Como o jornalismo de dados pode ajudar a salvar o planeta

Projetos aliam comunicação e tecnologia contra o aquecimento global e para informar sobre consequências da crise ambiental

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4 min readAug 10, 2022

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Isabela Andrade

muitas informações disponíveis por aí: de relatórios comprovando a contaminação da água brasileira a documentos com registro de propriedades rurais em áreas de demarcação indígena na Amazônia — e o jornalismo de dados pode ser peça chave para garantir que o debate público sobre essas questões venha à tona.

Em clima de encerramento no 4º Domingo de Dados, parte do 17º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji realizado em 7 de agosto na FAAP, o geógrafo Eduardo Carlini e a jornalista Ana Arranha debateram a importância da divulgação de dados relativos a questões ambientais na mesa Vendo o que está à vista de todos.

Os participantes apresentaram projetos desenvolvidos a partir da análise de bancos de dados oficiais disponibilizados pelo Estado, que recorrentemente se encontram em documentos com milhares de linhas de difícil compreensão e acesso.

Ana Arranha apresenta o Mapa da Água no 17º Congresso da Abraji. Foto: Isabela Andrade

Ana Arranha foi a responsável pela concepção do projeto Mapa da Água. Produzido pela ONG Repórter Brasil, o mapa dá luz à qualidade da água no País e aponta a existência de substancias tóxicas em todo o território nacional. Na mesa na FAAP, a jornalista compartilhou detalhes do processo de desenvolvimento do projeto, feito a partir de um complexo banco de dados disponibilizado pelo Ministério da Saúde que demandou um ano de trabalho em equipe.

“O mapa foi elaborado pela equipe de jornalismo, Reinaldo Chaves foi o especialista em dados, além de outras pessoas em dados que ficaram checando e rechecando aquela tabela sem fim — um professor de química da UNESP e um técnico de dados”, contou Ana.

Na cidade de São Paulo, o mapa apontou existência de três toxinas diferentes na água. Imagem: Reprodução Mapa da Água/ Repórter Brasil

A partir do mapa, é possível acessar dados referentes à qualidade da água por cidades e checar quais são as substancias tóxicas presentes ali, classificadas entre dentro e acima do limite de segurança. Além disso, também são fornecidas informações acerca das consequências do consumo.

Já Eduardo Carlini, pesquisador do Observatório De Olho Nos Ruralistas, apresentou o mapa interativo sobre Cadastros Ambientais Rurais (CAR) sobrepostos a 297 terras indígenas em diferentes etapas do processo de demarcação. Isso significa que é possível clicar em determinada área indígena e conferir se alguém a registrou como propriedade particular.

Eduardo Carlini apresenta mapeamento de territórios indígenas no Congresso da Abraji. Foto: Isabela Andrade

Criados em 2012, os CARs são parte da documentação de propriedades rurais para monitorar níveis de desmatamento e demais práticas de preservação ambiental. Segundo Carlini, apesar de não atestar o domínio da terra, esse cadastro tem sido usado no mercado, principalmente na Amazônia, como documento, o que facilita o processo de grilagem”. “Grilagem de terra é uma apropriação indevida onde uma pessoa cerca uma terra e diz que é dela”, explicou.

O mapa interativo foi desenvolvido por Hugo Gusmão e teve suas análises e extração de dados realizadas pela engenheira florestal Taísa Tavares.

Em Santa Catarina, a etnia guaraní tem seu território sobreposto por propriedades rurais. Imagem: Reprodução Observatório De Olho nos Ruralistas

“Sessão depressão, né?”, brincou Eduardo, ao mostrar resultados do mapa. Ele disse, porém, que ainda encontra motivação por saber que está contribuindo para expor casos de interesse público. Em consonância, Ana disse que também se mantém otimista. “Pelo menos tem alguma transparência, estão aparecendo os problemas aqui”, afirmou.

Os participantes ressaltaram também a importância do engajamento coletivo na fiscalização e na cobrança para que existam resultados. Para Ana, é possível vislumbrar um mundo melhor: “Mudança mesmo, água limpa, precisa de muita gente mexendo com isso ao mesmo tempo, mas dá pra fazer sabe?”. No encerramento da mesa, Eduardo deixou o convite para “tornar tudo isso o monstro que é”.

Isabela Andrade é aluna de Jornalismo na FAAP

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