Expocine deve debater os desafios do audiovisual no pós-pandemia

Principal evento cinematográfica da América Latina deve ocorrer entre os dias 16 a 19 de novembro no novo Cine Marquise, no Conjunto Nacional

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4 min readSep 27, 2021

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Luiza Lindner

Romper barreiras, unir mercados, integrar profissionais e abrir portas para educar construtiva e culturalmente a sociedade em crise tornou-se essencial para profissionais da área audiovisual, de acordo com os moderadores da palestra que ocorreu no dia 13 de setembro na FAAP, durante a 44ª Semana de Comunicação. Marcelo Lima é fundador da Expocine e da Revista Exibidor, além de CEO da Tonks e do Cine Marquise. Ana Júlia Ribeiro é produtora, criadora de conteúdo, professora da FAAP e apresentadora da Expocine desde 2018. Sob mediação do coordenador do curso de Cinema da FAAP, Humberto Neiva, eles discorreram sobre as atrações da Expocine 2021, o principal encontro cinematográfico da América Latina e segundo do mundo.

Segundo Marcelo, a pandemia de covid-19 trouxe desafios para além das telas para produtores, distribuidores, editores e comunicadores em geral. “Nosso mercado audiovisual está ficando muito digital”, resumiu. “Em conversa recente com representantes da Netflix, eu até me assustei. Hoje em dia analisa-se um projeto até pelo modo com que o título vai caber na plataforma. O filme tem de ter no máximo duas palavras. Até pouco tempo atrás ninguém se interessava por isso. Agora temos que pensar como streaming.”

O fundador da Expocine, Marcelo Lima. Foto: Luiza Lindner

Ao mesmo tempo, as mudanças trazidas pela pandemia reforçaram as produções domésticas. “Qualquer um pode lançar um filme e até mesmo alugar uma sala de cinema por uma semana inteira”, disse Marcelo, apostando num potencial gigante do Brasil para criações em vídeo e áudio e citando o sucesso da série espanhola La Casa de Papel. “Hoje em dia basta saber quem é o seu potencial consumidor e trabalhar naquele potencial consumidor.”

Essa democratização do acesso levou à multiplicação de projetos. Marcelo contou que a distribuidora Paris Filmes propõe geralmente o lançamento anual de 60 projetos, sendo que o ano tem 52 semanas. “Estamos agora com explosão de projetos”, disse. “Então é interessante o quanto estão faltando profissionais capacitados para colocar a mão na massa nesse âmbito empresarial.”

Ele lembrou que uma data inesquecível para qualquer um que trabalha com audiovisual foi 18 de março de 2020, quando vários locais tiveram de fechar as portas por causa da pandemia, inclusive as salas de cinema. Até então, o setor estava crescendo, a produção brasileira era respeitada no exterior e as bilheterias nacionais haviam alcançado 176 milhões de ingressos vendidos em 2019 e R$ 2,8 bilhões de faturamento.

O desafio agora é retomar esses antigos números. “Eu diria que estamos crescendo semana após semana e os resultados (de renda nacional do cinema) estão aumentando. Mas ainda estão longe do padrão pré-pandemia, em 2019, quando em uma semana muito ruim o Brasil se vendia algo em torno de 1,5 milhão de ingressos. Hoje, em uma semana ruim, estamos vendendo 700 mil ingressos, ou seja, a metade do padrão de 2019.”

Para ele, os exibidores estão sendo heróis. “A inflação está assolando o País, mas o preço dos ingressos não aumentou. Os exibidores querem trazer o povo de volta.”

Essas e outras questões do mercado cinematográfico deverão ser debatidas no Expocine 2021, encontro que ocorrerá no Cine Marquise, antigo Cine Arte, no Conjunto Nacional, entre 16 e 19 de novembro. Com apresentação prevista de dez projetos de série de TV e dez projetos de longas-metragens, o evento este ano será menor, com cerca de dez stands — os anteriores chegavam a 60. Estão previstos painéis, palestras, discussões e pitchings, passando por apresentações de distribuidoras e cursos. Entre os temas abordados estarão internacionalização da cultura nacional, fundos de investimentos, coproduções, cenários da animação no Brasil e diversidade no mercado de trabalho.

De acordo com os organizadores, já confirmaram presença ao longo dos quatro dias de evento nomes como Diamond, Imagem Filmes, Paris Filmes, Disney, Universal, Paramount, Warner Bross, Grupo Belas Artes, Vitrine Filmes e O2. Além de Amazon, Netflix, Telecine, Globoplay. Marcelo afirmou que a seleção dos pitchings levou em conta a diversidade e a valorização de vozes femininas, LQBTQIA+ e indígenas.

Uma novidade desta edição será a programação híbrida. Para Marcelo, esse modelo pode virar um padrão, já que proporciona a participação daqueles que antes não podiam estar presentes.

A produtora e professora da FAAP Ana Júlia Ribeiro. Foto: Luiza Lindner

“O mais incrível do audiovisual, na minha opinião, é o colaboração. Ninguém consegue fazer nada que não seja em equipe e a criatividade vem a partir de inspirações. Foi assim que a gente fez com a Tonks, a ‘Revista Exibidor’, a Expocine”, disse Marcelo. “Como profissionais do mercado audiovisual, nós precisamos entender a nossa responsabilidade de estar sempre unidos, trabalhando juntos, de mãos dadas, para construir o futuro da nossa comunicação”, completou Ana Júlia Ribeiro.

Para ela, o mundo não funciona mais da forma como se conhecia, com emissor, mensagem e receptor. “Hoje em dia temos muitas janelas. E como nós, produtores, comunicadores, editores, vamos transitar diante de tantas janelas? Eu acredito que o cinema é parte da nossa construção social e, se temos vontade de mudar o mundo, que comece pela educação.”

Luiza Lindner é estudante de Jornalismo da FAAP

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