IA, governos e cidadãos — como uma viagem espacial ajuda a entender o papel de cada um?

Walternor Brandão
LABHacker
Published in
5 min readAug 9, 2023

Inteligência artificial (IA) é um campo em constante expansão, capaz de nos trazer promessas empolgantes, mas também desafios significativos. Enquanto a tecnologia avança rapidamente, a responsabilidade de moldar seu uso ético e seguro ainda preocupa muita gente — e com razão.

A verdade é que ao mesmo tempo em que abre incríveis possibilidades, como ajudar médicos a fazer diagnósticos mais precisos e acelerar a descoberta de tratamentos para doenças complexas, a IA também tem se mostrado muito aberta a equívocos, como refletir preconceitos presentes nos dados usados para treiná-las, resultando em decisões discriminatórias e injustas. O uso massivo de dados pessoais na IA também levanta preocupações sobre a privacidade e o risco de vazamento de informações confidenciais, além da difundida inquietação sobre o seu impacto negativo na força de trabalho.

Esse cenário de oportunidades e cautelas faz com que a regulamentação das IAs seja cada vez mais cobrada dos governos, mas será que essa atribuição caberia apenas às autoridades? E quanto aos cidadãos? Que parte lhes toca nessa importante discussão? Neste artigo, exploraremos como esses dois atores podem trabalhar em harmonia para garantir a accountability dos algoritmos de IA e como os laboratórios públicos de inovação podem ajudá-los nisso.

Imagine a IA como uma nave espacial rumo ao desconhecido, desbravando fronteiras que antes pareciam inalcançáveis. Nesse percurso, seu destino precisa ser guiado por mãos capacitadas, mas também por mãos cuidadosas.

Imagens: Istockphoto

O governo desempenha um papel crucial na definição das rotas e na criação das regras que orientam essa jornada. São os governos que, por exemplo, têm o poder legal de estabelecer políticas e regulamentações que garantam a segurança e ética da IA, para que ela alcance novos horizontes sem se perder no meio do caminho. São eles também que podem fomentar a inovação responsável, incentivando o desenvolvimento de tecnologias que atendam às necessidades sociais e evitem potenciais riscos.

Por outro lado, uma das chaves fundamentais para uma governança efetiva da IA é a participação dos cidadãos. Afinal de contas, eles são os passageiros a bordo daquela nave espacial que imaginamos. Seus destinos e vidas serão diretamente impactados pelas decisões tomadas em torno da IA. Como parte interessada, é seu direito e dever questionar, monitorar e ser parte ativa na accountability dessa tecnologia. Os cidadãos trazem consigo perspectivas diversas e experiências únicas que são inestimáveis na definição de rumo e na identificação de possíveis desvios de rota nessa jornada.

Com essa imagem em mente fica mais fácil perceber que a sinergia entre o governo e os cidadãos é imprescindível para garantir uma governança sólida e responsável da inteligência artificial. Enquanto o governo assume a importante tarefa de estabelecer o funcionamento seguro e ético da IA, os cidadãos desempenham um papel essencial como passageiros nessa jornada tecnológica. Suas perspectivas diversificadas e experiências únicas enriquecem o processo decisório e apontam o caminho por meio de uma governança mais inclusiva e representativa. Mas como públicos tão diferentes podem trabalhar juntos? Bom, é aí que os laboratórios públicos de inovação surgem como uma boa alternativa.

É justamente nesse tipo de cenário que os laboratórios governamentais podem desempenhar um dos seus mais característicos atributos: o de hub de conhecimento e experimentação. Para seguir na nossa analogia da viagem espacial, é como se os labs cumprissem o papel de Mission Control, aquele pessoal da NASA que fica em terra acompanhando a trajetória das naves. A principal responsabilidade dessa equipe é monitorar o status do voo durante as missões, comunicando-se constantemente com os astronautas a bordo da nave e fornecendo-lhes atualizações de dados para eventuais problemas que possam surgir durante a jornada espacial.

Semelhantemente, os laboratórios públicos de inovação podem ser vistos como um espaço vocacionado para unir os esforços do governo e da sociedade em prol da accountability da IA. Funcionando como um hub de conhecimento e colaboração, especialistas em ética, cientistas de dados e cidadãos podem encontrar nos labs o ambiente perfeito para discutir, analisar, experimentar e aprimorar o modo de funcionamento e implementação dos sistemas de IA.

Por exemplo, assim como a equipe do Controle de Missão é encarregada de analisar e interpretar os dados coletados pelas naves para garantir que tudo esteja indo conforme o planejado, os labs também podem contribuir para a tomada de decisões críticas por meio da exploração dos dados gerados pelo uso das IAs, garantindo a manutenção da rota até o destino projetado. Ou seja, por meio dos labs, governo e cidadãos podem buscar encontrar o equilíbrio entre a inovação tecnológica e os princípios éticos, permitindo que a IA alcance os novos patamares pretendidos sem prejudicar o bem-estar e os direitos humanos.

Essa parceria entre governos, cidadãos e laboratórios pode garantir a fluidez necessária para experimentarmos voos menos turbulentos do que os que estamos vendo hoje. Imagine o governo estabelecendo as diretrizes e regulamentações, os cidadãos fornecendo o feedback e a perspectiva humana, e os laboratórios oportunizando a expertise técnica e experimentação colaborativa para aprimorar a tecnologia. Parece um bom itinerário, não é mesmo?

Para isso funcionar, é fundamental que os governos garantam transparência em suas políticas e se mostrem comprometidos em ouvir atentamente as vozes dos cidadãos. Os cidadãos, por sua vez, devem estar dispostos a se envolver e colaborar construtivamente para encontrar soluções responsáveis. E os laboratórios públicos de inovação devem ser abertos e inclusivos, incentivando a participação de todos os interessados para que a viagem flua suavemente.

Não é difícil concordar que a responsabilidade dos governos na accountability da IA seja indiscutível. Contudo, é preciso atentar para o fato de que a participação dos cidadãos é fundamental para garantir que a tecnologia seja moldada de acordo com os valores e princípios da sociedade. E talvez os laboratórios públicos de inovação sejam um dos melhores elos para conectar esses dois atores, proporcionando a colaboração e a expertise necessárias para que a IA siga um caminho seguro e ético rumo às promessas de um futuro melhor.

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