Inovação: Brasil volta para o grupo dos 50 líderes globais

Simone Ravazzolli
LABHacker
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8 min readOct 9, 2023

Nos últimos dias, foi publicado o mais recente estudo sobre inovação nos países, o Índice Global de Inovação (IGI). Em sua edição de 2023, o levantamento trouxe uma série de boas notícias para os brasileiros interessados em indicadores que revelam essa tendência. Vamos descobrir um pouco mais sobre esse trabalho e celebrar as conquistas?

Os novos dados revelaram que o Brasil superou o Chile e alcançou a liderança, pela primeira vez, entre os países da América Latina e Caribe. Essa posição no ranking significa, entre as mais de 130 economias que fazem parte do estudo, o 49o lugar. Ou seja, o Brasil agora está entre os 50 líderes globais no campo da inovação. Para isso, foram cinco degraus subidos neste último ano, o que coloca o país novamente entre os destaques do relatório: apresenta, pelo terceiro ano consecutivo, resultados em inovação superiores aos esperados para o seu nível de desenvolvimento. Essa conquista marca nossa volta para o seleto grupo dos mais inovadores. Sim, há 12 anos (2011), fomos incluídos pela primeira vez, quando ocupamos o 47 lugar, mas depois voltamos a cair. Será que agora a gente se garante?

Crédito: Fotomontagem

Como o levantamento é feito?
Primeiro, vamos entender um pouco melhor sobre o IGI. O Índice Mundial de Inovação, que está em seu 16ª ano, é uma referência importante para medir o desempenho das economias mundiais em termos de inovação. Elaborado anualmente pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) com a ajuda de parceiros, o IGI é uma ferramenta de medição e comparação de resultados com base em dezenas de indicadores que revelam o quão inovador é aquele país. No Brasil, o apoio é da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) e a Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI).

Atualmente, a organização coleta poucos dados sobre seus estados-membros, geralmente relacionados à propriedade intelectual. A maioria das informações para o levantamento do índice é compartilhada por organizações já responsáveis pela coleta de determinados dados, como a Unesco, por exemplo. Mesmo com atualização anual, há uma reconhecida defasagem nos resultados do levantamento. Ou seja, há um espaço significativo de tempo entre a formulação de políticas de inovação, sua execução e o impacto nos dados.

Nos resultados para 2023, os responsáveis pelo relatório ainda destacaram o cenário de incertezas com a recuperação econômica dos países pós-pandemia e juros altos, além de conflitos geopolíticos. Cerca de 88% dos dados usados na definição das classificações do atual IGI abrangem o período de 2020 a 2023. A maioria refere-se a dados de 2021 (34%) e 2022 (35%). Isso, explicam, poderia refletir tendências — e leia-se também classificações no ranking — de curto prazo apenas. Em outras palavras, muita coisa pode mudar no IGI 2024.

Os países não só formam um único ranking mundial, como também são avaliados em grupos separadamente, dependendo de suas economias e graus de desenvolvimento. Não é uma competição geral só para descobrir quem está à frente, mas um acompanhamento que tem o objetivo de orientar os decisores políticos e líderes empresariais dos países a promoverem ações em inovação, empurrando todos para melhorarem seus resultados. O IGI se propõe a ser uma ferramenta prática para auxiliar na elaboração de políticas de inovação e é reconhecido desde 2019 pela Assembleia Geral das Nações Unidas como um instrumento de referência para avaliar a inovação.

Brasil em foco
A edição IGI 2023 considerou 80 indicadores diferentes para essa avaliação dos países. Eles são distribuídos em inputs, ou seja, os insumos, as condições e elementos disponíveis para apoiar atividades de inovação (como educação, recursos humanos e ambiente de negócios), e os outputs (resultados como produção científica, patentes, novos produtos, serviços e processos). Além disso, todo ano o levantamento destaca os pontos fortes e fracos de cada um dos participantes e identifica os 100 principais clusters de ciência e tecnologia do mundo. Neste ano, também conseguimos emplacar um cluster no ranking dos 100: São Paulo, a única representante da América Latina.

