Acervo de moda do MAB FAAP é exposto pela primeira vez

‘A Poética do Fazer: Moda e Arte no MAB’ é aberta simultaneamente a ‘O Invisível da Moda Brasileira’, sobre desfile histórico de Jum Nakao

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5 min readApr 5, 2023

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Gabriel Barnabé

Fim da tarde da terça-feira, 4 de março. Pouco antes das 18h os primeiros convidados sobem a escadaria do prédio principal da Fundação Armando Alvares Penteado, em São Paulo. Dali a alguns minutos, a abertura de duas grandes portas seria o frenesi da noite: no salão à direita do Museu de Arte Brasileira (MAB), o novo acervo de moda da instituição se une ao de suas tradicionais artes visuais na exposição A Poética do Fazer: Moda e Arte no MAB. À esquerda, a mostra O Invisível da Moda Brasileira faz uma ode aos 19 anos de A Cultura do Invisível, do estilista Jum Nakao, considerado um dos maiores desfiles do século.

“É importante ter essa conversa porque eu acredito que a moda está muito próxima da arte, sobretudo nessas peças mais interessantes que a gente tem na coleção, com trabalho mais artesanal”, afirmou Laura Rodríguez, curadora da exposição A Poética do Fazer, que ficará em cartaz até 3 de dezembro.

Abertura da exposição A Poética do Fazer: Moda e Arte no MAB. Foto: Letícia Watanabe/ FAAP

É a primeira vez que o acervo de moda do museu é exposto ao público. Fruto de doações de estilistas parceiros, ele começou a ser formado em 2016 e atualmente soma mais de 300 peças, assinadas por renomados estilistas como Lino Villaventura, Reinaldo Lourenço, Lorenzo Merlino, Glória Coelho e o próprio Jum Nakao.

A proposta da exposição é aliar trajes marcantes do acervo a obras têxteis do conjunto de artes visuais. Em seis núcleos, o visitante é convidado a descobrir as criações agrupadas de acordo com as atividades relacionadas ao fazer manual. Entremear, Justapor, Arquiteturar, Estampar, Performar e Vazar são grupos que não se desmembram — pelo contrário, algumas das peças poderiam transitar pelos setores. Os espaços convidam os visitantes a pensar em outros possíveis cenários com diferentes combinações e arranjos.

Unidos aos trajes expostos, outros itens visuais — geralmente têxteis — simbolizam a importante junção de moda e arte. “Tem vários momentos em que elas podem ser distintas, mas tem vários momentos em que elas podem estar de mãos dadas ou até mesmo abraçadas. O processo criativo é uma realidade do fazer sensível. Um fazer sensível para cobrir o corpo, ou mesmo a arte têxtil”, disse o professor da FAAP especialista em História da Moda João Braga, que doou parte de sua coleção de camisas para a exposição.

Estilista Lorenzo Merlino em visita à exposição. Foto: Letícia Watanabe/ FAAP

A escolha curatorial de unir os acervos de moda e artes visuais faz da exposição uma experiência única e muito importante. É o que afirma o estilista e também professor da FAAP Lorenzo Merlino. “As duas origens (da moda e da arte) bebem das mesmas fontes e bebem uma da outra. Elas são cruciais de serem observadas juntas. Essa iniciativa do MAB é fantástica.”

Ao mesmo tempo em que a justaposição da moda e da arte era celebrada no salão à direita do museu, a poucos metros, do lado esquerdo, comemorava-se mais um momento histórico. A exposição O Invisível da Moda Brasileira promove uma nova coleção de lingerie pensada exclusivamente para a rememoração do icônico desfile de 17 de junho de 2004. Nele, o estilista Jum Nakao apresentou uma coleção de vestidos confeccionados unicamente em papel. A Costura do Invisível recebeu o título de desfile da década pela São Paulo Fashion Week e foi reconhecido como um dos maiores desfiles do século pelo Museu de Moda de Paris, segundo o site oficial do estilista.

Abertura da exposição O Invisível da Moda Brasileira. Foto: Letícia Watanabe/ FAAP

Jum Nakao já foi aluno, professor e coordenador da pós-graduação em Direção de Criação em Moda na FAAP. “Nós vivemos novos tempos, onde o real está sendo colocado no segundo plano e onde aparecer ou parecer se torna mais notório do que ser algo significativo”, ressaltou. “Poder trazer uma coleção nesse momento é repensar o que nós podemos fazer enquanto criadores, enquanto artistas, enquanto brasileiros.”

O estilista Jum Nakao na abertura de exposição na FAAP. Foto: Fernando Silveira/ FAAP

Preenchido com grandes fotografias dos novos trajes, impressas em tecido translúcido, o salão que abriga a instalação sugere um trajeto orbital com vídeos e texto do estilista. O espectador é levado a um deslocamento entre passado e presente, imerso nas nuances dos processos criativos de Jum Nakao. O público poderá ver O Invisível da Moda Brasileira até 16 de abril.

Abertura da exposição O Invisível da Moda Brasileira. Foto: Fernando Silveira/ FAAP

As duas novas exposições do MAB FAAP se relacionam conceitual e visualmente. “Elas conversam muito bem. O vídeo do desfile (de 2004) do Jum inclusive já estava planejado para estar na outra exposição. São mostras que se complementam em termos de conceito, uso e forma de trabalhar o material”, afirma a diretora administrativa do museu, Fernanda Celidonio.

Os dois salões expositivos foram abertos na mesma noite. O evento contou com a presença de grandes nomes da moda brasileira, estilistas e jornalistas da área. Os estilistas Reinaldo Lourenço e Isaac Silva e o diretor criativo da SPFW, Paulo Borges, foram alguns dos convidados.

Em uma narrativa sem início e fim definidos, o público foi convidado a percorrer os dois salões: “É muito importante quando a exposição chega ao museu: ela tem um caráter de preservação da memória, de conservação, para que isso seja mantido e preservado para gerações futuras. Acho de suma importância essa sacada e esse pioneirismo da FAAP em fazer essas ligações, essas interfaces”, defendeu o professor João Braga.

O museu está aberto ao público de quarta a segunda-feira, das 10 às 18h, e fica fechado às terças, incluindo feriados. A entrada para as exposições e gratuita.

SERVIÇO

Museu de Arte Brasileira da FAAP

Endereço: Rua Alagoas, 903, Higienópolis, São Paulo

Telefone: (11) 3662.7198

Instagram: @mabfaap

Horário de funcionamento: Quarta a segunda-feira, das 10h às 18h (última entrada às 17h30). Fechado às terças-feiras, inclusive feriados.

Entrada gratuita

Gabriel Barnabé é aluno de Jornalismo da FAAP

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