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NFTs: COMO FUNCIONA O MERCADO DA ARTE DIGITAL

Tokens não fungíveis e blockchains são alguns dos conceitos que estão movimentando o mundo da tecnologia

LabJor
Published in
6 min readMay 12, 2022

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Giovanna Oriani

Montagem da sigla NFT sobre uma placa de processamento de computador. Arte: Giovanna Oriani

Você já se deparou por aí com a sigla NFT? Sabe do que se trata? Em tradução literal, Non-Fungible Token, ou NFT, significa token não fungível, ou tudo aquilo que não podemos ver nem tocar de forma física. É, portanto, algo disponível apenas no mundo virtual. Um item fungível, como o dinheiro, pode ser trocado por outra coisa de mesmo valor. Já as NFTs são ativos digitais considerados únicos, como obras de arte e objetos raros.

Falar de mundo virtual parece um tanto quanto ficcional e longe da realidade, mas não é bem assim. Levando em consideração que o mundo virtual é um ambiente criado para permitir interações entre usuários, podemos achá-lo nas redes sociais, por exemplo. E, para transformar essas relações em algo mais real e imersivo, empresas como a Meta, antigo Facebook, de Mark Zuckerberg, trabalha no desenvolvimento do metaverso.

Vídeo de apresentação do Metaverso por Mark Zuckerberg

Os NFTs ganharam popularidade nos últimos anos, impulsionados pela compra de famosos, como o jogador de futebol Neymar Jr., o cantor Justin Bieber e a tenista americana Serena Williams. Entre os NFTs mais conhecidos estão os dos macacos entediados chamados de Bored Ape Yacht Club, criados inicialmente por quatro amigos. Uma única imagem deles chega a custar US$1 milhão.

Montagem de NFTs comprados por pessoas famosas. Arte: Giovanna Oriani

Segundo pesquisa da plataforma de dados e transações digitais DappRadar, algumas das vendas de valores mais elevados envolveram terrenos em ambientes do metaverso. No começo do ano passado, o artista digital e designer gráfico Mike Winkelmann teve sua obra em NFT vendida por US$ 69 milhões e se consagrou assim como o artista com o NFT mais caro vendido na história. A obra é Everydays: The First 5000 Days, um compilado de ilustrações feitas durante 5 mil dias, entre 2007 e 2020.

NFT ‘Everydays: The First 5000 Days’. Foto: Reprodução site Christie’s

“De fato isso é uma grande revolução. Há não muito tempo os artistas eram vistos como uma ferramenta para executar trabalhos. Hoje podemos monetizar nossa arte individual, sem precisar estar ligado a um tipo de empresa. Nós agora temos autonomia de trabalhar por nós mesmos”, comenta o artista digital brasileiro Felipe Queiroz, conhecido nas redes como Fesq.

Diretor de arte, ele trabalha principalmente com obras em 3D que misturam algo mais futurista a um viés emocional. Suas obras são caracterizadas por cores vivas como azul, vermelho e roxo. Essa curiosa combinação virou a marca registrada do artista.

“Apesar de ter começado com NFT há dois anos, eu não virei artista da noite para o dia”, conta. “A arte 3D, que é hoje grande parte do meu trabalho, começou há uns cinco anos com hobby. Eu me inspirava muito no artista Beeple e hoje consigo trabalhar com que gosto por conta do mercado de NFT. Antes postava minhas obras em redes sociais para conseguir exposição e, como consequência, ser chamado para trabalhos. O que era apenas um meio de divulgação para conseguir clientes virou minha principal fonte de renda.”

Segundo o site Cryptoart.io, Fesq faturou US$ 70 mil com a venda de 15 obras. A mais cara foi a animação em 3D Double/Sided (Dupla Face), comercializada por US$ 8.683,98 em 4 de fevereiro deste ano a um comprador anônimo pelo site Foundation.

Cena da animação em 3D ‘Dupla Face’, o mais caro NFT já vendido por Fesq até hoje. Fesq. Foto: Reprodução site Fesq
Montagem de cenas do projeto Dupla Face, de Fesq. Foto: Reprodução site Fesq

Os NFTs fazem parte do blockchain ethereum. O blockchain é uma espécie de transação mais segura no ambiente digital, e a ethereum é uma criptomoeda, como bitcoin, usada para adquirir um token. Alguns tokens são leiloados com a ajuda de casas famosas de leilões de obras de arte no mundo.

Segundo dados da DappRadar, que analisou dados em dez blockchains diferentes, que são usados ​​para registrar quem possui os NFTs as vendas totalizaram US$ 24,9 bilhões em 2021 — em 2020, haviam sido de US$ 94,9 milhões.

Mas num ambiente virtual, em que em tese uma imagem pode ser reproduzida infinitamente por vários usuários, como garantir a autenticidade da obra? Ou, em outras palavras, se para copiar qualquer NFT basta dar um clique e salvar a imagem em seu dispositivo, por que essa imagem vale tanto?

Para responder, o professor de Engenharia da FAAP Marcelo Succi volta um pouco no tempo. “Anos atrás, uma lancheira do Superman de aço estilo anos 1950 foi vendida por US$13 mil”, lembra. “A ideia de a lancheira valer tanto é por ser um item colecionável. O NFT também entra nessa proposta de itens colecionáveis — qualquer um pode fazer ou copiar, mas tem alguém que vai querer colecionar essa imagem digital. A ideia está em você ser o dono dessa arte e o restante ser reprodução.”

“Existe uma espécie de contrato digital entre o comprador e o artista. Quando você adquire um NFT, você está comprando uma obra que não pode ser reproduzida. Ela é única, você tem os direitos daquela imagem”, completa o artista e professor da PUC-SP Marcos Bastos. “Isso (NFT) causou uma modificação muito grande no mundo da tecnologia porque os arquivos digitais podem ser copiados facilmente com um ‘print’ da tela do seu celular. E o NFT tem essa diferença de ser um objeto único.”

Por exemplo, as imagens apresentadas nesta reportagem podem custar milhões. Mas estão aqui apenas reproduzidas. O LabJor FAAP não tem a posse delas nem poderia usá-los para algum tipo de troca.

Os NFTs já causam discussão até por seus impactos ambientais no mundo real. Como a energia elétrica usada para funcionado de computadores. E já surgiram iniciativas para a compensação de carbono gerado. Um projeto brasileiro chamado Nemus, por exemplo, criou uma coleção de tokens onde o valor representa uma área verde plantada.

GLOSSÁRIO

NFT: Sigla de non-fungible token, um token que representa algo único. Presente principalmente em formato de arte e jogos.

Token: Representação digital de um ativo financeiro real numa rede blockchain.

Meta: Meta Platforms (antiga Facebook) é uma empresa de tecnologia e mídias sociais fundada por Mark Zuckerberg e colegas de quarto da faculdade. Considerada uma das cinco empresas mais valiosas do mundo.

Metaverso: Ambiente virtual coletivo com interações entre o mundo real e o mundo digital usado em jogos como VRChat, Second Life, Roblox e Fortnite.

Blockchains: Forma de registro legal de moedas digitais no ambiente virtual. A mais popular delas é a bitcoin.

Criptomoedas: Moedas digitais, como bitcoin ou ethereum, que podem ser usadas como dinheiro normal, tanto para comprar coisas no mundo virtual quanto no real.

Giovanna Oriani é aluna de Jornalismo da FAAP

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