Exposição dos alunos do Atelier NAC da UFRN

O resultado da experiência obtida das pessoas em contato com a arte

Jornalismo 2017
Laboratório da Notícia
6 min readNov 29, 2017

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Por Beatriz De Figueiredo, Jefferson Tafarel, José Geraldo, Letícia Clemente e Maria Vasconcelos.

Todos os semestres o NAC, Núcleo de Artes e Cultura, da UFRN, abre inscrições para três cursos (introdução ao desenho artístico, pintura em acrílica e pintura em aquarela) lecionados por alunos graduandos de Artes Visuais. Estes são abertos para pessoas de todas as idades, tanto alunos da universidade como para a comunidade. A exposição, realizada nos dias 22 a 28 de Novembro, apresentava o resultado dos trabalhos realizados durante o período.

O curso, que é tido como primeiro contato com a arte para muitos, é uma oportunidade para se descobrir que para ser artista não é necessário um dom, mas, sim, vontade de criar e descobrir o mundo através de novas formas. O atelier é um ambiente harmonioso onde, além de local de criação e desenvolvimento, também há a construção de laços afetivos. Durante as aulas é comum a turma se organizar para um lanche coletivo em cada aula como momento de partilha. No evento, o orgulho estampava o rosto de cada expositor entusiasmado a continuar suas trajetórias no mundo da arte.

Exposição no atelier do NAC. Wesley e sua obra “Verdade” (Foto: Letícia Clemente)

Wesley Marques, 24, poeta desde a adolescência, resolveu expandir para as artes plásticas seu modo de ver o mundo. “A pintura partiu do desejo intrínseco de dizer o que não sei falar, dizer o que, como poeta, não soube expressar, pois a palavra é limitante.” O artista afirma que a arte é como um alívio para ele ao escorrer o que vem de seu interior e também acredita ser um poderoso artifício para o mundo, afetando e transformando tudo para melhor.

Marileide e sua pintura “Navegar é preciso” (Foto: Letícia Clemente)

Participante dos cursos há três anos, Marileide de Melo, 69, afirma que desde que se aposentou como professora dedica-se ao seu amor à arte. Ultimamente vem desenvolvendo o tema “mar” e suas relações com as pessoas que vivem dele, inspirando-se no lugar em que mora. A obra que contem uma técnica mista de aquarela e acrílica foi baseada numa fotografia capturada na praia de Barreta/RN.

Taz e seu desenho “Estranho mundo de Jack” (Foto: Letícia Clemente)

Thiago Caldas (ou Taz, como prefere ser conhecido), já havia tido contato com artesanato de argila e crochê, mas viu a oportunidade de aprimorar seus conhecimentos em desenho com o curso. Aspirante ao curso de Artes Visuais, ele se inspirou no personagem de Tim Burton para fazer a obra de nanquin com as técnicas de pontilhismo e rachura. O artista afirma o desejo de retornar próximo ano para mais cursos. Para Taz, a arte é capaz de intensificar o lado humano no mundo, desfavorecendo o lado supérfluo. “A arte ajuda a compreender sentimentos que muitos deixam passar batido”, diz.

Alana Antunes e sua obra “Contemplando a natureza” (Foto: Letícia Clemente)

Responsável de levar o “cafézinho” para as aulas, Alana Antunes, de 56 anos, é uma cartógrafa aposentada. Contente por apresentar a sua aquarela, foi incentivada pelos filhos a pintar e participar do projeto de extensão dos alunos do curso de Artes Visuais da universidade. Diz que fazer pinturas artísticas é “algo bom para qualquer pessoa, independente de ter ou não ter habilidade”; se entusiasma ao lembrar que, quando chegava em casa, depois das aulas do projeto, “nem que eu fizesse um traço, eu tinha que mostrar e eles ‘vibravam’ ”. Alana planeja continuar com outros tipos de técnicas e materiais para fazer pinturas, que para ela servem tanto quanto uma terapia.

