O vírus que mudou o mundo

Como a covid-19 se tornou a pior pandemia dos últimos 50 anos

LabJor
LabJor
5 min readJun 28, 2020

--

João Quartim e Maria Beatriz Barboza*

Em dezembro de 2019, o oftalmologista chinês Li Wenliang tentou alertar seus colegas a respeito da descoberta de uma nova doença parecida com a SARS (Síndrome Aguda Respiratória Grave). Mas acabou reprimido por autoridades chinesas, que o acusaram de perturbar a ordem social. Li foi obrigado a assinar um documento se comprometendo a não dar prosseguimento ao que, segundo autoridades do país, tratava-se de atividade ilegal. Caso descumprisse o acordo, poderia ser indiciado criminalmente. Três meses após seu relato, Li morreu. Motivo: a doença até então não identificada sobre a qual havia tentado alertar os companheiros de profissão.

Desde então, mais de 10 milhões de pessoas foram contaminadas e 500 mil morreram até o final de junho. A causa: o novo coronavírus, nome dado ao SARS-CoV-2 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e que causa a doença chamada de covid-19. Segundo dados da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, o Brasil era em 27 de junho o 2º país no mundo com o maior número de infectados e de mortes, atrás apenas dos Estados Unidos.

Vídeo publicado no canal Ciência do Povo, a partir de animação original do canal Kurzgesagt

Segundo a médica infectologista Gabriela Gehring, do Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais, de Ponta Grossa (PR), a velocidade de propagação de uma doença pode ser avaliada segundo o número médio de contágios secundários gerados por caso primário, mais conhecido como R0.

O R0 da covid-19 possui variação de 3,0 a 3,5. Em comparação, o R0 da influenza varia de 1,0 a 1,5 e o do sarampo é de aproximadamente 15. Em relação à letalidade, a covid-19 possui taxa de 6,8%, enquanto que entre 2018 e 2019 a letalidade observada nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) causados pelo influenza no Brasil foi da ordem de 20%.

O VÍRUS INFLUENZA E AS PANDEMIAS

Não é possível datar com precisão quando o vírus da influenza, gripe responsável pelas epidemias sazonais, surgiu no mundo. Há relatos da doença feitos já em 412 a.C. pelo médico grego Hipócrates.

Os vírus da influenza são classificados como A, B e C, sendo os dois primeiros os principais responsáveis pelas epidemias sazonais. Desde 1968, a maioria dessas epidemias foi causada pelo H3N2 (um subtipo do vírus da influenza tipo A).

O impacto causado pelas epidemias de influenza se deve a três fatores: a variação antigênica viral (capacidade de o vírus sofrer mutação), o nível de proteção da população para as cepas circulantes (cobertura vacinal) e o grau de virulência do vírus (capacidade de um agente infeccioso produzir efeitos graves ou fatais).

Segundo as orientações da OMS, as vacinas contra a influenza são modificadas todos os anos para incluir as cepas mais prevalentes. As vacinas para a influenza podem aplicadas por via intramuscular ou por um spray nasal. Ambas vão fazer com que o sistema imunológico de uma pessoa reconheça o vírus ao entrar em contato com ele e produza os anticorpos certos para combatê-lo, o que suavizará a intensidade dos sintomas, ou mesmo os evitará. Porém, quando ocorrem grandes variações antigênicas, a maior parte da população não possui imunidade para combater os novos vírus e a doença se dissemina rapidamente.

As grandes pandemias foram consequência dessas variações antigênicas maiores e causaram milhões de mortes. Foi o caso das gripes espanhola (1918–1919), asiática (1957) e de Hong Kong (1968).

COVID-19: SINTOMAS, PREVENÇÃO E TRATAMENTO

Os sintomas da covid-19 e da influenza podem ser parecidos, de acordo com a médica Gabriela Ghering. Ambas causam febre, tosse, dor de garganta e dificuldade para respirar. Mas há relatos também de perda de olfato e paladar, erupção cutânea e doenças neurológicas geradas pelo novo coronavírus.

Com a intenção de ajudar os cidadãos e as agências de saúde pública, um grupo formado por diferentes profissionais da área da saúde criou o site Juntos Contra o covid. No site, o público é convidado a responder um questionário com perguntas básicas e informar se está saudável ou doente. "Analisamos milhares de relatórios e os mapeamos para gerar visões nacionais da infecção pelo coronavírus, fornecendo às autoridades de saúde pública e pesquisadores informações anônimas em tempo real que podem ajudar a encerrar a pandemia e impedir que o vírus se alastre", informa.

Fonte: Ministério da Saúde

Apesar da variação de sintomas, de acordo com a OMS a maioria dos pacientes infectados (cerca de 80%) pode ser assintomática e cerca de 20% dos casos pode requerer atendimento hospitalar por envolverem dificuldade respiratória. Entre os pacientes hospitalizados, aproximadamente 5% podem necessitar de suporte ventilatório para tratar a insuficiência respiratória.

A pessoa doente transmite o vírus por aperto de mão, gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro. Também é possível contrair o víruos em objetos ou superfícies contaminadas, como celulares, mesas, maçanetas, brinquedos, teclados de computador etc.

Para evitar a contaminação, agentes de saúde recomendam uso de máscara de pano nas ruas, lavagem cuidadosa das mãos na volta pra casa, utilização de álcool em gel após tocar em objetos de uso compartilhado, entre outras medidas.

Fonte: Ministério da Saúde

Segundo o site do Ministério da Saúde, para identificar um caso suspeito, é necessário acolher e avaliar rapidamente todas as pessoas, independentemente da idade, que apresentem febre ou pelo menos um sinal da doença ou sintoma respiratório, como tosse seca, dor de garganta, mialgia, cefaleia, prostração e dificuldade para respirar.

De acordo com o Laboratório Fleury, há três tipos de testes disponíveis no Brasil: o RT-PCR (que usa amostras de saliva para identificar sinais do vírus), por sorologia (que buscam anticorpos do vírus no sangue do paciente) e os testes rápidos. Esses últimos, porém, não têm a mesma sensibilidade que o RT-PCR e a sorologia.

Fonte: Ministério da Saúde

Segundo Gabriela, a dificuldade de se criar uma vacina está nas etapas que devem ser seguidas antes do início de sua produção e distribuição. “A vacina tem um período de testes. Toda medicação que entra no mercado precisa passar por todas as fases, o que leva tempo. Não adianta liberar uma medicação que seja eficaz, mas que não seja segura para a população.”

Imagem do site de Cursos de Extensão da USP

Com a intenção de educar a população sobre a pandemia e o vírus, professores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto criaram um curso rápido e on-line sobre a covid-19. No total, 11 profissionais colocaram seus conhecimentos nas áreas de Infectologia, Cardiologia, Neurologia, Epidemiologia e Informática Biomédica em quatro módulos com vídeos de no máximo 14 minutos. Inicialmente pensado para a comunidade acadêmica, o curso foi depois aberto para a comunidade. Para se inscrever nele, basta acessar o site de Cursos de Extensão da USP e seguir o passo-a-passo para o cadastro e o acesso às aulas.

*Sob supervisão do Prof. Rafael Sbarai

--

--

LabJor
LabJor

Um laboratório de informação: Descobrimos e contamos histórias que dão sentido ao presente.