SP deve ganhar um novo cinema no Conjunto Nacional: o Cine Marquise

Antigo Cinearte será reformado pela empresa Tonks e, com nova tecnologia, receberá filmes, festivais e eventos de E-sports

LabJor
LabJor
4 min readMar 28, 2021

--

Nathalya Lomonaco Macchia

As restrições de circulação na pandemia seguem deixando marcas profundas no mercado de distribuição e exibição audiovisual. Se no início de 2020 comemorava-se a superação inédita do número de salas de cinema brasileiras — 3.505, frente ao ápice de 3.300 dos anos 1970 — , hoje vislumbramos portas fechadas que, em cerca de 500 a mil casos, podem não voltar a abrir. Mas, na contramão desse cenário, a palestra com Marcelo Lima nos Encontros de Comunicação da FAAP trouxe uma boa notícia: mesmo em meio a tantas incertezas, São Paulo deve ganhar em breve um novo cinema. Com tecnologia de ponta e localizado no Conjunto Nacional, um dos pontos mais emblemáticos da cidade, o Cine Marquise deverá receber tanto filmes quanto exibições de competições de E-sports.

CEO da Tonks, empresa do mercado de distribuição e exibição, Marcelo contou que a companhia tinha duas opções no atual cenário: encerrar as operações ou tentar algo novo. Aí veio a ideia de assumir um cinema, das reformas estruturais à programação. A busca por possíveis salas começou em meados de maio do ano passado e envolveu prospecção até em outros países até se estabelecer num dos pontos mais queridos de São Paulo, entre a Avenida Paulista e as Ruas Augusta e a Rua Padre João Manoel.

Ícone da arquitetura moderna da cidade, o prédio abrigou por décadas as duas salas do antigo Cinearte — que desde 1963 também já foram chamadas de Cine Rio, Cine Bombril, Cine Livraria Cultura e Cinearte Petrobrás. Ponto conhecido dos cinéfilos paulistanos, o espaço fechou em fevereiro de 2020, após corte do patrocínio da Petrobrás.

Logo do novo Cine Marquise. Imagem: Marcelo Lima

Pelo projeto da Tonks, a maior das duas salas, com 321 lugares, agora receberá tela importada inédita no país, com sistema de som Atmos, fruto da parceria com a Dolby, além de projetor de última geração e poltronas semivip. Já a sala pequena, com capacidade para 83 pessoas, terá equipamentos parecidos, com exceção do sistema de som, substituído pelo Dolby 7.1. A antiga bilheteria dará espaço a uma franquia de comida mineira.

Perspectiva da Luderia e do lounge de entrada das salas no novo Cine Marquise. Foto: Divulgação.

Para Marcelo, a demanda por salas de cinema existe e a suspensão das atividades não pode ser confundida como abandono das sessões. “O público está chegando. A população está sedenta, carente de sair. Ir ao cinema, ao teatro, ao parque. Então, a quantidade de ingressos vendidos não vai cair”, acredita.

Ele rejeita análises que preconizam a morte do cinema por causa do streaming. Em sua visão, o cinema compete com outras atrações sociais — e não com a atividade individual de ver filmes na TV. Pensando nisso, não só filmes serão oferecidos ao público. A aposta da Tonks é criar uma experiência em torno de um lobby, com capacidade estimada para 70 pessoas, que, além das duas salas, contará com luderia, loja de colecionáveis e venda de cervejas parceiras e de quitutes da lanchonete. Toda essa estrutura deverá ser usada para exibições, lançamentos, festivais e sede de eventos de E-Sports. Não por acaso, para garantir essa possibilidade, a reforma contou também com instalação de fibra ótica.

Marcelo Lima, durante a conversa nos Encontros de Comunicação. Foto: Nathalya Macchia

Além do espaço, a programação será cuidadosa. A expectativa é de se afastar de grandes franquias e mergulhar em filmes premiados em festivais como Cannes, Sundance, Rotterdam, além de blockbusters originais. Os longas nacionais também devem ter destaque, vislumbrando a possibilidade de equiparação com os internacionais. A proposta envolve dias da semana com exibições de temáticas fixas, para envolver e fidelizar o visitante.

Para financiar o projeto, além das parcerias a Tonks optou por abrir um financiamento coletivo. Quem contribuir ganhará recompensas, como ingressos, nome gravado na entrada da sala histórica e visitas às obras.

Nathalya Lomonaco Macchia é estudante de Cinema na FAAP

--

--

LabJor
LabJor

Um laboratório de informação: Descobrimos e contamos histórias que dão sentido ao presente.