Primeiro Hackathon Legislativo no Paraguai

Hackers do LAB
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4 min readOct 20, 2015

As iniciativas de parlamento aberto não param de se propagar mundo afora! Vou relatar mais uma iniciativa interessante, dessa vez de um dos nossos vizinhos: o Paraguai. Eu fui lá participar desse intercâmbio de experiências, e aqui estou para vos contar um pouco do que aconteceu. O TEDIC (@tedicpy), uma ONG sediada em Assunção, protagonizou o movimento para organizar uma Maratona Hacker. Eles são fortemente ligados ao software livre e à Internet livre. Como eles mesmos se descrevem: “Somos uma ONG que desenvolve tecnologia cívica aberta e defende os direitos digitais em prol de uma Cultura Livre na Internet”. Funcionam num escritório de coworking em Assunção, o Buena Vista Workklub. Lá coexistem várias iniciativas. O ambiente se assemelha a uma incubadora de empresas, só que mais informal.

O mais interessante foi o contexto em que essa Maratona Hacker foi realizada: na Câmara de Senadores (lá o poder legislativo é bicameral, assim como aqui). Isso traz lembranças de algo? Nossos Hackathons, é claro! É interessante ver mais parlamentos investindo nessas iniciativas. Termos pessoas externas desenvolvendo coletivamente soluções em prol da transparência e da participação pode gerar resultados muito interessantes, como já constatamos aqui. O evento ocorreu ao longo de dois dias. No primeiro dia, quem abriu o evento foi o Presidente da Câmara de Senadores.

Depois, assistimos a algumas apresentações: lei de acesso a informação, privacidade, web design, inovação tecnológica na política. Nesse momento, tive a oportunidade de apresentar nossas experiências com o Laboratório Hacker e os Hackathons. Claro, esse é o motivo pelo qual estava lá, então é sempre bem-vinda a oportunidade de poder mostrar isso para fora. A Maratona propriamente aconteceu no sábado, dia seguinte à abertura. Sabemos que um dia é um tempo curto para o desenvolvimento de um projeto completo, mas há vantagens em se fazer uma maratona curta: permite a experimentação, a prototipação e a prática da ideação. E, também por ser um evento mais curto, acaba atraindo um público maior. Portanto, ao longo de cerca de 10 horas os grupos puderam focar integralmente à exploração das bases de dados disponibilizadas a eles.

Esses dados, inclusive, foram liberados em formatos processáveis pela primeira vez. Até então eles estavam disponíveis no site do Senado. Mas como qualquer desenvolvedor que se deparou com o problema sabe, quando os dados não estão em um formato adequado é muito difícil trabalhar com eles. Espero que o evento seja um indicador de tendência no Paraguai, que recentemente teve aprovada sua Lei de Acesso à Informação (Ley №5.282 de Acceso a la Información Pública). Durante o evento, eles usaram a ferramenta Hackdash, que é muito apropriada para eventos dessa natureza; apesar de simples, permite que ideias novas sejam criadas para que todos possam vê-las e qualquer pessoa que tiver interesse em participar de um projeto pode manifestar interesse e incluir-se na equipe. Ao término, foram 14 projetos. Como em vários outros eventos de natureza colaborativa, não há vencedores; o prêmio é a satisfação e a realização de ter participado e contribuído para um processo maior. Alguns projetos me chamaram a atenção: o cargografias, do Andres “Ruso” Snith (@rusosnith). Ele apresentou na Maratona a possibilidade de ter a mesma visualização que eles têm na Argentina aplicada ao Paraguai (dê uma olhada na versão Argentina do projeto!). Outro grupo se propôs a implantar o Wikilegis (é uma iniciativa que está sendo desenvolvida aqui no LabHacker!). Vários grupos desenvolveram visualizações em cima dos dados orçamentários Paraguaios. Mas o resultado mais concreto de uma Maratona Hacker muitas vezes não está nos projetos, mas na cultura de colaboração que começa a ser lentamente inserida. Isso foi muito visível: funcionários do Parlamento envolvidos com a organização do evento, explicando como funciona o Parlamento a partir de seus pontos de vista e interagindo com aqueles que querem exercer a cidadania, participar do processo político, cada um à sua maneira. Como o próprio presidente da Câmara de Senadores afirmou, esse movimento veio para ficar e é um processo irreversível. Fico feliz de também estar participando desse processo, aqui mesmo no Brasil, particularmente em um Parlamento como o nosso, que está à frente de muitas iniciativas que recebem reconhecimento sempre que as apresentamos. Acompanhe o trabalho do pessoal do TEDIC, muita coisa boa ainda vai sair de lá!

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