A gente fala de inovação e resultados, mas quais seriam essas essas possíveis entregas que englobam os 80 indicadores? Produção científica, patentes, novos produtos, serviços e processos, entre outros. O Brasil, por exemplo, teve desempenho considerado acima da média nos resultados de Criatividade; Sofisticação de Negócios; Sofisticação de Mercados; Capital Humano; e Pesquisa e Infraestrutura.

Nosso país também integra o seleto grupo das 15 economias mais bem classificadas nos indicadores Serviços Governamentais Online (14o lugar do ranking) e Participação Eletrônica (11o lugar). Considerando uma lista com mais de 130 países, liderados por Suíça, Suécia, Estados Unidos, Reino Unido e Singapura, as economias mais inovadoras do mundo (IGI 2023), é pra deixar o cidadão brasileiro cheio de orgulho mesmo… ;-)

Crédito: Freepik

Unicórnios
Uma das novidades deste ano foi a inclusão da categoria Unicórnios, cujo indicador representa o valor combinado dessas empresas de um país. Lembrando que são as startups privadas que valem mais de U$ 1 bilhão, crescem num ritmo bem maior que as empresas comuns e apresentam produtos, serviços e/ou modelos de negócios inovadores. China, Índia e Brasil se destacaram como economias de renda média com uma alta concentração de unicórnios em relação ao nível de desenvolvimento (quadro abaixo). O Brasil garantiu um honroso 22o lugar na categoria, com suas 16 empresas representando um valor total de 1,9 do PIB nacional em 2023. O destaque foi para as líderes QuintoAndar (comércio eletrônico), C6 Bank (fintech) e Creditas (fintech).

Fonte: Global Innovation Index 2023

Com o valor acumulado dos unicórnios ajustado pelo PIB do país, garantiram a primeira colocação no ranking dos Unicórnios: Estônia (Bolt, automóvel e transporte), Israel (Wiz, cibersegurança), Lituânia (Vinted, comércio eletrônico), Senegal (Wave, fintech) e Estados Unidos. Na sequência, temos Hong Kong/China (6ª), Reino Unido (7ª), Singapura (8ª), Índia (9ª) e Finlândia (10ª).

Outros destaques de classificação do Brasil foram a melhora significativa de seu desempenho em Produtos de Inovação (49o lugar) e em Ativos Intangíveis (31ª). Com relação a Marcas registradas, ocupa o 13ª lugar do ranking, com o Valor Global das Marcas em 39ª, principalmente pelo reforço das já tradicionais Itaú, Bradesco e Banco do Brasil. O país também garantiu a liderança na América Latina e Caribe nos indicadores Sofisticação Empresarial (39o lugar) e Produtos de Conhecimento e Tecnologia (52ª).

Economias em destaque
A Suíça permanece, pelo 13o ano consecutivo, como a campeã mundial da inovação, liderando incontestavelmente o ranking. Suécia assume o segundo lugar, que era dos Estados Unidos até 2022. Apesar de perder uma posição, os EUA apresentaram, por mais um ano, o melhor desempenho no maior número de avaliadores de inovação do IGI: venceram 13 dos 80 indicadores. Então separe a pipoca, porque essa disputa pelo segundo lugar promete ser bem empolgante nos próximos relatórios…

Fonte: Global Innovation Index 2023

O Reino Unido segue firme em sua quarta posição, enquanto Singapura entra para o grupo das cinco economias mais inovadoras do mundo, com o melhor desempenho em 11 dos 80 indicadores. A cidade-estado, que é um pouco maior que Mônaco ou o Vaticano, lidera com Eficácia das Instituições Públicas, Acesso a TIC, commits no GitHub, Produtos da Indústria de Transformação de Alta Tecnologia e Estabilidade Operacional para Empresas, entre outros. No indicador Instituições, por exemplo, o Brasil ficou com um vergonhoso 99o lugar, dos 132 possíveis.

Em termos de desempenho em inovação, a Indonésia chamou a atenção e registra um dos avanços mais notáveis da última década, juntando-se a China, Turquia, Índia, República Islâmica do Irã e Vietnã. Falando em China, o país é o único de renda média no grupo das 30 economias mais inovadoras do mundo, ocupando a 12a posição este ano, uma a menos do que no ano passado.

