Uma vida dedicada à arte da animação

André Barroso

LabJor
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13 min readSep 15, 2019

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Richard Williams foi descrito como a “face da animação” pelo historiador de cinema americano John Canemaker, autor do livro Walt Disney’s Nine Old Men and the Art of Animation (2001, Disney Editions). E a comparação não é exagero. Ele animou, produziu, dirigiu, escreveu, ilustrou e foi ator de voz — de Droopy, em Uma Cilada Para Roger Rabbit (1988, Touchstone Pictures).

Para Williams, não havia por que fazer algo se não fosse para alcançar o melhor resultado possível. Aos 35 anos, ele já era dono de um estúdio de animação renomado, havia sido premiado internacionalmente e era bastante requisitado no mercado.

Richard Williams, aos 82 anos, demonstrando no salto o conceito de antecipação em animação. Foto/ Reprodução Twitter

Gigantes da animação, como Ken Harris (1898–1982) — precursor da animação da Warner Bros e dos Looney Tunes (a turma de Pernalonga, Patolino, Frajola e Pintinho) — , e Roy Naisbitt — hoje com 89 anos, e que trabalhou no clássico 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick — , trabalharam com Williams em diversos projetos em seu estúdio em Londres.

Richard Edmund Williams nasceu em Toronto, Canadá, em 1933. Era filho de Leslie Lane, uma ilustradora renomada de quem o filho disse ter retirado a inspiração e o desejo de trabalhar com ilustração.

A paixão pela animação começou cedo, aos 10 anos, quando se deparou como livro How to Make Animated Cartoons (Como Fazer Desenhos Animados, em tradução livre), de Nat Falk, hoje já fora de circulação. Publicado em 1941, esta preciosidade falava dos sete maiores estúdios de animação da época, como a Disney, Warner Bros e Terrytoons. Didático e direto, o livro serviria como um excelente material de apoio para Williams criar os desenhos das personagens de Uma Cilada Para Roger Rabbit mais de quatro décadas depois.

Aos 12 anos, Williams fez sua primeira animação: um walk cycle (ciclo de caminhada) de um pássaro para sua aula de história. Aos 15, decidiu fazer uma viagem de cinco dias de Toronto até Los Angeles para conhecer os estúdios da Disney. Assim como o cineasta Steven Spielberg, que tentava escapar dos guias para se infiltrar nos estúdios da Universal Studios, Williams fez o mesmo na Disney para apresentar seu trabalho para alguns animadores. E foi bem recebido. Ele conheceu gigantes do estúdio, como Richard Kelsey (1905–1987) e Ward Kimball (1914–2002). Richard Kelsey foi pai da famosa chuva de pó mágico da cena de Cinderela (1950), em que as suas roupas se transformam em belo vestido, e que virou marca registrada do estúdio. Ward Kimbal era um dos Nine Old Men da Disney, algo como “os nove anciões da Disney”, que foram os principais animadores na era de ouro do estúdio, responsáveis por clássicos como A Branca de Neve (1937), Pinocchio (1940), Fantasia (1940) e Dumbo (1941). Ele ainda foi vencedor do Oscar de Melhor Curta-Metragem de Animação em 1970 pelo curta It’s Tough to Be a Bird (É Difícil Ser um Pássaro, em tradução livre). Williams chegou a encontrar o próprio Walt Disney, mas disse em uma palestra no MoMA de Nova York, com John Canemaker, em fevereiro de 2018, que “não estava interessado em conhecê-lo, porque ele não desenhava”.

Richard Williams com Richard Kelsey nos estúdios da Disney em 1948 (“Manual da Animação”). Foto/ Reprodução

A primeira grande lição de Williams na animação veio de Kelsey, que na época já havia sido diretor de arte de filmes como Pinóquio (1940), Dumbo (1941) e Bambi (1942). Em uma das histórias em que Williams conta no Manual da Animação, ele cita o primeiro grande conselho de Kelsey: “Antes de mais nada, aprenda a desenhar. Você sempre pode aprender a animação depois”. Após voltar para casa, Williams telefonou para Kelsey e perguntou novamente o que deveria fazer. E ele respondeu: “Eu já te contei o que fazer: aprenda a desenhar!”.

