. Você sempre fica com a pulga atrás da orelha, porque, em tese, a Globo é o melhor lugar para você estar”.

Assim surgiu o Canal do Canedo. Vindo de uma série de pesquisas com nomes do esporte que estavam trocando as grandes marcas pelas redes sociais, Victor decidiu seguir por este caminho.

Hoje ele segue no canal e está crescendo cada vez mais. Já tem apoio de patrocinadores que confiam na nova jornada do grande Victor Canedo.

O NOVO JORNALISMO ESPORTIVO

Antes do canal do Canal do Canedo, e consequentemente, antes do novo normal trazido pela pandemia, o jornalismo esportivo já vinha passando por uma transformação. As restrições e imposições decorrentes do coronavírus apenas potencializaram um processo já em andamento, responsável por apresentar novas caras ao jornalismo nas redes sociais, como Canedo e Casimiro.

A revolução digital no jornalismo esportivo já tinha estourado - antes até dos citados a pouco - em meio a adesão a mídias sociais como o Facebook, Twitter e Instagram. Um dos primeiros canais a abrir o caminho desse novo formato foi o Desimpedidos, criado em 2013 por Felipe Andreoli, André Barros, Antonio Tabet, Rafael Grostein e Kaká. O grupo popularizou o canal principalmente durante a copa de 2014, trazendo uma cobertura que combinava informação com entretenimento.

Hoje, o uso das redes sociais é explorado fortemente por jornalistas autônomos que buscam crescer seus canais e criar o próprio conteúdo, mas não está restrito a isso. Grandes veículos de comunicação também se renderam às redes para trazerem informações e histórias.

Foto: Espn Brasil | Twitter

Uma pesquisa da Universidade Estadual de Oklahoma recentemente mostrou como o uso constante das redes sociais pelos jornalistas esportivos alterou a forma como um furo de notícias é divulgado. Hoje, diferentemente do que ocorria quando a informação só era publicada no jornal do dia seguinte, a notícia é postada logo que é obtida - na maioria das vezes nas redes sociais ou avisando os leitores através delas.

Considerando a foto acima, publicada no Instagram da ESPN Brasil, é difícil lembrar como a notícia corria antes do advento das redes. Muitas vezes, a população só saberia da contratação do atacante Pedrinho pelo Atlético-MG na manhã seguinte, quando abrissem seus jornais.

Na pesquisa realizada pela universidade americana, alguns entrevistados comentaram que a pressa para dar a informação o mais rápido possível acaba fazendo com que, às vezes, a notícia seja divulgada sem que eles tivessem a possibilidade de fazer uma apuração ou uma reportagem mais completa.

No entanto, por bem ou por mal, o novo formato veio para ficar, e a pandemia garantiu que esse processo se consolidasse. Se dependermos de nomes como Canedo, estaremos em boas mãos.

O CANAL DO CANEDO

Victor Canedo criou seu canal do Youtube no dia 17 de maio de 2021, mas só postou seu primeiro vídeo na plataforma três meses depois, no dia 13 de agosto. Nesta época ele fazia lives na Twitch, após sua saída da Globo, e começou a postar esses trechos no Youtube.

A partir deste momento, o canal estava voltado totalmente para conteúdos retirados de suas lives, os chamados cortes. Postando vídeos diários, com durações muito variadas, desde cortes de cinco minutos até mais de uma hora, dependendo do conteúdo. Esse período de apenas cortes durou aproximadamente 5 meses. Até que em janeiro de 2022 muita coisa mudou.

No dia 11 de janeiro ele postou seu primeiro vídeo em formato shorts, mas ainda mesclava com os cortes das lives. No final do mês, dia 25, o Canedo mudou a proposta de seu canal. A partir de então, ele parou de postar trechos das lives e começou a produzir vídeos voltados exclusivamente para o canal do Youtube, com duração de 5 a 9 minutos, juntamente com os shorts. E essa fase durou pouco mais de dois meses.

A partir de abril, o canal voltou-se exclusivamente para postagem de vídeos em formato shorts, e isso tem um motivo. De acordo com Canedo, essa é uma “estratégia para crescer mais rápido por conta do algoritmo do YouTube”.

Traçando essa linha do tempo, desde o início do canal até o atual momento, é possível perceber a forma bastante dinâmica que os conteúdos postados se alteram. A internet modifica rapidamente, e dessa forma o criador de conteúdo também precisa ser adaptável e se manter ativamente conectado com as redes sociais e seu universo de incertezas.

