Famílias reclamam de faltas de professores em escola da zona norte

Ausências no colégio estadual Antoine de Saint Exupèry podem ser constatadas em site da Secretaria de Educação

LabJor
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4 min readJun 24, 2024

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Vinicius Nascimento

Mais de três faltas por dia. Essa foi a média de ausências de professores na Escola Estadual Antoine de Saint Exupèry, localizada na Vila Carbone, zona norte de São Paulo, entre fevereiro e abril de 2024. As informações são do site Dados Abertos da Educação da própria Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.

Números apurados pelo LabJor apontam que as 277 ausências envolveram 42 profissionais — a escola tem 93 profissionais. Quase metade das ausências (129) é justificada por licenças de interesse particular, faltas médicas e outras razões, mas a maior parte (148) aparece sem justificativa na base de dados.

Entrada da Escola Estadual Antonie de Saint Exupéry, na Vila Carbone, zona norte de SP. Foto: Vinicius Nascimento

As principais ausências são de professores (38) que dão aula tanto para o Ensino Fundamental quanto para o Ensino Médio. Houve também faltas de professores que dão aulas apenas para o Ensino Médio. Hoje, no Brasil, a grade escolar é dividida entre Pré-Escola, com duração de três anos, Ensino Fundamental 1 e 2, com duração de nove anos, e Ensino Médio ou Ensino Médio Técnico, com duração também de três anos. Só então o estudante poderá cursar uma faculdade.

A educação é um direito fundamental e essencial ao ser humano segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948. A própria legislação brasileira, na Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional, garante o acesso à educação básica como direito de todo ser humano. Ainda assim, o acesso à educação nos primeiros anos de vida, período em que se concentra o maior número de alunos no Brasil, enfrenta desafios como a presença de professores em sala de aula.

“A ausência desses profissionais é muito grave. Acho isso péssimo e acredito que interfira principalmente na fase do Ensino Médio, já que os estudantes estão se preparando para prestar vestibular e ingressar na faculdade”, diz a nail designer instrutora Nayane Subtil Guedes, de 37 anos, mãe de uma aluna do segundo ano do Ensino Médio. “Por mim, a escola deveria ter professores substitutos. A falta de professores é a falta de educação nas escolas.”

Uma funcionária que pediu para não ser identificada diz que escolas da rede estadual podem ter até três professores eventuais, que em caso de ausência de algum professor assumem o posto e repõem o conteúdo que seria passado aos alunos.

“A escola só pode ir atrás de um professor substituto caso um professor fique ausente por mais de 15 dias”, explica. “A partir daí, a escola tem autorização para contratar um substituto. É diferente do professor eventual, que está sempre aqui em caso de eventualidade e ganha por aula dada.”

Embora as ausências de professores sejam recorentes e a escola alegue ter professores eventuais para suprir as ausência, as famílias dizem que são muito comuns na escola estadual o adiantamento de aulas. Se durante o período de aula uma turma está com uma aula vaga, por exemplo, é proposto para o professor da última aula o adiantamento. Caso ele concorde, a aula é adiantada para esse período e os alunos da turma são liberados mais cedo para casa. Alunos contam que já houve caso de professor dar aulas em duas salas simultaneamente.“Isso é um acordo entre a escola e o aluno, às vezes tem aluno que já trabalha e a escola adianta o lado do aluno”, confirma a funcionária.

Aos 20 anos, Isabelly Oliveira já terminou os estudos na Escola Estadual, mas tem uma irmã, Gabrielly, que ainda está no terceiro ano do Ensino Médio. Ela acredita que, além de cumprir a grade integral de aulas, o colégio deveria avisar os familiares quando os filhos são liberados mais cedo para que eles fiquem atentos sobre o paradeiro deles.

Preocupada com o futuro de sua irmã, Isabelly conta como é prejudicial para uma aluna que está prestes a terminar o Ensino Médio. “Sabemos que o ensino já é considerado falho e fraco em escolas públicas e, quando além de tudo os professores ainda não comparecem ou não é fornecido um professor substituto para dar aulas, prejudica ainda mais. É difícil se colocar para competir com pessoas que estudam em escolas particulares, fazem cursinho e tem estrutura para fora 100% nisso”, avalia.

“Eu tenho a linha de raciocínio de que a escola falhou com a única responsabilidade que eles têm, que é fornecer professores e substitutos para lecionar as aulas e assim passar o mínimo de conhecimento para os alunos terem no mínimo o básico de conhecimento para se virarem ou até mesmo prestarem um vestibular.”

O LabJor questionou a Secretaria da Educação sobre as ausências relatadas por parentes de alunos e obteve, por e-mail, a seguinte resposta:

“A Diretoria de Ensino Região Centro informa que o quadro de professores da EE Saint Exupery está completo. Na ausência de professor em qualquer unidade e em qualquer período, todos os docentes que estejam designados como vice-diretores, professores-coordenadores, bem como os profissionais que trabalham nos projetos da Pasta, podem atuar como professores substitutos. Além disso, a Diretoria de Ensino pode contratar professores eventuais para atuar na unidade”.

Vinicius Nascimento é aluno de Jornalismo da FAAP

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