Telefone fixo está desaparecendo? Não na Vila Maria Zélia

Segundo a Anatel, Brasil aparece em 7º lugar no ranking dos países que ainda mais fazem uso do aparelho

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4 min readJun 13, 2024

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Laryssa Toratti

Criado em 1876, o telefone fixo faz parte da história de milhares de pessoas. Mesmo quem não possui um em casa já o viu em filmes, escritórios, na casa de avós. É bem verdade que eles hoje são em número muito menor que o de celulares 4G e 5G. Dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) mostram que havia no Brasil 23,9 milhões de acessos do telefone fixo em abril de 2024, em comparação a 259 milhões de telefonia móvel. Em alguns lugares, porém, eles ainda reinam absolutos na preferência de muitos usuários. É o caso da Vila Maria Zélia, localizada no Belenzinho, zona leste de São Paulo. O LabJor foi até lá conversar com moradores.

Praça da Vila Maria Zélia, na zona leste paulistana. Fotos: Laryssa Toratti

Fundada em 1917, a Maria Zélia foi criada como uma vila operária para trabalhadores da filial Belenzinho da tecelagem Cia. Nacional de Tecidos da Juta. Hoje a vila funciona como uma espécie de condomínio, onde os residentes usufruem da estrutura arquitetônica típica dos anos 1950. O local concentra moradores de todas as idades, mas, principalmente, pessoas acima dos 50 anos que passaram boa parte da vida e formaram sua família ali.

São pessoas como a aposentada Ana Supino, de 90 anos, moradora da Maria Zélia há seis décadas. “Eu uso o telefone (fixo) há uma vida. Desde que eu moro aqui. Isso tem uns 60 anos”, afirma. “Ele é mais prático pra mim. Porque, se o celular está longe, eu não escuto tocar. Esse aqui eu sempre escuto. É sempre a família que liga. Se eles veem que eu não atendi lá, eles ligam por aqui e aí é mais fácil. Então eu mantenho por causa da família e porque eu gosto.”

Ana Supino usando seu telefone fixo. Fotos: Laryssa Toratti

O telefone fixo para uso pessoal não faz tanto sucesso entre as gerações mais jovens, mas ele definitivamente não deixou de existir. Segundo dados disponibilizados pela Anatel em 2021, o Brasil aparecia em 7º lugar no ranking dos países com mais assinantes de telefonia fixa: 28.883,475 milhões. Em 2015, eram 43,4 milhões de acessos.

Mesmo que venha perdendo força para os aparelhos móveis, o telefone fixo também ainda é utilizado por 16,6% dos 217 participantes de uma pesquisa realizada pelo LabJor entre 27 de maio e 7 de junho com moradores da cidade de São Paulo, de idades variadas.

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É nítido que a popularidade do aparelho caiu muito. De todas as respostas, 83,4% representam pessoas que não utilizam o aparelho. As 97 pessoas que responderam que fazem uso do telefone apontaram seus motivos.

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Além do uso pessoal, participantes apontaram o uso corporativo. Principalmente os mais jovens, que atuam no mercado de trabalho e têm contato com ele diariamente. “Eu uso para falar com clientes” respondeu um dos entrevistados. No total foram 35 respostas referentes a este uso, sendo 11 de pessoas entre 35 e 44 anos e 5 de 18 a 24 anos.

Gerações do telefone fixo. Foto: Pexels

Na Vila Maria Zélia, usuários também destacam a funcionalidade e a memória afetiva como vantagens em relação ao celular. “Tenho linha telefônica desde 1974. Eu uso o telefone fixo porque muitas vezes o celular falha. O telefone fixo eu acho mais fácil”, comenta o aposentado Luiz Carlos Mendonça, de 78 anos.

Luiz Carlos Mendonça usando seu telefone fixo. Foto: Laryssa Toratti

Já Renato Toratti, 72 anos, também aposentado e também morador da Vila Maria Zélia, diz que já se adaptou totalmente ao celular, mas mantém o telefone fixo para o caso de alguma necessidade.

“Eu tenho telefone fixo há mais de 40 anos, mas nem sei mais porque eu uso. Tanto que eles ficaram mudos esses dias e eu nem vi. Se tivesse que desligar, por mim tudo bem, hoje eu uso meu celular”, afirmou. “Eu não sinto falta de usar o telefone porque me acostumei ao celular, mas eu deixo ele aqui. A gente pode precisar, nunca se sabe.”

Renato Toratti utilizando seu telefone fixo. Fotos: Laryssa Toratti

Laryssa Toratti é aluna de Jornalismo da FAAP

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