Fenômeno ‘Big Brother Brasil’: Pode um reality show representar um país?

Conversa nos Encontros de Comunicação da FAAP ajuda a entender por que o programa tem mobilizado tanto os brasileiros

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5 min readMar 27, 2021

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Mariana Mariotto

“O BBB é o novo futebol?” Esse foi o tema de uma das conversas mais disputadas dos Encontros de Comunicação da FAAP. Coordenada pelos professores Nathalie Hornhardt, do curso de Rádio e TV, e Thiago Costa, da pós-graduação em Comunicação e Marketing Digital, a palestra reuniu o número máximo de 300 participantes na plataforma Zoom.

Símbolo do programa ‘Big Brother Brasil’. Imagem: Reprodução Instagram BBB

Um dos destaques da conversa foram os resultados de uma pesquisa realizada no fim de janeiro de 2021 com mil pessoas. Feita pela empresa Minminers, ela mostrou uma dualidade: 35% dos entrevistados apontaram o Big Brother Brasil, da TV Globo, como o programa mais querido da televisão, ao lado de Masterchef (Band) e A Fazenda (Record). Mas outros 35% disseram ver o Big Brother como o programa menos querido da televisão.

“O BBB é um programa que provoca sentimentos. Ora é incentivador, ora desgastante”, lembrou Nathalie. Isso talvez ajude a explicar por que o público não gosta de ver temas muito “pesados” na tela — ou mesmo, debates de pautas sociais, “palestrinhas” e militância, porque já veem isso todos os dias nas redes sociais. Não à toa a participante Lumena foi vítima de rejeição logo nos primeiros dias do programa — e saiu no 5º paredão, com 61,31% dos votos.

Os professores Nathalie Hornhardt e Thiago Costa. Foto: Fernando Silveira/FAAP Divulgação

Segundo a pesquisa, 70% dos participantes concordam que os realities são uma ferramenta de alienação. Mas boa parte do público também gosta de acompanhar histórias construídas dentro do programa. E a audiência cresce quando tem briga — ou “cachorrada”, como diria o participante Gilberto Nogueira. Por esse aspecto, atrações como o BBB acabam exercendo a mesma função de uma novela ou de qualquer tipo de entretenimento capaz de amenizar o que ocorre no cotidiano.

No ano passado, o Big Brother Brasil já havia atraído muito o interesse do público. O BBB20 superou a audiência do BBB19 e foi a edição que mais recebeu votos em um único paredão na história do programa: a disputa de eliminação entre Manu Gavassi, Felipe Prior e Mari Gonzales foi decidida depois de 1,5 bilhão de votos. Neste ano, a estreia do BBB21 registrou 27,2 pontos de audiência segundo o Ibope, superando os 25 pontos da edição anterior. O crescimento do público se deu principalmente por conta do crescente uso das redes sociais e à pandemia de covid-19, que prendeu muitas pessoas em casa.

Paredão entre Felipe Prior, Manu Gavassi e Mari Gonzales teve recorde de votos. Reprodução TV Globo

Não apenas a audiência aumentou, como o meio mudou: apenas 7% das pessoas ouvidas na pesquisa disseram assinar o pay-per-view, enquanto a plataforma de streaming da Globo atingiu um recorde de assinaturas em menos de uma semana da estreia do BBB21. A Globoplay, que existe desde 2015, custa R$22,90 por mês, o mesmo valor do pay-per-view nas empresas NET e Sky.

A pesquisa também mostrou que, apesar de o púbico gostar da participação de influenciadores e famosos nesses programas, 63% dos entrevistados disseram preferir ver pessoas comuns ganhando o reality. E o vencedor não é mais só o participante “mais legal”, mas tem de ser também “gente como a gente”.

“Quando essa pessoa ganha, é como se eu estivesse ganhando também”, explica Thiago. Para o professor, esses programas são o espelho do comportamento da população. Na pesquisa, 49% dos entrevistados disseram se identificar com um ou mais personagens dos realities. Isso porque as indústrias cultural e de entretenimento se esforçam para garantir que aconteça a identificação do público com os participantes, pela vida pessoal ou trajetória do personagem.

Participante do ‘BBB21’ Juliette Freire. Foto: Instagram Juliette Freire

A participante Juliette Freire, por exemplo, que até o momento da publicação da matéria acumulou 16,2 milhões de seguidores no Instagram, está na 31ª posição no ranking mundial de pessoas mais comentadas do Twitter, atrás de duas mulheres de muita importância para a indústria televisiva: Jennifer Anniston (29ª) e Maisa (30ª).

Para Nathalie e Thiago, de certa forma os personagens do programa exemplificam facetas e estereótipos que compõem a vasta população brasileira, assim como muitas vezes escancaram problemáticas reais de um país como o Brasil, extenso tanto no aspecto territorial como cultural.

Pedro Bial, no ‘BBB’. Foto: Divulgação/ TV Globo

O Big Brother Brasil teve sua primeira edição em 2002. Mesmo com a controvérsia sobre a apresentação do jornalista Pedro Bial, visto como ‘sério demais’ para o entretenimento, começou muito popular. Mas Bial surpreendeu o público e permaneceu no BBB até 2016.

Hoje, após 21 edições, o reality “voltou a ser cool”, na opinião de Nathalie. “O Big Brother Brasil é o novo futebol porque é capaz de criar polarizações, movimentar torcidas e gerar debates sobre os participantes e os acontecimentos em qualquer grupo ou roda de conversa”, afirmou a professora, respondendo à pergunta que deu nome à conversa.

Mariana Mariotto é aluna do curso de Jornalismo na FAAP.

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