Williams levou o conselho a sério e ingressou em uma escola de arte. Aos 16 anos, já trabalhava com ilustrações comerciais. Seu interesse por animação se esvaeceu por um período, pois estava determinado a aprender a desenhar. Aos 20 anos, mudou-se para Ibiza, na Espanha, onde se dedicou inteiramente à pintura por dois anos.

Algumas das pinturas que Williams produziu na Espanha (“Manual da Animação”). Foto/ Reprodução

Aos 22, Williams foi convidado por George Dunning (1920–1979), diretor do longa-metragem Submarino Amarelo (1968) , para trabalhar com comerciais na United Productions of America (UPA) em Londres. Era uma época em que buscava escapar do monopólio hollywoodiano. Na mesma conversa com John Canemaker no MoMa de Nova York, Williams admitiu que era arrogante quando jovem e achava o estilo da Disney brega, sentimental e com um processo mecanizado de produção.

Enquanto não estava trabalhando com Dunning, Williams aproveitava o tempo livre para produzir seu primeiro curta-metragem. The Little Island (A Pequena Ilha), que ficou pronto em 1958 e deu a ele no ano seguinte, aos 26 anos, seu primeiro BAFTA de Melhor Curta de Animação.

Imagem do curta-metragem 'The Little Island', primeiro filme dirigido por Williams. (“Manual da Animação”). Foto/ Reprodução

O trabalho foi mostrado para o diretor da UPA, Leo Salkin (1913–1993), diretor do curta-metragem especial para a televisão de 1975 The 2000 Year Old Man (O Homem de 2.000 Anos), da Crossbow Productions, que não se impressionou. E Williams só seria promovido ao cargo de animador após fazer um comercial para Bob Godfrey (1921–2013), vencedor do Oscar de Melhor Curta-Metragem por Great (Ótimo). Seis meses depois, acabou promovido a diretor, mas a unidade de Londres da UPA fechou. Williams então trabalhou para Dunning em produção de comerciais por mais três meses e decidiu sair para criar o próprio estúdio. E foi na Richard Williams Animation que ele passou a maior parte da carreira.

Até 1992, quando o estúdio fechou, Williams e sua equipe produziram mais de 2,5 mil comerciais e prestaram os mais diversos serviços de animação para filmes live action (gravação com atores reais), muitas vezes para grandes nomes da indústria. Para Tony Richardson — diretor de As Aventuras de Tom Jones (1963, Woodfall Film Productions) e Blake Edwards — diretor da série de filmes A Pantera Cor-de-Rosa de 1963 até 1993 — , por exemplo, Williams criou de animações de abertura a desenhos de cartazes. Seus trabalhos mais marcantes incluem Que É que Há, Gatinha? (1965, Famous Artists Productions), Casino Royale (1967, Famous Artists Productions), A Primeira Noite de um Homem (1967, Mike Nichols/Lawrence Turman Productions), A Carga da Brigada Ligeira (1968, Woodfall Film Productions) e A Volta da Pantera Cor-de-Rosa (1975, ITC Entertainment).

Williams fez o design da campanha de publicidade de “A Primeira Noite de um Homem”, de Mike Nichols (“Manual da Animação”). Foto/ Reprodução.
Williams fez as animações de abertura dos filmes “O Retorno da Pantera Cor-de-Rosa“' (1975) e “A Nova Transa da Pantera Cor-de-Rosa” (1976), ambos dirigidos por Blake Edwards. Foto/ Reprodução MGM.
Algumas imagens de animações feitas por Williams para 'A Carga da Brigada Ligeira', de Tony Richardson. O traço da animação é fortemente inspirado nos desenhos do 'Illustrated London News', primeiro jornal ilustrado semanal do mundo, (“Manual da Animação”). Foto/ Reprodução

Williams não via a produção da animação como trabalho, tampouco como carreira. O canal Cartoon Brew descreveu sua paixão em uma matéria em homenagem à sua morte como “um estilo de vida, uma religião”, da qual ele nunca se enjoou até o fim da vida.

Para estimular os funcionários, ele constantemente convidava animadores e artistas prestigiados para lecionarem e compartilharem conhecimentos com os mais jovens. Um dos casos mais significativos foi o do talentosíssimo Art Babbitt (1907–1992) — animador da dança dos cogumelos em Fantasia (1940) — , que deu diversas aulas para animadores e contribuiu em alguns projetos de Williams.

