Entidade oferece apoio para mulheres vítimas de violência doméstica

LabJor visita na zona oeste de SP a Casa Márcia Martins, que faz ao menos cem atendimentos por mês

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4 min readJun 14, 2024

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Lara Piller

Em uma rua escondida do Jardim Trussardi, na zona oeste de São Paulo, está a Casa Márcia Martins, um dos Centros de Defesa e de Convivência da Mulher (CDCM) de São Paulo. A unidade na região do Butantã é administrada em conjunto com a Associação Fala Mulher. O LabJor visitou o espaço no dia 14 de junho.

Entrada do CDCM Casa Márcia Martins, na região do Butantã. Foto: Lara Piller

Ao entrar, é possível ver diversos espaços de atendimento, onde mulheres oferecem apoio a outras mulheres para diversas situações. A principal delas é a violência doméstica. Tudo lá é feito sob sigilo para proteger as mulheres que necessitam de apoio. Por isso, a pedido das pessoas entrevistadas, todos os nomes também foram omitidos nesta reportagem.

Segundo o site da Prefeitura de São Paulo, as casas de apoio contribuem para o fortalecimento da mulher e de seus familiares, o resgate da cidadania propicia o rompimento do ciclo de violência em que a mulher e seus familiares estão inseridos, favorecendo a construção progressiva da autonomia e do protagonismo das mulheres em sua vida.

“O serviço conta com três técnicos: eu, que sou psicóloga, uma advogada e uma assistente social. Além da gerente e das educadoras”, conta a profissional que realiza os atendimentos psicológicos da Casa Márcia Martins. “Nós trabalhamos apenas com mulheres em situação de violência doméstica. Os atendimentos são realizados individualmente: elas chegam ou são encaminhadas à unidade e aqui são acolhidas, ouvidas e recebem direcionamento psicológico e acompanhamento jurídico e de assistência social para receber benefícios.”

“Por ser um trabalho que lida com mulheres, a gente, sendo mulher, também tem essa questão da empatia, sabe?”, acrescenta a advogada. “Então se torna algo mais especial pra mim, para nós, porque somos mulheres, do que se fosse um serviço com outro objetivo, com outro público.”

De acordo com a advogada, é possível ver diariamente os resultados do trabalho que realizam. “A gente funciona em colaboração com a Prefeitura. Então todo mês a gente recebe um repasse financeiro”, explica. “A gente tem algumas limitações com isso, mas eu acho que ter um serviço específico para a vítima de violência, ter uma equipe técnica, que conta com uma psicóloga, uma assistente social, uma advogada, oferecer as atividades que a gente oferece, as oficinas, eu vejo que é extremamente proveitoso para elas (vítimas) saírem dessa situação. Ou, se elas já saíram, permanecerem fora. E se fortalecerem, entenderem seus direitos, encontrarem pessoas que também passaram por isso e uma rede de apoio em que podem desabafar sem serem julgadas.”

A advogada destaca que, se tivessem maiores repasses da Prefeitura, as assistentes da casa conseguiriam proporcionar serviços ainda melhores para as vítimas. Ela sente falta na equipe, por exemplo, de uma psiquiatra, que seria de grande ajuda na avaliação e no acompanhamento das mulheres.

Dados disponibilizados pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo mostram que os crimes contra a mulher aumentaram cerca de 30% de 2022 a 2023. A cada 24 horas, oito mulheres sofrem com agressões, torturas, ameaças e ofensas, assédio ou feminicídio, segundo dados do relatório Elas Vivem: Liberdade de Ser e Viver, da Rede de Observatórios da Segurança.

“É um trabalho diário. A gente vai conversando, conhecendo as mulheres e elas aos pouquinhos vão se abrindo com a gente. Às vezes chegam um pouco mais fragilizadas e a gente as ouve enquanto faz atividades. Isso permite que a gente vá aumentando o vínculo com essas mulheres”, conta a socioeducadora da Casa Márcia Martins. “Nas conversas, nas histórias de vida dessas mulheres, de superação, vemos que, nossa, realmente faz sentido o que a gente faz.”

A educadora reforça que o apoio da Prefeitura poderia ser maior e os recursos são escassos. Por lei, a CDCM deve atender ao menos 100 mulheres por mês, mas ela afirma que o número chega a ser maior num município do tamanho de São Paulo. No total, hoje são 15 CDCMs na cidade toda. Uma no centro, duas na zona norte, três na zona sul, uma na zona sudeste, sete na zona leste e uma na zona oeste — justamente a Casa Márcia Martins.

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