TCCs 2022
Peças de luxo podem ser investimento: veja como e que riscos evitar
Exclusividade, matéria-prima e modelo são fatores que podem aumentar — ou reduzir — o lucro na hora de negociar itens de luxo
Bruna Furlan de Nóbrega
Você já ouviu alguém dizer que uma compra pode ser um investimento e ficou se perguntando como esse negócio funciona? No mercado de luxo isso é bem comum, com diversas páginas no Instagram totalmente dedicadas à revenda de peças de grifes que acumulam milhares de seguidores. A ideia de que o mercado de luxo pode se tornar uma fonte de renda para os próprios consumidores é cada vez mais forte — graças aos pilares que regem essa indústria.
O preço de um item de luxo é determinado por três fatores: qualidade, que engloba os materiais utilizados na peça; tradição, relacionada ao quão forte é o nome da marca no mercado; e craftsmanship, que pode ser definido como “artesania” — o trabalho manual envolvido em cada peça.
Além desses atributos, o luxo também é regido pelo conceito de exclusividade — de ser algo que nem todos podem ter.
Já a ideia do luxo como forma de investimento está ligada ao fato de que diversas peças se tornam ainda mais caras a partir do momento em que saem da loja. Um exemplo é a bolsa Re-edition da Prada, que em um ano teve seu valor aumentado 57%, de R$ 7 mil para R$ 11 mil, enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acumulado em 12 meses até outubro de 2022 foi de 4,32%.
De acordo com o especialista na área, Paulo Conegero, o setor do luxo cresce hoje acima da inflação por meio da geração de desejo. Esse fenômeno ocorre principalmente com peças atemporais, de modelos clássicos e que não são afetados pela usabilidade, com peças exclusivas, como de coleções limitadas e produzidas em baixa escala, e com peças que contenham matérias-primas de difícil acesso, como diamantes e couros exóticos.
“Tudo depende da matéria prima”, explica Conegero. “Quanto mais rara a matéria-prima, mais valor o produto vai ter.” As joias, por exemplo, são peças segundo ele que sempre terão seu valor aumentado, uma vez que utilizam pedras e materiais cada vez mais raros no mundo.
Ele conta também que as grifes estão diminuindo cada vez mais suas linhas de produção e até mesmo fechando fábricas, para evitar que seus produtos se proliferem rapidamente e diminuam o fator de exclusividade. Isso contribui diretamente para a noção do luxo como investimento, uma vez que, quanto menos daquele produto existir no mundo, maior o seu valor. “Hoje comprar peças de luxo é um item de investimento, principalmente quando falamos de bens mais duráveis, como bolsas, relógios, joias. Peças que podem ser mais bem conservadas são, sim, um grande investimento de dinheiro.”
Alguns consumidores do mercado de luxo lucram ao revender peças após usar e se cansar delas. É o caso de Marcela Barcelo, que diz não comprar uma peça somente pensando em revendê-la, mas que a revenda pode ser vantajosa se se entender como o mercado funciona. “Eu fui em um outlet da Balenciaga e a vendedora me contou que eles estão parando a produção das City Bags dos anos 90. Então eu sei que, se eu comprá-la hoje por US$ 400, daqui a cinco anos eu vendo pelo triplo. Portanto, hoje em dia, se posso comprar uma bolsa vintage (que pertence a coleções de décadas passadas), é nela que eu investiria.”
Também existem consumidoras que adquirem essas peças pensando apenas na revenda — e nem sempre chegam a usá-las. Um exemplo é Mariáh Cidral, co-fundadora da Clementine Paris — empresa que oferece cursos especializados em coolhunting, ou seja, o estudo de tendências. Por ser especialista na área, Mariáh tem facilidade em reconhecer quais peças se tornarão virais e, consequentemente, terão seu valor aumentado com o decorrer do tempo, melhorando o preço de revenda.
Mas é preciso conhecer o assunto porque, do contrário, nem sempre esse resultado é atingido. A estudante Carolina Guimarães se frustrou, por exemplo, ao tentar revender peças para um e-commerce especializado na compra e venda de itens de luxo usados. Por um vestido em que pagou R$ 10 mil, por exemplo, recebeu a oferta de R$ 400. Uso da peça, falta de materiais raros em sua produção e o fato de não pertencer a uma coleção limitada ou especial podem ajudar a explicar o baixo valor.
Portanto, segundo especialistas, assim como num fundo de investimento comum, é necessário ter uma visão aprofundada de como o mercado de luxo funciona para realizar investimentos com garantia de retorno. E acompanhar as novidades no mercado.
*Esta reportagem faz parte do site ‘Luxury Insider’, apresentado por Bruna Furlan como trabalho de conclusão do curso de Jornalismo na FAAP, sob orientação do Prof. Rafael Sbarai.