Essa era a rotina do estúdio: de manhã, palestras e aulas com titãs da animação; à tarde, trabalho; à noite, lições de casa que tinham sido passadas nas palestras. Foi nesse meio que surgiu o animador americano Eric Golberg, um dos animadores mais prestigiados da Disney, onde trabalha desde 1992.

A persistência e o foco no desenvolvimento técnico influenciaram um dos filmes mais reconhecidos de Williams: The Thief and the Cobbler (O Ladrão e o Sapateiro, em tradução livre), da Warner Bros e Miramax, de 1993, cujo histórico de produção se diferencia de qualquer outra produção da história do cinema. Devido a constantes interrupções na produção, o filme demorou mais de 30 anos para ficar pronto.

Cena do maquinário de guerra de 'The Thief and the Cobbler': a produção da cena de dez minutos custou US$ 250 mil dólares e foi feita para apresentar ao príncipe Mohammed bin Faisal Al Saud, da Arábia Saudita, que se interessou em financiar o filme. Após dois prazos descumpridos e estouro do orçamento inicial de US$ 100 mil dólares, o príncipe desistiu de financiar o projeto. Foto/ Reprodução AMPAS

Williams e equipe financiavam o projeto com o dinheiro de trabalhos em comerciais e aberturas de filmes, mas sua insistência em querer produzir o maior e melhor filme de animação de todos os tempos acabaria contribuindo para o atraso do lançamento do filme e sucessivos estouros de orçamento.

O desenvolvimento desse filme começou em 1966, quando Williams teve a ideia de adaptar o livro, lançado no mesmo ano, The exploits of the incomparable Mulla Nasrudin (As façanhas do incomparável Mulá Nasrudin, editora Roça Nova, 2016), de Idries Shah (1924–1996), para uma animação. Ele era bastante familiarizado com a história, pois tinha feito as ilustrações do livro, e o irmão do autor, Omar Ali-Shah (1992–2005), trabalhava em seu estúdio como produtor.

Williams conseguiu chamar a atenção do mercado para o que estava produzindo após ganhar seu primeiro Oscar, em 1972, pelo curta-metragem A Christmas Carol (Um Cântico de Natal), adaptação da obra de Charles Dickens (1812–1870). O filme contou com a presença de Chuck Jones (1912–2002) — diretor de animação da Warner Bros que dirigiu mais de 200 desenhos animados dos Looney Tunes — como produtor executivo. O processo de desenvolvimento do filme foi descrito por Williams como “um teste para o nosso filme (The Thief and the Cobbler) e a chance de descobrir os pontos fortes e fracos da equipe em momentos de pressão. Ao longo dos anos, no entanto, o filme viria a sofrer diversas alterações.

Em 1973, Williams já tinha produzido mais de três horas de animação, mas, segundo testemunho do compositor Howard Blake, 80, no documentário Persistence of Vision (Persistência da Visão, 2012, Kevin Schreck Productions), o material ainda se parecia muito mais a um compilado de pequenas histórias que um filme em si. Para complicar, surgiram divergências com a família autora do livro. Eles queriam 50% de tudo o que fosse arrecadado e tivesse relação com a personagem principal, Nasrudin. No meio da briga, Williams acusou Omar, seu produtor, de desviar dinheiro do estúdio e este se afastou do cargo, levando consigo todos os direitos de uso da história e de Nasrudin. A única coisa que Williams ainda poderia usar era um personagem secundário: o Ladrão. Com isso, nove anos de trabalho de animação acabaram jogados fora.

O documentário Persistence of Vision conta que o animador Ken Harris chegou um dia para trabalhar e viu que todos os seus desenhos estavam sendo retirados de sua mesa. Ao perguntar o que estava acontecendo, ouviu que não iriam mais trabalhar com Nasrudin. Harris então respirou e disse: “Bom, de volta ao trabalho!”.

Com a principal história descartada, Williams se juntou com o compositor Howard Blake para fazer uma nova versão do roteiro e foi aconselhado a trabalhar num personagem inspirado em Charles Chaplin e Buster Keaton. Acabaram criando Tack, o sapateiro. A história de Williams e Howard sofreria alterações ao longo dos anos, principalmente com a atuação de Margaret French, uma amante de Williams. Mas em 1973 o enredo se concretizou e sua equipe imaginou que finalmente o filme seria feito. Isso, no entanto, não ocorreu.

