Recordações de um titã
CINE#LABJOR na Mostra: Com a palavra, Arnaldo Antunes
por Leonardo Lopes
Com a palavra, Arnaldo Antunes. Idem, Brasil, 2018. De Marcelo Machado.
Após a primeira exibição de Com a palavra, Arnaldo Antunes na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo — evento responsável pelas únicas exibições do projeto na tela grande — , o diretor Marcelo Machado foi questionado a respeito do objeto escolhido para o documentário: “A ideia era dar voz ao Arnaldo”, disse.
Numa abordagem documental jornalística, a produção se alterna entre o vasto material de arquivo captado e uma extensa entrevista com o protagonista. A decisão pelo retrato da intimidade é revelada tanto na seleção do acervo — dos materiais de bastidores, na fase Titãs, aos vídeos registrados pelos próprios artistas, no período dos Tribalistas — quanto na construção do depoimento central, gravado na própria residência de Arnaldo Antunes, evidenciando a espontaneidade de sua presença. A ordenação cronológica percorre todas as etapas da carreira de Arnaldo Antunes e nos permite encará-la — com base na interpretação dele mesmo — como uma narrativa em construção.
A verdade e o afeto presentes nas recordações expressadas por Antunes, dão à obra um caráter de manifesto pela arte, desde as iniciativas da juventude, com o incentivo criativo enquanto parte central de sua educação, passando pela decisão de saída dos Titãs — “Eu tinha anseios que não cabiam mais ali” — até o estágio mais maduro de sua existência artística, marcado por um fascinante experimentalismo que, usualmente, deixa de existir com a superação da “fase de sonhos” e o acúmulo de experiência. Deixar-se experimentar, independentemente da estranheza, é o lema que legitima o personagem de Com a palavra, Arnaldo Antunes. Em tempos que perpetuam padrões facilmente cristalizáveis e agridem o distinto, a mensagem que se aprofunda de fato neste “eu” é exercício prazeroso.
Saiba mais sobre o filme em sua página na Mostra.