“A partir do momento que eu saí (da Globo) mudou a chave total. Eu dependo do meu esforço aqui fora, do meu trabalho aqui fora. Então passei a ralar e as coisas foram aparecendo naturalmente. Óbvio que tem mês que é super bom, que você se empolga, e tem mês que é horrível, não chega nada e você começa a se perguntar, será que eu estou fazendo o negócio certo. É uma vida de altos e baixos, é uma montanha russa. Não é a vida do assalariado que você tem todo dia cinco o dinheiro na sua conta, não tem mais isso”.

EMPREENDEDORISMOS: MOTIVAÇÕES PARA ESSA MUDANÇA

Mudanças de perspectivas

Por observar as plataformas digitais crescerem, Canedo entendeu que era o momento certo de embarcar nesta nova jornada como empreendedor da sua própria marca. Já que, por contrato, não poderia fazer trabalhos e participar de projetos fora da emissora.

“Primeira uma perspectiva enorme do digital estar cada vez maior. Eu já vinha estudando sobre isso, eu trabalhava no site, no GE. Mas eu via que o Youtube estava gigantesco, alguns canais no Youtube, pessoas que eu pude conhecer também por conta disso. Gente que vivia das próprias redes, gente que estava conseguindo produzir conteúdo. E lá na Globo a gente tinha uma proibição por contrato, nada que fosse novidade, mas a Globo, ela exige exclusividade. Então, uma vez que eu trabalho na Globo, eu não posso fazer mais nada em lugar nenhum”.

Além disso, a influência de amigos e conhecidos foi importante na decisão dele, já que por estar a mais de dez anos no meio jornalístico, ele já carregava uma bagagem e também se considerava jovem e com bastante ânimo para o novo desafio.

“Eu comecei a ficar um pouco encucado se estava valendo a pena. Ao mesmo tempo que eu percebia um caminho lá dentro para eu crescer, pela TV, pelo SporTV, fazer alguma coisa, virar comentarista, que era algo que eu buscava. Mas aí eu comecei a me perguntar, será que o futuro, daqui a cinco anos, daqui a dez anos, é mais interessante eu seguir esse caminho aqui dentro da empresa ou eu pular fora já que todo mundo estava falando: vem, cara. Aí eu comecei a entrevistar pessoas, comecei a ligar para um monte de amigos, colegas, conhecidos, que estavam ou em grandes mídias ou trabalhando e vivendo das próprias redes. E fui adquirindo informações para saber o que seria mais vantajoso profissionalmente falando, mirando o futuro. Porque eu ainda me considero jovem, estou com gás.”

Realizações profissionais e financeiras

Apesar da Globo ser uma grande vitrine e um objeto de desejo para vários profissionais do jornalismo, Canedo começava a não enxergar perspectivas pessoais a longo prazo na Globo. Por ter participado de programas no GE e no SporTV, Canedo trouxe consigo um público que gostava de seu trabalho, e para ele isso foi importante na hora de tomar a decisão de sair da emissora.

“Então, o financeiro sempre fala alto, ele fala bastante. O que posso dizer, a Globo, das empresas de jornalismo é a que melhor paga. Eu acho que a Globo deve pagar melhor do que a ESPN, TNT, num sentido geral, ela deve pagar esse valor um pouco acima do mercado. Mas, pra realidade do jornalista ainda é um valor que não resolve a nossa vida, então, eu estava sempre buscando mais. Lá dentro eu ia conseguir me realizar profissionalmente e financeiramente? Acho muito difícil, porque a gente sabe que dentro das grandes empresas poucas pessoas ganham muito e muitas pessoas ganham pouco. Então, com certeza isso também foi uma motivação e eu botei na balança conversando com muita gente. Todo mundo falou, vem que tem essas oportunidades aqui, as marcas cada vez mais estão olhando para as pessoas. Então assim, você construiu o seu público aí dentro, você tem uma galera que gosta do seu trabalho, que te segue, que tenho certeza que te seguiria se você fosse para outro lugar. Então, é apostar no seu.”

Victor Canedo ainda completa falando da importância do marketing no momento de expor seu trabalho, visando atrair maior público e marcas interessadas.

“Eu saí da Globo sem nada acertado, mas as coisas foram aparecendo naturalmente. Claro que você precisa fazer um excelente marketing, você tem que cuidar muito das suas redes sociais, isso é super importante, é a sua vitrine. É mais importante do que um currículo hoje em dia.”