Williams exigia bastante de seus profissionais. O artista de efeitos especiais Chris Knott conta em Persistence of Vision que “ele tinha uma péssima reputação (…) e podia ser o melhor ou o pior”. Diz também que ele tinha padrões muito altos e os aplicava não só para si, como, acima de tudo, para os outros. No mesmo documentário, a animadora Julianna Franchetti relata que Williams “era bastante volátil e sentimental e, se as pessoas fizessem algo errado, sua vontade já era de demiti-las. “A frase dele era: ‘A porta está ali’”.

Em entrevista exclusiva para o LabJor FAAP, o animador canadense Nik Ranieri — que colaborou com Williams em “Uma Cilada para Roger Rabbit” — disse, entretanto, que Williams acreditava tanto em elogios quanto em críticas. “Dick (Williams) incentivava seus animadores a fazer o melhor trabalho — às vezes por meio de incentivo, outras vezes por medo”.

A produção de The Thief and the Cobbler daria uma guinada após Uma Cilada para Roger Rabbit (1988, Touchstone Pictures), um dos trabalhos mais reconhecidos e aclamados de Williams.

Imagem de 'Uma Cilada para Roger Rabbit', de 1988, dirigido por Robert Zemeckis e com animação assinada por Richard Williams. Foto/ Reprodução AMBLIN.

Os comerciais do refrigerante Fanta, que Williams desenvolveu com Chris Knott, chamaram a atenção do cineasta Steven Spielberg, um dos diretores e produtores mais renomados dos EUA. Eles mostravam crianças jogando futebol e interagindo com Mickey, Pateta, Patolino e Pluto a partir da mesma técnica aplicada em Roger Rabbit.

O segredo de Williams era animar on ones — isto é, um desenho para cada frame da película — e em perspectiva. Nas gravações, os atores interagiam apenas com pontos de referência para que o olhar deles estivesse voltado para os olhos das personagens, ou com braços mecânicos e objetos que eram manipulados por marionetistas. No processo de animação, as personagens eram inseridas por cima dessas referências. Os comerciais também contavam com um processo chamado aereal image, desenvolvido por Chris Knott. Essa técnica consiste em inserir sombras e tonalidades em personagens animadas que interagem com um ambiente live action.

À esquerda, a cena como foi gravada; à direita, o resultado final. Foto/ Reprodução AMBLIN.

Bem impressionado por esses comerciais, o diretor Robert Zemeckis, 65, que havia acabado de dirigir o aclamado De Volta para o Futuro (1985, Universal Pictures), recrutou Williams para assumir o cargo de diretor de animação de Uma Cilada para Roger Rabbit. E impôs três condições: a animação deveria ter a versatilidade e a articulação da Disney, as personagens deveriam parecer que tinham sido feitas pela Warner Bros e o humor deveria ser similar aos curtas-metragens de Tex Avery (1908–1980), que trabalhou e Tom e Jerry (1940, Hanna Barbera), porém não tão bruto quanto.

Williams (centro) comemora seus dois Oscars ao lado do ator Robin Williams (esq.) e Charles Fleischer (dir.), ator de voz da personagem Roger Rabbit. Foto/ Reprodução AMPAS

O cronograma foi bastante regrado. Segundo Nik Ranieri, cerca de 75% de toda a animação do filme foi realizada em 6 a 7 meses. E a sequência de 3 minutos da abertura levou metade do tempo de produção para ser feita. O filme foi um sucesso instantâneo e arrecadou mais de US$ 300 milhões de bilheteria pelo mundo, segundo o Box Office Mojo, site que coleta dados estatísticos de cinema. O filme também ganhou 4 Oscars, sendo dois destes para Williams: um de Efeitos Especiais, e um Prêmio Honorário por suas conquistas no uso da animação para este filme.

