Disputas eleitorais no Brasil marcadas pela performance

Luana Kanitz
Laboratório de texto
4 min readJan 14, 2019

GABRIELA TURELLA

Não é de hoje que candidatos à presidência se consagram líderes das massas, com discursos performáticos de que irão conduzir o país a melhorias nos setores político, econômico e social.

“A política, de modo geral e no Brasil, em particular, tornou-se desde muito cedo bastante personalizada. Creio que a busca por um salvador da pátria, um herói ou um líder, é um traço constante da política brasileira, reforçado pelo sistema de governo presidencialista que, de certa forma, induz a personalização da disputa eleitoral,” afirma o cientista político Bruno Schaefer.

Segundo Schaefer, é necessário situar historicamente algumas eleições presidenciais para compreender esta personalização. Nos anos de 1930, Getúlio Vargas se tornou uma figura extremamente popular, e ascendeu na política com a criação do discurso “Pai dos pobres e dos trabalhadores.” Sua ligação com as massas urbanas, se deu a partir de uma política pública voltada para a otimização do trabalho e valorização do trabalhador.

Nas eleições presidenciais de 1960, a campanha de Jânio Quadros adotou o slogan: “Varre, varre, vassourinha, varre, varre a bandalheira”, em relação a sua proposta de combate à corrupção e moralização do país. Jânio se personificou como o candidato que faria a limpa no país em busca de apoio popular.

Na década de 80, após a ditadura militar (que durou 20 anos), a população se encheu de esperança novamente com a eleição para presidente. Marcando o início da redemocratização do país, Tancredo Neves era visto por muitos como símbolo de mudança no país e foi eleito no dia 15 de janeiro, com apoio de 480 membros do colégio eleitoral. Na véspera de sua posse foi internado com forte dores abdominais e alguns dias depois acabou morrendo, diagnosticado com diverticulite. O vice-presidente José Sarney tomou posse em seu lugar.

Em seu mandato Sarney lançou um plano econômico, denominado, “Plano Cruzado,” com uma série de medidas em uma tentativa de controlar a inflação e a escassez de alguns produtos. Neste cenário centenas de brasileiros declararam-se “Fiscais do Sarney” em apoio ao seu plano Cruzado.

Na eleição seguinte, em 1990 Fernando Collor se destacou como um discurso contra a corrupção e com a promessa de governar para os descamisados. Ficou então conhecido como o protetor dos “descamisados” e o “caçador de marajás”. Os marajás seriam funcionários públicos que tinham muitos cargos e salários, mas não cumpriam suas funções. E os descamisados, seriam as pessoas que viviam em situação de miséria.

Para a confeiteira, Sandra Beatriz Cardoso, votar em Fernando Collor significava votar em um heroí.

“Acreditava que ele viria a salvar nosso país dos comunistas e também dos marajás”, comentou Sandra.

Nos anos 90, Fernando Henrique Cardoso (FHC) foi eleito presidente consagrado como o “salvador da economia”. Após os quatro anos de mandato, em sua candidatura à reeleição utilizou a vitória brasileira na Copa do Mundo para criação de seu novo slogan “Eu amo o Brasil”. Em seus comícios, afirmava que “O real foi só aquecimento. O próximo tetra são os quatro anos de mandato”, “Vou ganhar como na final. No segundo turno, com garra, prorrogação e pênalti”.

“Me recordo que naquela época o país estava mudando, as coisas estavam melhorando. Votei nele porque ele me passava a segurança de que o país iria progredir,” afirma o operário aposentado Norberto Borba.

Em 2002, O ex-metalúrgico, Luiz Inácio Lula da Silva adotou o slogan “A mudança começou, agora é Lula” e foi eleito com o discurso de acabar com as desigualdades sociais e com a diferença social entre ricos e pobres no brasil.

Para o bancário aposentado de 50 anos, José Paulo Taborda, Lula representava não só a mudança mas também o povo.

“Eu me via em seus discursos, ele era trabalhador como eu era, ele era sindicalista como eu era. Votar no lula era como se a gente estivesse no governo também e eu votei nele com a convicção de que tínhamos de mudar o país”, ressalta.

O então presidente Lula apresentou Dilma Rousseff, que viria a ser sua sucessora em 2010, como “mãe da PAC” (Programa de Aceleração do Crescimento). Sua campanha foi embalada nesse slogan, de “mãe da PAC” que cobrava os andamentos das obras e que iria cobrar pelo crescimento do Brasil.

“Dilma representou para mim a voz das minorias unidas no anseio urgente de ascensão,” afirma a advogada Adelita Silveira.

A história determinou o destino desastroso da maioria dos ex-presidentes anteriores. Getúlio Vargas se suicidou, Jânio Quadros renunciou 7 meses após sua posse, Sarney acabou seu mandato com grande índice de impopularidade no país. Collor e Dilma sofreram o impeachment, enquanto Lula, foi condenado por corrupção e está preso.

Para Schaefer às eleições de 2018, extremamente polarizadas, foram mais um capítulo desta história, no entanto com contornos mais dramáticos.

“Creio que neste pleito o candidato Jair Bolsonaro baseou sua campanha em uma retórica vaga em termos de políticas públicas práticas, mas com enorme sucesso em mover afetos da maioria dos eleitores. Afetos estes como medo e esperança. Medo em relação ao outro, os inimigos externos e internos — imaginários ou reais- mas também esperança que se traduzia na sua frase: mudar isso daí. Vaga mas potente em termos de marketing.”

Além de eleitores, Jair Bolsonaro atraiu muitos seguidores que espalharam seus ideais pelo Brasil, principalmente através das redes sociais como Facebook e Twitter. Para dar exata medida deste crescimento em 2014, o presidente eleito possuía 204 seguidores no Facebook e hoje tem 8.803.304 seguidores.

“É preciso ressaltar, no entanto, que esta busca por um salvador nunca é consenso, afinal de contas, a política não é consenso, mas contradição. A disputa política opõe adversários e o salvador da Pátria para parcelas da população é o tirano para outras”, conclui Schaefer.

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