Dados: Use sem moderação.

O equilíbrio entre os dados e o espírito analítico para todas as áreas de negócio.

Daiane Azevedo
labsit
6 min readOct 6, 2021

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Existe um apelo grande para a qualificação de profissionais nas áreas de dados. Isso se deve ao crescimento do uso da inteligência artificial nas áreas de negócio. Machine learning, big data e data analytics são termos que se tornaram comuns. No entanto, pode haver uma falta de clareza sobre os conceitos e aplicações desses termos. Essa distinção deve ser feita e daria margem para um outro artigo. Não é sobre isso que queremos tratar hoje.

Gostaríamos de, em detrimento da necessidade de atrair profissionais para o estudo da ciência dos dados, destacar a importância do uso dos dados na área de negócio em que se encontra. Essa utilização não está restrita às áreas de tecnologia da informação. Se pudéssemos resumir, seria: Os dados podem “ir até você”. Na teoria parece simples, mas de fato não é tão simples assim. Existe um desafio iminente sobre a aplicação deste conceito para cada área de negócio. Mas podemos considerar que esta não é uma tarefa impossível e que geralmente vale muito a pena. O convidamos para essa jornada curiosa de entender um pouco mais como isso se daria. Esperamos que esse artigo desperte seu interesse em buscar meios de fazer uso mais proveitoso sobre os dados onde você está atuando hoje.

A intuição

A intuição tem exercido um papel importante no processo de tomada de decisões das empresas nos últimos séculos. Culturalmente, “a palavra final” advinha das mentes dos líderes organizacionais que a tinham como base. Como consequência, existia um vínculo forte entre a decisão e suas próprias experiências, seu próprio conhecimento ou as especulações de mercado.

Pesquisas mostram que o cérebro pode nos “pregar algumas peças”. Ele não é uma máquina cem por cento confiável. Diante disso, existe um risco em terceirizar as decisões de negócio para ele. Felizmente, outros recursos estão disponíveis para esse processo de tomada de decisões atualmente. Passamos pelo processo de automatização das informações, temos a Internet, ampliamos nossa capacidade de armazenamento e processamento. É neste ponto que entram os dados.

Os dados

Os dados são o novo petróleo” é uma expressão muito citada pelos executivos para demonstrar o seu potencial de exploração. Deles podem ser extraídas informações que trazem valor para o negócio, auxiliam no processo de tomada de melhores e mais rápidas decisões nas empresas. Se organizados da forma correta, eles serão imparciais e mais abrangentes que somente a “intuição” nesse processo decisório. Imagine que exista uma tendência no comitê de uma determinada organização de lançar uma nova linha do produto X. Após pesquisa de mercado, uma análise detalhada das informações, ficou claro que o produto Y teria uma propensão de aceitação maior do público e seria a melhor opção. O dado refletiu uma realidade diferente da que foi imaginada pelo comitê. Esse é um dentre tantos exemplos que poderíamos citar.

Fazendo uma tradução literal da famosa citação do estatístico W. Edwards Deming : Em Deus nós confiamos. Todos os outros precisam trazer dados. Os dados são as evidências que precisamos para seguir com melhores e mais assertivas escolhas. No entanto, algumas empresas se atêm aos dados e receamos que essa não seja a abordagem mais equilibrada, a ideal. Falaremos um pouco mais sobre isso no próximo tópico.

O espírito analítico

Falamos um pouco sobre a tomada de decisões que não faz uso dos dados. Também falamos da outra abordagem que estabelece um foco maior nos dados para esse processo. Como diria Aristóteles, a virtude se encontra no meio termo entre dois extremos. Neste caso não seria diferente. Não podemos negar a importância dos dados, mas não podemos anular a importância da intuição nas decisões empresariais. E nesse ponto chamaremos esse equilíbrio de espírito analítico. Ele é necessário para avaliar de forma coerente o que se é apresentado, de forma crítica e que favoreça o negócio.

Data driven Decision Making

Já existe um nome dado para essa forma de tratar as decisões empresariais com protagonismo nos dados: A chamada DDDM — Data-Driven Decision Making (ou Tomada de Decisão Baseada em Dados).

Por definição: A Tomada de Decisão Baseada em Dados (DDDM — Data-Driven Decision Making) é uma abordagem de governança de dados que estabelece um fluxo de aquisição, análise e comunicação de dados para suportar processos decisórios.