“Contemplando a natureza”, a pintura de Alana Antunes que retratou o sertão como se não houvesse seca (Foto: Jefferson T.)
Maria Kirchmayer mostrando seu quadro “Amanhecer” (Foto: Letícia Clemente)

Cristina Kirchmayer, outra aluna deles, de 58 anos, realizou sua primeira experiência com aquarela também. “Eu gosto da natureza, tentar reproduzir o que se encontra em meu entorno, considero especial.” A professora, que reproduziu árvores sob o crepúsculo que deu cores vivas a sua obra, sente leveza na alma ao fazer arte. Ela acredita que se as pessoas buscassem se expressar mais, por meio da arte, as relações pessoais seriam melhores e o mundo diferente, já que a arte é capaz de trazer mais harmonia e libertação.

“Amanhecer” e a sutileza de suas cores (Foto: Jefferson T.)
Bell e sua pintura “Whale 52” (Foto: Letícia Clemente)

Cristina levou sua filha Bell Kirchmayr, 16, para acompanhá-la no curso de aquarela. Bell diz que as aulas eram uma forma de escape dos estresses do cotidiano, e, tímida, afirma que um grande beneficio da arte para si é conseguir expressar coisas que não conseguiria de outras formas. Para ela, “a arte é a forma que o mundo tem de atravessar os limites e explorar novas ideias”. Sua obra une a ideia da galáxia com a da baleia Whale 52, que só consegue se comunicar numa frequência maior que as demais, assim tendo sua socialização dificultada.

Fernanda e sua obra “Noam Chomski” (Foto: Letícia Clemente)

Desde pequena, Fernanda Monteiro, 26, advogada, descobriu sua veia artística em curso de pintura à óleo, tendo como primeiro artista preferido o Van Gogh. A arte sempre a ajudou a lidar com questões da vida trazendo um significado gigante. Apesar de ter tido contato com a pintura acrílica também, afirma ter se identificado bastante com a aquarela. Para ela, a arte é muito importante para chamar a atenção das pessoas pra questões fundamentais e sensíveis no mundo. Fernanda afirma que pretende continuar nos cursos do atelier, cada vez se aprofundando mais no universo da arte.

Lucas Gabriel e seu desenho “Sora” (Foto: Letícia Clemente)

Lucas Gabriel, 21 anos, aspira trabalhar na área de jogos e buscou aprimorar seus desenhos como complemento para o futuro. Para ele, “a arte é como um meio de comunicação e, assim, é capaz de ligar as pessoas”.

(Foto: Letícia Clemente)

Estudante de Letras, Sarah, 24, teve seu primeiro contato com arte no curso de Introdução ao Desenho Artístico. A artista afirma ter sido uma experiência excelente e que, o que antes parecia ser tão difícil, passou a se tornar mais fácil com a boa didática dos professores. Para ela “a arte é uma forma de ter contato com o seu eu interior e ajuda na reflexão sobre as coisas”. Após o curso, Sarah diz ter a arte como um significado ainda mais amplo em sua vida e indica às pessoas a tentarem um maior contato esta. Acredita que por meio dela é possível haver mais humanidade no mundo e ver que há beleza em tudo.

Crianças, como Luiz Felipe, participaram do projeto também. Na foto, ele e o quadro “Época de outono” (Foto: Letícia Clemente)

Luiz Felipe, ao dizer que era de São Gonçalo do Amarante, na sua inocência de criança, falou seu endereço completo, até o número da casa. “Eu queria muito aprender técnicas de desenhar […] queria aprender a desenhar direitinho, sem borrar”. O garoto de 11 anos trazido pela mãe, funcionária da UFRN, relata o que aprendeu com o curso, que o deixou mais cuidadoso com os desenhos e com a sua produção de arte, que para ele é mais como um hobby e que, ao refletir sobre a criação, “faz a pessoa pensar mais direito”.

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