Pandemia e o boom das redes sociais

Com a pandemia da covid-19 e o aumento do consumo digital da população, Canedo teve certeza de que era o momento certo para apostar no empreendedorismo e aproveitar uma oportunidade única naquela demanda por conteúdos nas redes sociais.

“Meu conhecimento de digital era longe do ideal. Eu não tinha nem conta no Tiktok, eu não sabia de fato o que era a realidade, e aí eu acho que a pandemia ajudou muito. As pessoas passaram a ficar em casa e a consumir ainda mais um conteúdo digital. Então, uma das coisas que me ajudou de imediato ao sair foi fazer live na Twitch, foi na mesma época que o Casimiro explodiu, o Casimiro até me ajudou em algumas coisas, ele foi um cara que teve essa visão antes de todo mundo e estourou, e hoje está usufruindo de tudo isso que ele conquistou. Fazer live me ajudou muito, porque a Twitch, por ser um canal novo, estava querendo incentivar pessoas a fazer mais lives. Então para mim, eu já estava em casa, as pessoas estavam em casa, era muito mais fácil de você conseguir um público, que hoje, com o pessoal saindo na rua normalmente, é mais difícil. Se eu saio hoje, eu provavelmente não teria essa ferramenta para me ajudar nessa possibilidade de trabalho, ou não teria conseguido fazer o meu relativo sucesso, na minha casinha, no meu tamanho, se eu não tivesse tomado essa decisão durante a pandemia. Mas eu acho que a pandemia ajudou a tomar a decisão, a pandemia ajudou a realizar, o digital está gigante, as pessoas estão em casa e ninguém assiste tv a cabo.”

De acordo com a Folha de S. Paulo, citando um estudo da multinacional Nielsen, no Brasil já existem mais 500 mil influenciadores digitais. Neste caso, pessoas com mais de 10.000 seguidores espalhados em suas redes sociais. Número superior ao de engenheiros civis, 455.000, e equiparado ao de médicos, 502.000. Em maio de 2021, Canedo já enxergava um grande futuro através do trabalho com as próprias redes sociais, como influenciador. Muito por conta da busca das marcas e patrocinadoras em investir nas pessoas físicas, refletindo no público que as segue e acompanha.

“Tem gente que está super crescendo, escalonando. E aí, eu fui vendo os exemplos de pessoas, eu uso o termo porque para mim não tem mais problema nenhum, mas tem gente que ainda vê influencers de maneira pejorativa, acho que não. Temos hoje muitos influenciadores positivos, influenciador é o cara que você gosta de ouvir opinião, você gosta de acompanhar o que ele diz, e de certa maneira isso tem um grande valor aqui fora para as marcas, porque elas sabem que pode se comunicar direto com seu público, ao invés de gastar muito mais para fazer um anúncio no intervalo do SporTV, ficando aqui só no esporte. Imagina o que é na própria TV Globo, a marca hoje pode economizar indo direto no influencer. O influencer vai receber o dinheiro da publicidade e não a tv que vai decidir ou não te repassar. Então, isso é só um dos exemplos que eu acho que o digital trouxe pesado, de ganho para a pessoa física que está querendo sair. Eu não digo que é fácil, não vou dizer que é garantido para todo mundo. O que eu falo para quem está começando é para construir a sua base desde cedo, estar presente em todas as redes sociais, produzir conteúdo, que isso é algo muito valioso hoje, as pessoas querem consumir um bom conteúdo.”

CRESCIMENTO DAS PLATAFORMAS DE APOSTAS ESPORTIVAS

As casas de apostas esportivas são outros meios que os influenciadores, apostadores e jornalistas estão montando suas carreiras. Victor é patrocinado pela casa de apostas Betano desde junho de 2021 e sente-se muito feliz com a parceria e ainda poder vestir a camisa do tricolor, já que a casa é patrocinadora do clube.

Foto: Parceria de Victor Canedo | Instagram

O canal do Canedo posta regularmente dicas de apostas em jogos esportivos. O jornalista que também ama futebol estuda as estatísticas do esporte para saber qual a melhor aposta para indicar em seus vídeos.

Victor também acredita que muitos dos seus inscritos chegam ao seu canal por meio das dicas que ele faz para a Betano, já que é um mercado que vem crescendo muito.

Patrocinadores

O patrocínio é muito importante para a sobrevivência e o crescimento dos jornalistas independentes. São eles que abrem portas para a entrada destes influenciadores para eventos e asseguram que eles tenham condição financeira para continuar trabalhando.

