UM PEIXE BRASILEIRO NUM LAGO GRANDE

Pedro Eboli mostra os desafios de crescer na indústria dos seriados animados

LabJor
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4 min readMar 28, 2022

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Gabriela Suguinoshita, Guilherme Saglietti e Mariana Botelho

Do universo de um pinguim num colégio carioca às cômicas aventuras de Cupcake e Dinossauro, Pedro Eboli relatou o processo de produção de suas séries animadas para os estudantes do curso de Cinema e Animação da FAAP. Realizada em 14 de março via Zoom, a conversa foi mediada pela coordenadora do curso de Animação, Stephanie Watanabe, e feita em parceria com a Vancouver Film School (VFS), universidade canadense voltada aos estudos de cinema.

O animador e diretor Pedro Eboli durante a palestra. Foto: Gabriela Suguinoshita

Nascido e criado no Rio de Janeiro, Pedro Eboli iniciou seus projetos em 2008, quando a indústria de animação brasileira ainda não se encontrava consolidada. Diretor, animador, designer de personagem e artista de board, ele começou sua carreira na Publicidade e chegou a trabalhar cinco anos em agência. Mas não se encontrou. “Não era pra mim”, disse. “Estava me sentindo muito infeliz com a minha carreira e era muito jovem para me sentir infeliz com a minha carreira.”

Foi quando soube que um pequeno estúdio de animação, Birdo Studio, estava procurando um animador. “Na época, o estúdio eram quatro pessoas. Fui a quinta pessoa a entrar”, contou, lembrando que passou dez anos por lá. “Foi um misto de trabalho duro com bastante sorte.”

Paralelamente, a animação brasileira começava a tomar forma e “a se transformar no que é hoje”, como comentou Eboli. Entre os dias 25 e 30 de janeiro de 2010, foi ao ar o projeto Anima TV, uma iniciativa pública promovida pela TV Cultura e pelo Ministério da Cultura. O projeto focava as produções de animações brasileiras nos canais de televisão e evidenciou o fato de canais infantis não possuírem séries nacionais. “No Brasil, Cartoon Network, Disney e Nickelodeon não tinham nada de animação brasileira, não tinham nenhuma série brasileira para passar.”

Com a procura de séries nacionais por parte das emissoras, surgiu a oportunidade de criação de Oswaldo (2017, Brasil), que conta a história de um pinguim que, em companhia dos amigos, enfrenta vários desafios. Após ganhar o edital da TV Cultura e receber apoio da Agência Nacional do Cinema (Ancine), o projeto teve seus direitos de exibição comprados pelo Cartoon Network. “Aí partimos para fazer os primeiros 13 episódios do Oswaldo. Para fazer um episódio de 11 minutos, era uma tarefa hercúlea”, contou Eboli, destacando que tudo foi feito “sem supervisão adulta”, uma vez que ele e os animadores não tinham experiência com produção de séries.

Já a construção do protagonista de Oswaldo foi um processo natural e incorporou a experiência pessoal de Eboli como um nerd carioca, “um peixe fora d’água” que se sente deslocado no ambiente em que vive. Nas salas de roteiro, ele e os outros participantes traziam, por exemplo, relatos pessoais de seu período escolar.

Design do personagem Oswaldo por Pedro Eboli. Foto: Reprodução/ Twitter Pedro Eboli

Já a produção de Oswaldo levou anos para ser concluída. Por isso, uma das dicas que Pedro Eboli deu para quem quer produzir uma série é “ter bastante paciência”.

Da mesma forma que fez com Oswaldo, na série Cupcake e Dino (2018, Brasil e Canadá) Eboli se inspirou em sua relação com a irmã. “Ela é muito fofa, mas uma das pessoas mais determinadas que eu conheço”, disse. “O que você pode dar de especial pra produtora que ninguém mais pode dar? Um ângulo pessoal. Só você vê o mundo do seu jeito.”

Ilustração de Pedro Eboli dos personagens Cupcake e Dino. Foto: Reprodução/ Instagram Pedro Eboli

Questionado sobre estratégias que auxiliam o processo de criação, Eboli comentou que o telespectador vai se entender na história a partir do protagonista. O criador da série fez uma analogia com O Senhor dos Anéis. “É muito mais fácil você se identificar com o Frodo do que com um anel que tem de ser jogado num vulcão”, explicou. “São pelas experiências vividas pelo protagonista que os telespectadores conectam o fictício à própria vida. Portanto, o universo deve estar em sintonia com a figura principal da história, não ao contrário. Tudo o que é colocado deve gerar um conflito ou uma concordância centralizada no protagonista.”

Eboli também discorreu sobre seus trabalhos mais atuais. Em 2019, ele voltou a trabalhar com a Disney. Em seu pitching, apresentou cinco ideias diferentes e todas foram aceitas. O animador então se mudou para Los Angeles, na Califórnia, e trabalhou um ano no Disney TVA, estúdio que cria séries animadas para canais de televisão e redes sociais. Atualmente, desenvolve projetos com Cartoon Network, Nickelodeon, Disney, Amazon Prime e também atua como free lancer.

Abaixo, o trailer da série Cupcake & Dino:

Gabriela Suguinoshita, Guilherme Saglietti e Mariana Botelho são alunos do curso de Animação da FAAP

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