Resiliência: uma vantagem competitiva para o pós-graduando
Imagine, pós-graduando, que você se encontra em um momento de pressão, em que a situação está “feia” e qualquer um perderia a cabeça. O que você faz? Corre para a direita, para a esquerda ou exercita aquelas habilidades incríveis de camuflagem e cara de paisagem?
Precisamos falar sobre resiliência. A palavra pode ser familiar, mas o seu significado exato possivelmente seja novidade para você. A origem do termo pode surpreender, porque vem da física. A ciência de materiais define como resiliente um material que é capaz de:
- acumular energia quando submetido à pressão;
- absorver o impacto;
- retornar ao seu estado inicial, sem sofrer deformações.
Em resumo, resiliência também significa a capacidade com que uma pessoa enfrenta uma situação, está aberta a aprender por meio dela, o quanto cresce com isso e utiliza as adversidades como uma oportunidade de amadurecimento. Essa sequência funciona sempre como um ciclo. Assim, quem é resiliente estará preparado para atravessar situações difíceis sem se deixar abalar, saindo delas com novos aprendizados.
Por que isso é importante? A resiliência foi citada como a principal competência para o mercado de trabalho na primeira metade do século 21 (ou seja, agora). Não está sendo um período fácil, então esse é um modo de lidar com os acontecimentos bastante valorizado em uma realidade em que as crises vêm e vão.
O pós-graduando entra nessa “história” trazendo uma bagagem de skills moldada ao longo dos anos de mestrado, doutorado e pós-doutorado. Ele traz consigo todos os conhecimentos especializados da área na qual atua, conhecimentos das disciplinas que cursou e tudo mais que ele conheça por prazer, curiosidade e interesse: tudo isso pode ser colocado no papel, tudo isso é palpável. Porém, além disso, existem habilidades que não estão no papel e que podem ser difíceis para o pós-graduando identificar em si mesmo.
O ambiente da pós-graduação é desafiador: a pressão se apresenta de várias formas e em vários rostos. Por isso, podemos afirmar com tranquilidade que o pós-graduando possui resiliência em menor ou maior grau. O Ecaderno indicou que a pós-graduação é um caminho a ser considerado um diferencial em momentos como este, de crise. A razão disso vai além das skills que podem ser colocadas no papel, pois também está no desenvolvimento de resiliência que esse meio acaba proporcionando.
Agora que você, pós-graduando, sabe que tem essa habilidade, vamos entender melhor como ela funciona e por que ser resiliente é uma vantagem competitiva para você.
Atravessar mares turbulentos e sobreviver com resiliência não significa fechar os olhos para as adversidades e sim dosar as emoções de forma equilibrada, com inteligência emocional. Todos experimentam episódios de raiva, indignação, angústia, ansiedade e o mais variado repertório de bad feelings: a magia de manter-se resiliente, mesmo cercado desses sentimentos, está na dose. Não deixe-se ficar imerso neles. Flutue acima deles.
Cabe ressaltar que resiliência é diferente de resistência. Lembre-se do conceito emprestado da física que citamos no início. Um material resistente não é o mesmo que um material resiliente, visto que ele poderia suportar até uma determinada dose (eventualmente alta) de pressão, mas depois sofreria com deformações ou alterações irreversíveis na sua forma. Aí está a importância de ser maleável, ser flexível. Quem é assim se adapta melhor às dificuldades e aos desafios, porque não se trata apenas de “matar no peito” e “segurar as pontas”. Resiliência é sobre observar, aprender, ser criativo para encontrar uma solução e crescer com a experiência, o que possibilita um mindset mais evoluído para atingir os próximos objetivos. Não é sobre ser de ferro.
Mas, afinal de contas, como é possível ser resiliente?
O “como fazer” é uma jornada individual. Não há receita pronta aplicável a todos os indivíduos, pois as pessoas são muito diversas no modo de pensar e no grau de resiliência que já possuem. Mesmo que você já se considere resiliente, isso comporta muito mais um estar do que um ser. Estar resiliente em determinada área da vida não implica que a pessoa estará resiliente nas outras áreas. Da mesma forma, a vida com seus altos e baixos também faz com que isso varie com o tempo. Há momentos em que é mais fácil de aprender com a situação e passar bem, mas há outros em que você não sabe se corre para a direita ou para a esquerda.
A boa notícia é que essa capacidade não é algo que você nasce tendo e então terá sucesso na vida ou nasce sem e o seu destino invariavelmente será o fracasso. A resiliência pode ser aprendida, exercitada e ter o grau aumentado em qualquer época da vida.