A casa de apostas Betano é a grande parceira de Victor. Ele conta ainda com os retornos financeiros das plataformas, como o YouTube, que pagam por número de acessos, visualizações e outros.

Sobre a Betano

A Betano é uma casa de apostas desportivas e de origem Grega. Atualmente ela está presente na Alemanha, Brasil, Chipre, Grécia, Portugal e Romênia.

Nela é possível fazer vários tipos de apostas em diversas modalidades, como por exemplo quantos gols fará determinado time em um jogo de futebol, ou até se uma luta de UFC irá até o fim.

Copa do Mundo: Sonhos e Riscos

A Copa do Mundo é o evento máximo do futebol global. Acontece a cada 4 anos e une os maiores craques do futebol em seleções que vestem as bandeiras de suas nações. O mundo para. O Brasil para. São vários feriados nacionais para acompanhar a incessante busca pelo hexa. Além de tudo, é um prato cheio para a imprensa desenvolver seu material e contar as mais variadas histórias que levaram os personagens até ali. As ruas do país-sede, neste ano o Qatar, são tomadas por fãs e jornalistas de todos os cantos da Terra.

Foto: Agência de notícias da Copa do Qatar | Internet

Victor não tem passagem garantida para cobrir a Copa do Qatar. Enquanto a Globo costuma levar seu time esportivo para coberturas in loco, no mundo autônomo, as incertezas pairam e é preciso trabalhar com elas, sem a criação de grandes expectativas que podem ser frustradas. Apenas os grandes nomes dos conteúdos independentes têm apoio financeiro e certezas antecipadas pelos seus patrocinadores.

No capitalismo, o lucro está ligado a assumir riscos, mas deve-se calcular quais riscos podem ser assumidos e quais levarão ao prejuízo.

“Posso acordar e receber um e-mail maravilhoso ou não ter nada na caixa de entrada. Independente, tenho que fazer minha parte todo dia.”

Mesmo de longe, Canedo já iniciou os trabalhos voltados para a competição do Qatar no final do ano. Primeiro, estreou o quadro O Cara da Copa.

Uma vez por semana, o Canal do Canedo apresenta histórias de vida e carreira de jogadores famosos que provavelmente estarão na Copa do Mundo, se tudo correr como planejado. Seguindo o padrão já dissecado anteriormente, os vídeos trazem imagens e cortes que ilustram a história narrada pelo jornalista. Envolvente e interessante, o quadro é um sucesso do canal e das redes sociais que aparece.

Outros vídeos de maior duração também trazem o tema da Copa, em alta no nicho futebolístico. Não só a Copa, mas a espera pela Copa também é um mercado que rende bons frutos no digital e é aproveitado por Canedo.

Foto: Canal do Canedo | YouTube

Mas como enxergar esses mercados? Como ter sucesso nas redes sociais? O quê e como fazer? Essas perguntas também passaram pela mente de Canedo. A luta entre o trabalho mediante as dúvidas formulou o sonho da independência com olhar voltado ao futuro.

Através do minucioso processo de pesquisa e conversa com amigos da televisão e das redes sociais, Canedo apreendeu uma perspectiva enorme do digital, que passou a fazer mais sentido para ele.

Termos contratuais de exclusividade formaram uma bifurcação, que fez Canedo tomar a decisão que tornou o jornalista um dos pioneiros no mercado digital esportivo. Podia seguir o caminho tradicional no SporTV — um dos maiores canais de mídia esportiva do Brasil — ou aventurar-se no mundo das redes sociais. Tomou a 2ª opção, com todas as implicações que isso significa.

Seu estilo jornalístico fortemente inspirado no seu mentor, Lédio Carmona encontra a jovialidade estética da internet na produção de conteúdo dentro do que Canedo chama de “batalha diária”.

“Crescer na internet é uma batalha diária, um trabalho de formiguinha, sempre buscando atrair, chamar atenção de mais gente, atrair parcerias.”

Enquanto a mídia tradicional prega pela exclusividade, a internet cria a possibilidade de diversificar seu conteúdo em diversos temas, formatos e editorias, com autonomia maior na seleção de pautas, formando assim um espaço mais democrático e independente para gerar valor tão diversos quanto seus investimentos. Canedo dá dicas para aqueles, que como ele, planejam se lançar no cenário digital.

“O financeiro fala alto. As marcas estão cada vez mais olhando para aqui. É apostar no seu. Precisa fazer um excelente marketing e cuidar bem das redes sociais. Ela é sua vitrine, mais importante que um currículo hoje em dia.”

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