Não se trata apenas de ter profissionais da ciência dos dados disponíveis na empresa, envolve pessoas, relacionamentos, análises, cultura, software e solução de problemas. É importante haver o engajamento de todos neste processo de trazer os dados para o centro das decisões. Embora não seja uma tarefa fácil, o nível de maturidade da organização tende a subir muito após a sua implantação. A empresa só tende a ganhar tempo, aumentar receita, diminuir riscos, manter clientes, dentre outras vantagens, a depender dos modelos de negócios aplicados.

Se onde você está ainda não existe essa cultura dos dados e lhe surgiu a curiosidade de como começaria a trazer para discussão esse tema, poderíamos dar alguns conselhos:

  • Estude sobre o tema. Se necessário, procure consultoria de especialistas com cases bem sucedidos;
  • Busque apoio. Procure convencer a outras pessoas do seu time (conscientização);
  • Monte um projeto que possa ser apresentado àqueles que podem financiá-lo;
  • Após a aprovação, mãos à massa.

Nas etapas de execução, teríamos alguns pontos de atenção para destacar:

  • Quais serão as informações que precisaríamos estar disponíveis?;
  • Para quais papéis (pessoas) essas informações estariam disponíveis?
  • Quais são as origens dessas informações? Precisaremos fazer integração com quais sistemas?
  • Qual a frequência de atualização dessas informações: a cada uma hora, diariamente, semanalmente, entre outros?
  • Quais serão os recursos necessários: profissionais de dados, processamento, armazenamento, ferramentas e outros?
  • Como se dará as garantias dos direitos estabelecidos pela nova Lei Geral de Proteção dos Dados — LGPD (entrou em vigor em Agosto de 2020);

Modelos aplicados

Poderíamos citar milhares de exemplos de aplicação de modelos que trouxeram os dados como protagonistas nos processos decisórios dos negócios. Mas não vamos nos demorar, elencamos alguns abaixo:

  • Saúde: O hospital em São Paulo implantou um sistema que prevê as chances de internação do paciente a partir dos dados informados no primeiro atendimento de urgência.
  • Finanças: Empresa do mercado financeiro desenvolveu um modelo que identifica o verdadeiro lifetime value dos clientes que, em alguns momentos, não estava alinhado à renda mensal informada por eles.
  • Marketing: Agências de marketing em geral estão adotando a postura de fazer pesquisa de mercado sobre alterações que serão feitas nas interfaces de Websites, por exemplo. Isso para garantir que a conversão de venda seja maior na maioria dos casos, após a implantação.
  • Infraestrutura: Imagine que o setor responsável pela manutenção dos equipamentos da empresa esteja tendo problemas para manter a operação mediante as manutenções de notebooks. Pessoas tinham que parar suas atividades urgentes de forma inesperada e isso gerava um impacto no negócio. Pode ser implantado um sistema que calcula o tempo médio de necessidade de manutenção sobre as máquinas. Sendo as manutenções antecipadas os riscos de parada da operação seriam reduzidos ou até mesmo eliminados.
  • Pessoas e carreiras: O processo de contratação de pessoas vem mudando muito no decorrer dos anos. Está sendo dado um foco maior sobre os soft skills em detrimento dos hard skills. Sistemas estão sendo criados e usados para ler essas características dos candidatos e definir tendências de alinhamento ou não para determinadas vagas. Tudo isso a partir de dados.

Como podemos ver, muita informação pode ser gerada a partir dos dados. Como para o petróleo, eles podem ser explorados e gerar valor agregado ao negócio, independente de qual seja o negócio. A implantação da tomada de decisões baseadas em dados pode não ser uma tarefa simples, mas costuma valer a pena. Com estudo, conscientização das pessoas, uma cadeia de apoio, o financiamento correto e muito trabalho conseguiremos avançar.

REFERÊNCIAS

https://cio.com.br/tendencias/mercado-para-cientistas-de-dados-e-um-dos-mais-promissores-em-ti/

https://www.mckinsey.com/business-functions/mckinsey-analytics/our-insights/the-age-of-analytics-competing-in-a-data-driven-world

https://www.intellspot.com/data-driven-decision-making/

https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2019/10/08/inteligencia-artificial-garante-avancos-no-tratamento-de-doencas-e-agilidade-na-internacao-de-pacientes.ghtml

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