Como falamos, não há receita pronta, mas algumas reflexões podem ajudar você nesse caminho, como:
Auto conhecimento
Essa seria a dica mais importante em qualquer processo de desenvolvimento pessoal. Não se vai a fundo numa transformação se você não tiver auto conhecimento. Seja sozinho ou com o apoio de um profissional da área, conheça seus pontos fortes e fracos.
Ter foco (no que importa)
O foco é fundamental para manter você na linha e direcionado para o que quer. Para ser resiliente é preciso de atenção tanto para a solução, quanto para o problema e o aprendizado. Não foque em como você pode atribuir culpas a outro para passar pela situação intacto ou em como você se sente uma vítima. Foque no que vale a pena para construir o seu processo de aprendizado com essa experiência.
Aquela conversa de sempre
Contatos com hobbies, programas culturais, prática de esportes e habilidades artísticas são altamente recomendados para o desenvolvimento de skills resilientes. Pode parecer que não estejam diretamente ligados a isso, mas na verdade estão. Essas práticas paralelas melhoram a capacidade de agir em situações difíceis e trabalham a persistência, as competências sociais, a empatia e a flexibilidade (física e mental).
O fator interior e o fator exterior
O exterior molda o ser humano e pode ser uma parte, grande ou pequena, na determinação do seu modo de ver a vida. Quem mais têm facilidade em ser resiliente são pessoas otimistas, que assumem responsabilidades através de suas escolhas, trabalham sua flexibilidade de modo a serem abertas à mudança de posicionamento e pensamento e também cultivam um círculo de pessoas positivas.
Mas, afinal, por que isso é importante? O que você ganha com isso? Não é mais fácil ser resistente ou correr de situações ruins?
Ser resiliente é estar entre o esquivar-se da fuga e a rigidez da resistência. Isso ajuda você a:
- Ser persistente
- Ter força nos momentos difíceis
- Desenvolver confiança
- Aprender novas formas de lidar com problemas
- Adaptar-se às situações
- Estar disposto a mudanças
- Estar mais preparado para atingir objetivos
- Se fortalecer e amadurecer
É possível que você tenha identificado acima mais de uma competência comum e essencial na pós-graduação e isso não é coincidência, pois resiliência diz muito a respeito de você, pós-graduando.
Na linha do autoconhecimento, vamos promover uma auto reflexão, um auto diagnóstico. A Fundação Getúlio Vargas promoveu um estudo com mais de 3 mil alunos de especialização a fim de medir o nível de resiliência e caracterizar essa parcela da população. O mesmo exercício propomos a você, faça o seguinte: olhe para si mesmo e crie uma escala arbitrária classificando as nove habilidades listadas abaixo. Pode ser como um gradiente de cores, uma classificação de 0 a 10 ou com número de estrelas, de acordo com o que você percebe em si mesmo. As habilidades são:
- eficácia,
- solução de problemas,
- temperança (dosagem de sentimentos),
- empatia,
- proatividade,
- competência social,
- tenacidade,
- otimismo,
- flexibilidade mental.
Essas habilidades estão diretamente relacionadas com o desenvolvimento e o grau de resiliência. Caso tenha interesse, leia mais sobre cada uma delas e sobre esse estudo. A FGV, em seu resultado, encontrou que 16% dos alunos foram classificados com baixa resiliência, 44% foram considerados com moderada resiliência e 40% em um grau elevado.
Quem vai medir o seu resultado será você mesmo. De forma qualitativa, é possível fazer uma auto análise. Está claro que, num geral, essa é uma capacidade a ser desenvolvida.
A resiliência proporciona acontecimentos bárbaros em sua carreira. Foi com ela que Stephen Hawking construiu o seu maior legado, por exemplo. O desafio: esclerose amiotrófica que comprometeu toda a sua mobilidade. O processo: resiliência, aprendizado e condicionamento mental para fortalecer-se frente à adversidade. O resultado: formulou a teoria da cosmologia quântica.
Mesmo depois de desenvolvida, a sustentação da resiliência não é algo simples, pois muitos fatores externos a influenciam. O que se sabe é que uma postura de altruísmo, na qual você se dispõe a auxiliar os outros sempre que possível, está relacionada a uma capacidade de lidar melhor com os seus próprios problemas. É como uma pedra atirada em um lago: se você está no centro e num estado de resiliência, é natural que atinja quem está ao seu redor com essa “onda” e auxilie outras pessoas nesse processo. Da mesma forma, as pessoas podem tornar-se outras pedras e auxiliar você, seja na pós-graduação, na sua vida pessoal ou na busca por conquistas em outros campos.
Por isso, compartilhe esse texto e faça com que esse ensinamento chegue a outras pessoas. Todos podemos lidar bem com pressão. Ter resiliência é necessário e muito valorizado. Dessa forma, é possível dominar a arte de receber impacto e retornar ao nosso estado inicial, em equilíbrio.
Equipe do LdC