Lalo de Almeida fala de Belo Monte e outros trabalhos premiados

Fotógrafo da ‘Folha’ explica por que projeto na região da hidrelétrica acabou levando a outros especiais de sucesso

LabJor
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4 min readAug 7, 2022

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Bia Falcão

“Eu nunca me vi como um fotojornalista clássico, a coisa da foto rápida, de pensar rapidamente. Nunca me enquadrei nisso, nunca me vi nisso… Talvez por uma falta de qualidade minha, mesmo. De não ser um cara muito rápido. Eu gostava de pensar sobre as coisas e trabalhar em um jornal, para mim, era como viajar de trem, em que eu via as coisas passando pela janela, rapidamente, e eu não tinha possibilidade de me aprofundar em nenhum tema. Eu só via as coisas passando e pensava: ‘Nossa isso, dá uma história incrível.’ Mas era tudo no ritmo do jornal.”

Com essa introdução o fotógrafo da Folha de S. Paulo Lalo de Almeida começou sua participação na mesa O registro fotográfico socioambiental: Amazônia e outros territórios, em 6 de agosto na FAAP, durante o 17º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji. A conversa foi mediada pelo professor da FAAP Ronaldo Entler.

Público acompanha palestra de Lalo de Almeida na FAAP. Foto: Ronaldo Entler

Lalo contou que estudou fotografia no Instituto Europeo di Design, na Itália, e começou a trabalhar na Folha em 1994, depois de voltar ao Brasil. Como sentia falta dessa observação minuciosa, desenvolvia projetos no fotojornalismo paralelamente ao seu trabalho no jornal. Seu primeiro projeto, feito em 1996 e desenvolvido com bolsa da Fundação de Curitiba, chamava-se ‘O homem e a terra’ e explorava a relação do homem com as paisagens brasileiras. Mas foi em 2009 que ele deu início às suas observações mais profundas, quando foi ao local onde seria construída a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira, e na época estavam começando as primeiras audiências públicas sobre a polêmica obra.

Ele disse que se deu conta de que o que ocorria ali era igual ao que havia ocorrido no período da ditadura militar como a Transamazônica, com muitos trabalhadores chegando a uma cidade precária. “Eu pensei: ‘Isso que está acontecendo agora aqui é o mesmo processo que já vimos com grandes obras. E é por essa mesma lógica que a Amazônia está passando desde sempre, essa lógica de enxergar a Amazônia como uma colônia exportadora de matéria prima. Essa é a lógica de como o Brasil trata a Amazônia.”

O fotógrafo Lalo de Almeida e o professor da FAAP Ronaldo Entler. Fotos: Acervos pessoais

Para Lalo, a ida a Belo Monte foi o estopim para que ele começasse a explorar essa observação que faltava dentro da Folha e o fez ganhar o prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, em 2012, trabalhando em Altamira por seis meses.

“Belo Monte foi o ponto de virada em vários aspectos, porque foi a partida para o meu projeto, que eu fiquei 10 anos fazendo, que é o Distopia Amazônica (2021). Porque até então eu fazia viagens esporádicas. E também em relação à Folha, pois em 2013 resolveram fazer o primeiro grande multimídia e, por sorte, eu era o cara que mais conhecia a história de Belo Monte e estava fazendo esse projeto pessoal.”

Lalo lembrou que na época a tecnologia já era melhor e havia espaço para publicar vídeos além de fotos nas reportagens. O especial A Batalha de Belo Monte (2017) rendeu muitos prêmios para a Folha e ele então começou a ser chamado para participar de especiais sobre outros grandes temas, como Um Mundo de Muros (2017), Desigualdade Global, (2019), e Crise do Clima (2018). Em 2021, sua série de fotografias Pantanal em Chamas ganhou o primeiro lugar na categoria Meio Ambiente do World Press Photo Award. No mesmo ano, ele foi escolhido Fotográfo Ibero-americano no Poy Latam (Pictures of the Year) na categoria América Latina e contemplado com a bolsa Eugene Smith. Esse mesmo projeto venceu na categoria Projeto de Longa Duração do World Press Photo 2022.

Imagens da série Pantanal em Chamas, de Lalo de Almeida. Fotos: Reprodução Instagram @lalodealmeida

Bia Falcão é aluna de Jornalismo da FAAP

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