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Peças de luxo podem ser investimento: veja como e que riscos evitar

Exclusividade, matéria-prima e modelo são fatores que podem aumentar — ou reduzir — o lucro na hora de negociar itens de luxo

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Bruna Furlan de Nóbrega

Coleção de modelos clássicos da grife Louis Vuitton. Foto: Divulgação Louis Vuitton

Você já ouviu alguém dizer que uma compra pode ser um investimento e ficou se perguntando como esse negócio funciona? No mercado de luxo isso é bem comum, com diversas páginas no Instagram totalmente dedicadas à revenda de peças de grifes que acumulam milhares de seguidores. A ideia de que o mercado de luxo pode se tornar uma fonte de renda para os próprios consumidores é cada vez mais forte — graças aos pilares que regem essa indústria.

Página no Instagram do e-commerce de revenda de produtos de luxo PegueiBode. Imagem: Reprodução Instagram @pegueibode

O preço de um item de luxo é determinado por três fatores: qualidade, que engloba os materiais utilizados na peça; tradição, relacionada ao quão forte é o nome da marca no mercado; e craftsmanship, que pode ser definido como “artesania” — o trabalho manual envolvido em cada peça.

Além desses atributos, o luxo também é regido pelo conceito de exclusividade — de ser algo que nem todos podem ter.

Já a ideia do luxo como forma de investimento está ligada ao fato de que diversas peças se tornam ainda mais caras a partir do momento em que saem da loja. Um exemplo é a bolsa Re-edition da Prada, que em um ano teve seu valor aumentado 57%, de R$ 7 mil para R$ 11 mil, enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acumulado em 12 meses até outubro de 2022 foi de 4,32%.

Bolsa Prada Re-Edition 2005. Foto: Reprodução site Prada

De acordo com o especialista na área, Paulo Conegero, o setor do luxo cresce hoje acima da inflação por meio da geração de desejo. Esse fenômeno ocorre principalmente com peças atemporais, de modelos clássicos e que não são afetados pela usabilidade, com peças exclusivas, como de coleções limitadas e produzidas em baixa escala, e com peças que contenham matérias-primas de difícil acesso, como diamantes e couros exóticos.

“Tudo depende da matéria prima”, explica Conegero. “Quanto mais rara a matéria-prima, mais valor o produto vai ter.” As joias, por exemplo, são peças segundo ele que sempre terão seu valor aumentado, uma vez que utilizam pedras e materiais cada vez mais raros no mundo.

Ele conta também que as grifes estão diminuindo cada vez mais suas linhas de produção e até mesmo fechando fábricas, para evitar que seus produtos se proliferem rapidamente e diminuam o fator de exclusividade. Isso contribui diretamente para a noção do luxo como investimento, uma vez que, quanto menos daquele produto existir no mundo, maior o seu valor. “Hoje comprar peças de luxo é um item de investimento, principalmente quando falamos de bens mais duráveis, como bolsas, relógios, joias. Peças que podem ser mais bem conservadas são, sim, um grande investimento de dinheiro.”

À esq., bolsa Chanel Classic Flap, lançada em 1955, Cartier Love Bracelet engastado com 204 diamantes. (centro) e anel em ouro amarelo com turmalina paraíba, de difícil extração. Fotos: Reprodução sites Chanel, Cartier e Vivara

Alguns consumidores do mercado de luxo lucram ao revender peças após usar e se cansar delas. É o caso de Marcela Barcelo, que diz não comprar uma peça somente pensando em revendê-la, mas que a revenda pode ser vantajosa se se entender como o mercado funciona. “Eu fui em um outlet da Balenciaga e a vendedora me contou que eles estão parando a produção das City Bags dos anos 90. Então eu sei que, se eu comprá-la hoje por US$ 400, daqui a cinco anos eu vendo pelo triplo. Portanto, hoje em dia, se posso comprar uma bolsa vintage (que pertence a coleções de décadas passadas), é nela que eu investiria.”

Balenciaga City Bag. Foto: Reprodução site Balenciaga

Também existem consumidoras que adquirem essas peças pensando apenas na revenda — e nem sempre chegam a usá-las. Um exemplo é Mariáh Cidral, co-fundadora da Clementine Paris — empresa que oferece cursos especializados em coolhunting, ou seja, o estudo de tendências. Por ser especialista na área, Mariáh tem facilidade em reconhecer quais peças se tornarão virais e, consequentemente, terão seu valor aumentado com o decorrer do tempo, melhorando o preço de revenda.

Mas é preciso conhecer o assunto porque, do contrário, nem sempre esse resultado é atingido. A estudante Carolina Guimarães se frustrou, por exemplo, ao tentar revender peças para um e-commerce especializado na compra e venda de itens de luxo usados. Por um vestido em que pagou R$ 10 mil, por exemplo, recebeu a oferta de R$ 400. Uso da peça, falta de materiais raros em sua produção e o fato de não pertencer a uma coleção limitada ou especial podem ajudar a explicar o baixo valor.

Portanto, segundo especialistas, assim como num fundo de investimento comum, é necessário ter uma visão aprofundada de como o mercado de luxo funciona para realizar investimentos com garantia de retorno. E acompanhar as novidades no mercado.

*Esta reportagem faz parte do site ‘Luxury Insider’, apresentado por Bruna Furlan como trabalho de conclusão do curso de Jornalismo na FAAP, sob orientação do Prof. Rafael Sbarai.

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