Quem foi João do Rio, o homenageado da 22ª edição da Flip

Autor é tido como inventor da crônica moderna e incentivador de um jornalismo atrelado à literatura

LabJor
LabJor
3 min read6 days ago

--

Gabriel Moreno e Laryssa Toratti

Assim como em outras edições, a 22ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) mantém a tradição de ter um homenageado que define o tom e o tema da programação, um(a) autor(a) cuja obra possa ser brevemente destrinchada na semana em que a festa ocorre. Neste ano, de 9 a 13 de outubro, João do Rio será o autor celebrado.

O jornalista e cronista João do Rio. Foto: Reprodução/Portal da Crônica Brasileira

João do Rio é, na realidade, o pseudônimo mais conhecido de Paulo Barreto (1881–1921), que foi um dos mais importantes jornalistas e autores do século 20 no Rio de Janeiro. Como repórter, foi pioneiro na adoção de um estilo que une a escrita literária à jornalística, a ficção à realidade, o entremeio que costura jornalismo e literatura, de maneira a respeitar as condições impostas por ambos.

Ingressou na imprensa aos 16 anos, sendo o primeiro brasileiro a ter o senso da reportagem moderna, entre as quais se tornaram célebres As religiões no Rio e o inquérito O momento literário, ambas publicadas em livros.

Para muitos pesquisadores e conhecedores de sua obra, ele alterou o modo de fazer jornalismo assimilando o que entendemos hoje por “crônica”, ao fundar a crônica moderna; gênero em que também se destacaram Machado de Assis, Luis Fernando Veríssimo e Carlos Drummond de Andrade, por exemplo.

Estima-se que o autor tenha escrito mais de 5 mil crônicas, sem contar as que ainda não foram totalmente descobertas, estudadas ou atribuídas ao autor.

Aos 29 anos, em 1910, ele conquistou uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Todavia, devido à sua natureza dita “controversa” e “múltipla”, o autor teve seu pedido negado. A carta que nega sua candidatura, publicada pelo Barão de Rio Branco, o ridiculariza ante a opinião pública, adjetivando-o como um “amulatado, gordo, homossexual”.

“E como ele usou disso da melhor maneira possível? Foi forjando um personagem, um tanto excêntrico, mas com o qual conseguia circular em todos os lugares”, crava a curadora da Flip 2024, Ana Lima Cecílio. “Ele ia dos terreiros e das festas do baixo meretrício e dos marinheiros até os salões da alta sociedade.”

João do Rio sofreu um ataque cardíaco que o impediu de completar 40 anos em 1921, deixou 25 livros e mais de 2.500 textos publicados em jornais e revistas.

“Ele foi o primeiro jornalista, e o último talvez, popstar que esse país teve”, pontua a curadora. “Tem uma cena que eu gosto muito de lembrar: quando ele morreu, o Rio de Janeiro tinha 1 milhão de habitantes. E tinha 100 mil pessoas na rua. Ele teve o ‘enterro de Victor Hugo’, que é uma expressão que o Nelson Rodrigues usava”, finaliza.

Gabriel Moreno e Laryssa Toratti são alunos de Jornalismo da FAAP

--

--

LabJor
LabJor

Um laboratório de informação: Descobrimos e contamos histórias que dão sentido ao presente.