Portal BHAZ: O Jornalismo que BH precisava

Elen Batista
LabCon / UFMG
Published in
7 min readNov 28, 2023

Matérias de linguagem simples que conversam diretamente com o público belorizontino são o que caracteriza o portal

Por Brenda Luiza, Davi Alfeu, Elen Batista, Felipe Silva e Fernanda Ribeiro

Logo do portal. Fonte: BHAZ.

Pedro Guadalupe fundou o portal BHAZ em 2012, por ter percebido que os grandes jornais não estavam chegando ao digital. Ele já existia como uma página do Facebook, mas a partir daquele ano se tornou um site próprio na internet. Guadalupe enxergou um vácuo no jornalismo digital que falava de Belo Horizonte, em um momento que as grandes mídias da cidade ainda não estavam presentes nas redes por completo. Ou melhor, não sabiam que elas pediam um tipo de conteúdo diferente do jornal impresso.

Roberth Costa, editor-chefe, definiu Pedro como “fora da curva”. Começou a vida estudando publicidade e propaganda, curso que nunca terminou. Depois, em meio a carreira no marketing político (onde trabalhou em campanhas do PSDB, PP e Democratas), ele criou uma página no Facebook de jornalismo focado em Belo Horizonte, a BHAZ. Parece que essa gênese do portal diz muito de como ele funciona: algo fresco no jornalismo, novo e que está ainda excitado por novas mudanças.

Ele sentiu que “nas redes sociais, os portais e jornais que já existiam não tinham tanta força”, diz Roberth sobre Guadalupe. Que o jornalismo não estava se adaptando bem ao ambiente digital, e que era necessário mudar os modos de produção, de distribuição, e de financiamento das matérias na era da informação. Hoje o BHAZ é sediado no prédio da Ethos Media, holding com enfoque em mídia programática, que é proprietária do site desde 2022. Um edifício cinza com vidraças pretas localizado no bairro São Paulo em Belo Horizonte, próximo ao Minas Shopping. Foi onde fomos recebidos por Pedro Rocha, gerente comercial, e por Roberth Costa, editor-chefe e cofundador, já citado.

Pedro Guadalupe, fundador do portal. Fonte: BHAZ.

A PRODUÇÃO DAS NOTÍCIAS

A redação é bem pequena: uma sala com algumas mesas compridas equipadas com computadores de ponta a ponta. Em meio a um ar condicionado potente e uma parede de triângulos coloridos ao fundo, todos os trabalhadores nos cumprimentaram com sorrisos e um “olá” quando Pedro nos apresentou. E esse é o lugar que os jornalistas mais habitam durante o processo de produção das notícias: as apurações são feitas em sua maioria remotamente, via telefone ou internet. A ida do jornalista para a rua não é comum, e acontece apenas quando necessário.

O modo de produção das matérias segue o modelo mais conhecido de jornalismo: os editores escolhem as pautas que os repórteres vão apurar. A apuração muitas vezes não conta com entrevistas, mas sim com o uso de matérias com fontes terciárias, referenciando outros veículos. Por exemplo, uma matéria sobre uma nova maneira de realizar o cálculo da raiz quadrada descoberto por uma aluna do ensino fundamental, é creditada à Revista do Professor de Matemática. Também são usadas como fontes agências de notícias externas, como a Agência Brasil, da Empresa Brasileira de Comunicação. A escrita pode variar entre o próprio repórter ou uma redatora, que volta aos editores para a publicação. Pedro, que também é diretor executivo do BHAZ, acrescentou que caso o texto esteja dentro do padrão do portal, ele já é publicado no ato da edição.

Identificamos esse padrão como uma escrita mais informal e desenvoltura da linguagem jornalística, mas se mantendo atento à verificabilidade e objetividade, segundo o próprio portal. Essa mistura da seriedade da produção jornalística e a irreverência da estrutura e linguagem pode ser considerada a essência do portal BHAZ. Isso seria a raiz do projeto que Guadalupe tinha de fazer um jornalismo que entrasse no cotidiano.

O ASSUNTO DAS NOTÍCIAS

As editorias são definidas pelo o que eles imaginam que o público deseja saber no momento. “A gente tem uma pegada muito forte de cidades, que é o que está rolando no dia a dia”, afirma Roberth. Anúncio de eventos, vagas de emprego, guias culturais e de lazer, notícias do cotidiano da cidade. Quando questionados sobre o porquê do foco na cidade de Belo Horizonte, Roberth fala do vácuo enxergado por Pedro Guadalupe. É um jornalismo local, aos moldes dos programas telejornalísticos regionais, como o Bom Dia Minas e SPTV. Contudo, o portal também apresenta algumas notícias do Brasil e, às vezes, do mundo.

Redação do portal BHAZ. Foto tirada durante visita técnica.

