TCCs 2022

Judaísmo em São Paulo: Símbolos e manifestações culturais da religião na cidade

Religião, práticas e cultura judaicas são ricas em simbolismo e significados: conheça alguns deles aqui

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Luca Iudice

Roupas, símbolos, cerimônias. Cada religião apresenta distintas formas de expressar sua identidade nos locais de culto ou nas casas das pessoas. Com o judaísmo não é diferente. Uma rica simbologia envolve os judeus espalhados pelo mundo e acaba, muitas vezes, sendo adaptada aos moldes culturais das diferentes sociedades onde eles se estabelecem. E quais são os símbolos da comunidade no Brasil e, mais particularmente, em São Paulo?

Segundo a Confederação Israelita do Brasil (Conib), a comunidade judaica no País é a segunda maior da América Latina, com cerca de 120 mil judeus. Só fica atrás da da Argentina. Desses, aproximadamente 60 mil vivem em São Paulo — de acordo com a revista judaica Morashá Brasil.

Judeus asquenazes e sefarditas compõem os dois grupos predominantes da colônia judaica hoje em São Paulo. Apesar das diferenças culturais, eles veneram a mesma escritura sagrada — a Torá —, estudam o hebraico, cumprem o ritual da circuncisão e seguem o código kasher na alimentação.

Divergem quanto ao local onde se deve manter a Torá na sinagoga e nas práticas de dar nome aos filhos — enquanto um judeu asquenaze opta por nomes de um parente morto, um judeu sefardita sempre dá o nome de um parente vivo. São pequenas diferenças na tradição, mas os dois grupos se reconhecem como judeus e também mantêm outras semelhanças, como a festa do Bar Mitzvah e a lembrança de toda a história de Israel, desde o patriarca Abraão até hoje.

“Há judeus muito religiosos, há judeus descendentes daqueles que foram expulsos da Península Ibérica em 1492 (os sefarditas), há aqueles cuja identidade está ligada aos judeus do norte da Europa (os asquenazes), os que apresentam tradições próximas aos dos povos alemães e outros tantos que praticam o judaísmo de formas variadas. Todos esses fazem parte da colonia judaica em São Paulo”, resume o rabino da Congregação Israelita Paulista, Rogério Cukierman.

Ele explica que a partir do fim do século 20 e começo do século 21 a velocidade das transformações aumentou de forma significativa, motivando novos movimentos. “Se olharmos para os movimentos judaicos que ocorrem ao longo da história, como reformista, conservador, ortodoxo, reconstrucionista, veremos que em algum momento esses movimentos param de dar respostas às novas dinâmicas sociais que se estabelecem e as pessoas começam a falar: ‘Espera, eu não me identifico mais com essa bandeira, com essas ideias. Ou “Eu quero uma bandeira nova” ou “Eu não quero bandeira nenhuma”.

Independentemente da tradição que seguem, os judeus de São Paulo construíram um extenso e diversificado sistema de serviços e organizações que operam em muitos cenários. Em relação ao aspecto cultural, o Museu Judaico de São Paulo, na Bela Vista, destaca-se como uma das mais importantes. Ele fica no interior da sinagoga Beth-El, projetada e construída por Samuel Roder entre 1927 e 1932 e que representou o primeiro grande templo religioso da comunidade judaica na capital paulista. Hoje existem 45 sinagogas na cidade.

Com aproximadamente 2 mil itens catalogados, o grande acervo do museu inclui documentos e objetos que remontam a história dos judeus no Brasil, e, portanto, reforçam os componentes culturais judaicos e brasileiros. Com isso, cria-se um ambiente que que não só promove didaticamente a divulgação do patrimônio da comunidade judaica no Brasil, como o seu resgate.

Arca Sagrada, onde os rolos da Torá são mantidos. Foto: Luca Iudice

Lá é possível aprender por exemplo que a Torá em hebraico significa “ensinamento”. É conhecida como o Livro de Moisés — a Bíblia utiliza a frase “A Torá de Moisés” mais de uma dezena de vezes — embora seja composta por cinco livros.

A Torá guarda a narrativa de como a família de Abraão, Sara e seus descendentes virou o Povo de Israel. Narra como eles saíram do cativeiro no Egito, sob a liderança de Moisés, e chegaram às fronteiras da Terra Prometida por Deus, tendo parado no caminho para receber a revelação divina — os Dez Mandamentos — por meio de Moisés e seu irmão, Arão. Segundo o judaísmo, o recebimento dessas leis define o pacto realizado entre Deus e seus seguidores.

Talit -manto de oração judaica. Foto: Luca Iudice

Alguns objetos e vestimentas são muito característicos. O talit, por exemplo, é um xale de orações com um tsitsit — conjunto de fios em cada uma das quatro pontas, utilizado com a finalidade de lembrar o cumprimento diário dos mandamentos divinos.

Já os teifilin consistem em duas caixinhas, às quais são atadas tiras de couro. Dentro dessas caixinhas está contido um pergaminho com trechos da Torá. Nas rezas, uma delas é usada sobre a testa e a outra é atada ao braço mais fraco (canhotos no direito e destros no esquerdo), na altura do coração. Em hebraico, tefilin vem da raiz tefilá (reza).

Teifilin, usado durante as rezas judaicas. Foto: Luca Iudice

Segundo Daniel Avila Caldeira, coordenador de Rituais da Congregação Israelita Paulista (CIP), “ao ser chamado para a leitura da Torá ou indo para o Bīmah — plataforma na qual a Torá é lida — é costume colocar um canto do talit na primeira palavra para ser lido e depois beijar o canto do talit que tenha tocado o pergaminho do Torá”. É mais uma tradição milenar judaica mantida em São Paulo, a exemplo de tantas outras.

*Esta reportagem foi feita a partir do trabalho de conclusão do curso de Jornalismo da FAAP. Intitulado ‘Expressões culturais da sociedade judaica paulistana à luz das transformações identitárias decorrentes de seu passado histórico’, teve orientação do Prof. Dr. Fernando Amed.

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