Com o sucesso de Roger Rabbit, Williams conseguiu US$ 50 milhões da Warner Bros para produzir e distribuir The Thief and the Cobbler. Finalmente surgia uma luz no fim do túnel da interminável produção do filme. Mas o animador não conseguiu se adequar aos prazos estabelecidos pelo estúdio. De acordo com o documentário Persistence of Vision, Williams nem sequer terminou o storyboard do filme, a sequência de ilustrações que serve para pré-visualizá-lo e planejar sua produção. Em 1992, ele foi chamado à sede da Warner Bros, em Los Angeles, para exibi-lo. Mas apenas cerca de 85% do filme estava pronto. Os atrasos e o estouro no orçamento desagradaram aos investidores e Williams acabou demitido do próprio filme. Com isso, seu estúdio fechou.

The Thief and the Cobbler seria finalizado por Fred Calvert e lançado em 1993 sob o nome The Princess and the Cobbler (A Princesa e o Sapateiro). Posteriormente, a produtora Miramax — subsidiária da Disney à época — compraria os direitos do filme e faria sua própria versão, mudando o nome para Arabian Knights (Os Cavaleiros Árabes, em tradução livre). Mas tanto uma quanto outra foram mal recebidas por crítica e público. Mais tarde surgiriam novas versões do filme, finalizadas por artistas independentes que buscam fazer jus ao trabalho de Williams. Em 2013, The Thief and the Cobbler foi preservado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

Depois dos problemas com The Thief and the Cobbler, Williams voltou para o Canadá e passou cinco anos vivendo com a esposa numa ilha. Mas não perdeu o gosto por aprender. Voltou a estudar desenho e se reaproximar dos estudantes. E resolveu compilar tudo o que tinha aprendido com os grandes mestres da animação — assim como com alguns estudantes. Escreveu então o que é considerada hoje a bibliografia obrigatória para qualquer um que queira trabalhar na área: o Manual da Animação.

Imagem que ilustra a capa do 'Manual da Animação', de Richard Williams. Foto/ Reprodução AMPAS.

Com ele, Williams passou o resto da vida se dedicando à educação e dando palestras sobre animação ao redor do mundo. Com linguagem clara e de fácil compreensão, ele descreve meticulosamente todo o processo de desenvolvimento da animação e relata histórias de seu convívio com nomes como Ken Harris, Milt Kahl (1909–1987) — animador de filmes da Disney como Branca de Neve e os Sete Anões (1937) e Mogli, o Menino Lobo (1967) — Grim Natwick (1890–1990) — também animador de Branca de Neve e A Christmas Carol de Williams, e Art Babbitt. Suas conquistas são descritas de forma tão encantadora que a impressão é de que ele está de fato dando uma aula ao leitor.

Williams ilustra os 192 frames de animação necessários para realizar uma ação de oito segundos de um personagem andando, pegando um giz no chão e escrevendo algo na lousa (“Manual da Animação”). Foto/ Reprodução.

Nos últimos anos de vida, ele também resgatou uma ideia que tinha desde os 15 anos: a de fazer um longa-metragem inspirado na peça Lisístrata, de Aristófanes (411 AC)). Williams demorou quase seis décadas para desenvolver o projeto porque acreditava não ter a habilidade manual necessária para concebê-lo.

Em 2015, como um prólogo de seu filme, ele lançou o curta-metragem Prologue. Nele apresenta ao público um conflito contínuo entre quatro guerreiros, sem nenhum corte, e um traço que destoa de todos os seus trabalhos anteriores. Há um ditado que diz que em animação o ideal é fazer o que uma câmera não consegue fazer. Williams levou esse ditado meio que ao pé da letra.

“Fiquei estupefata ao vê-lo”, disse, em entrevista exclusiva para o LabJor FAAP, a animadora Rosana Urbes, diretora do curta-metragem “Guida” (2014, RR Filmes de Animação). Para ela, o filme “somente poderia ter sido feito em animação, com um design de anatomia para animação impecável e super bem animado”.

Exibido no Festival de Annecy em 2015, Prologue chegou a ser indicado ao Oscar de Melhor Curta-Metragem em 2016 e se tornaria o último material inédito de Williams.

O animador faleceu em agosto de 2019, aos 86 anos, enquanto ainda produzia seu longa-metragem. Sua esposa e sua filha contaram que ele trabalhava pelo menos sete horas diárias, todos os dias da semana. E nem no dia de sua morte deixou de trabalhar.

Williams com seus alunos em uma palestra em Sidney, na década de 1990. Foto/ Reprodução Twitter

André Barroso, 21, é aluno de Animação da FAAP.

Para acessar esta reportagem em inglês, clique aqui.

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