A aproximação ao cotidiano das pessoas de que tanto falam Roberth e Rocha, é uma aproximação do cotidiano dos belorizontinos especificamente. Por exemplo, uma das matérias é sobre um homem mineiro que está na lista de pessoas que supostamente cooptavam brasileiros para atuar no Hamas. Isso é pautado, dentro da lógica do portal BHAZ, não por uma relevância do ocorrido, mas porque trata-se de um acontecimento sobre BH.

Além disso, matérias sobre os anúncios públicos de investimentos do governo, inscrições para concursos públicos, vagas de emprego, e clima caracterizam bem o que o BHAZ cobre. Pautas “frias”, que não possuem um tempo de apuração e publicação tão rápidas quanto as “quentes”. Realmente, o que Guadalupe idealizou ainda está funcionando: um jornal regional nas redes. Somente algumas vezes, como nas eleições do ano passado, o BHAZ noticia eventos fora do eixo BH-MG.

As eleições, momento crucial da política brasileira e de desinformação generalizada, inclusive, foram as responsáveis pela inauguração da editoria de política. Na época, o Portal BHAZ entrou firmemente na briga contra as fake news. Porém, passado esse momento, entraram em um processo de reestruturação. Essa possibilidade de mudança constante é uma grande característica da redação. Na entrevista cedida a nós, tanto Pedro quanto Roberth salientaram a necessidade de sempre deixar um espaço para a tentativa e para a adaptação. Para eles é muito mais importante ir mudando conforme as necessidades do que ficar preso a uma tradição específica.

A DISTRIBUIÇÃO DAS NOTÍCIAS

Depois da matéria escrita e editada, ela é publicada no portal, centro do trabalho deles. Então, as redes distribuem o link do site. Contudo, Pedro Rocha também fala que há “mini matérias” que ficam apenas no Instagram ou no Facebook, com a utilização da legenda como informativo.

Segundo uma análise que fizemos dos posts no instagram, as matérias são distribuídas na rede com uma manchete inserida na imagem junto com dois parágrafos, normalmente apropriados do lead, na legenda. Era isso que Pedro Guadalupe enxergou lá atrás, essa possibilidade de ter jornalismo sério nas internet, que falasse diretamente com as pessoas. Roberth diz que o uso do portal e das redes é “meio que retroalimentado”. “Tem ali um site como a base de tudo, mas a gente também fica recirculando os conteúdos. Então, pode ser que a gente faça uma publicação só no Instagram e que não tenha uma reportagem”, afirma. Apesar disso, Pedro destacou: cerca de 90 por cento do conteúdo é originário do site. “Acho que a gente se diferencia [dessa maneira], inclusive, até de influenciadores digitais. Temos uma plataforma robusta, que dá um trabalhinho para poder fazer”, diz.

Além do Instagram, a redação também utiliza bastante o Facebook e o Whatsapp. O portal tem impressionantes 16 páginas no Facebook, cada uma com uma localização específica (Contagem, Nova Lima, Betim, até São Paulo!), muito devido à capilaridade permitida pela plataforma. O Whatsapp também é utilizado como meio de distribuição das matérias. O BHAZ tem vários grupos no aplicativo de mensagens. Por meio deles, as matérias e notícias são encaminhadas e compartilhadas. É nessa rede também que o portal possui um canal de Inbox, permitindo o contato da redação com os leitores.

Fachada do prédio onde está localizado o portal. Foto tirada durante visita técnica.

O DINHEIRO DAS NOTÍCIAS

Logo quando se abre a página inicial do portal, se percebe o grande número de anúncios nas “beiradas”. Quando se clica em uma matéria, um anúncio aparece antes da visualização da página ser possível. Esses são do Google Ads, um serviço da Google que oferece esses anúncios em websites. Eles atuam como intermediadores entre as empresas anunciantes e os sites que buscam hospedar publicidades desse tipo. Essa é hoje a principal fonte de renda. Lembra que falamos sobre a Ethos, a holding que hoje é dona do BHAZ? Ela é especializada em mídia programada, que é justamente essas propagandas nos sites de maneira automatizada.

O portal também oferece oportunidades de publicidade mais tradicionais. Realizam também matérias patrocinadas ou espaço cedido nas redes sociais, que se relacionam mais com os meios clássicos do jornalismo de ganhar dinheiro. Por exemplo, Pedro Rocha nos contou que há uma parceria com o Shopping Del Rey prestes a acontecer.

Além de tudo isso, eles também entraram em dois editais para jornalismo digital: um da Google e outro da Meta. Esses editais são formas das empresas financiarem projetos de jornalismo no ambiente digital, e de oferecerem workshops e oficinas de aperfeiçoamento. Fazem isso, pois elas também se beneficiam da presença desses veículos em suas plataformas.

O BHAZ oferece um jornalismo regional em um ambiente digital, focado em Belo Horizonte. Hoje ele é o portal jornalístico mais seguido do país, com quase 3 milhões de seguidores, somando todas as suas plataformas. Há muita gente lendo eles. Talvez esse seja o jornal regional e digital que BH precisava, como Guadalupe pensou.

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