Expoentes em inovação
De acordo com o IGI 2023, 21 economias apresentaram desempenho em inovação acima das expectativas em relação ao seu nível de desenvolvimento econômico São as chamadas expoentes em inovação, quando entregam resultados melhores que os esperados. Na região da América Latina e Caribe, por exemplo, são dois países em destaque: Brasil e Jamaica, esta pelo segundo ano. O Brasil é o único país classificado no relatório como expoente em inovação pelo terceiro ano consecutivo.

Também na América Latina e Caribe, seis economias apresentaram resultados abaixo das expectativas e acabaram perdendo posições no IGI 2023: Argentina (73ª), Costa Rica (74ª), República Dominicana (94ª), Paraguai (98ª), Equador (104ª) e Guatemala (122ª).

Clusters de C&T
De acordo com os dados para este ano, os cinco maiores clusters mundiais de ciência e tecnologia estão concentrados na Ásia Oriental. China tem 24 clusters, seguida pelos EUA, com 21. Para você ter uma ideia das forças, o primeiro cluster da Europa a aparecer na lista é Paris, apenas na 12ª posição. Tóquio/Yokohama é o maior cluster de C&T do mundo, enquanto Cambridge (Reino Unido) registra o nível mais intenso de atividade científica e tecnológica.

Aqui mais uma vez o Brasil se destaca: São Paulo (Brasil) consegue se classificar como o único cluster da América Latina na lista, em 72o lugar. Junto com Bengaluru, Deli, Chennai e Mumbai (Índia); Teerã (República Islâmica do Irã); Istambul e Ancara (Turquia); e Moscovo (Federação Russa), São Paulo também faz parte do time dos únicos clusters de economias de renda média do IGI 2023 fora da China. Nos últimos cinco anos, a cidade brasileira foi responsável por 42 pedidos de registro internacional de patentes e pela publicação de 1.406 artigos científicos, em média, por 1 milhão de habitantes.

Raio X regional
A América do Norte (Estados Unidos e Canadá) é considerada a região mais inovadora do mundo. OS EUA registram a maior pontuação mundial em indicadores como Investidores Empresariais Globais em P&D; Capital de Risco Recebido; Qualidade das Universidades; Unicórnios; Gastos com Software; e Intensidade de Ativos Intangíveis Corporativos.

A Europa (39 países no estudo) concentra o maior número de líderes em inovação entre as 25 economias mais bem classificadas: 16. A Suíça ocupa pelo 13 ano consecutivo o primeiro lugar, registrando as maiores pontuações em Produtos de Conhecimento e Tecnologia; e Produtos Criativos.

A região do Sudeste Asiático, Ásia Oriental e Oceania ano a ano diminui a diferença de pontuação em relação à Europa. Atualmente, seis economias dessa região são líderes mundiais em inovação: Singapura (5ª), República da Coreia (10ª), China (12ª), Japão (13ª), Hong Kong/China (17ª) e Austrália (24ª).

Na região da América Latina e Caribe, o Brasil ultrapassou pela primeira vez o Chile (52ª). O México (58ª) aparece em terceiro lugar no ranking. As únicas outras economias da região que melhoraram sua classificação em 2023 foram o Uruguai (63ª) e El Salvador (95ª). Entre os indicadores, o Uruguai é líder regional em Instituições (31ª); o Peru registra a melhor pontuação em Capital Humano e Pesquisa (50ª); e o Chile e México assumem a liderança regional em Infraestrutura (52ª) e Produtos Criativos (45ª), respectivamente.

Fonte: Global Innovation Index 2023

Gostou do resultado? Pois a CNI, que é responsável pela produção e divulgação dos dados aqui no Brasil, avalia que o país ainda não atingiu o seu potencial para melhorar o ecossistema de inovação, o que seria possível com mais investimentos e políticas direcionadas à área. Você concorda? A gente aqui no LAB concorda, mas também comemora. Isso porque sabemos que essas vitórias vieram do esforço e dedicação de muitos, e quem trabalha com inovação sabe que não é nada fácil…

Então bora celebrar e torcer para mais conquistas no ano que vem! \o/

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Simone Ravazzolli
LABHacker

Jornalista em constante aprendizado, entusiasta da Democracia e da participação social.