Então?!

Robson Felix
Lacrimejando
Published in
2 min readSep 8, 2016

Acho que te devo uma explicação.
Sabe, estou assustado, com medo, sentimentos confusos.
Hoje estou aqui sozinho, com uma conhecida de anos, de mentiras, de falácias, de angústias… a solidão. E ao me deparar com ela novamente a primeira pergunta que fiz foi: “Por que você me deixou à mercê de sentimentos mundanos?”. Ela, como sempre faz, me respondeu com outra pergunta: “Por que sempre queremos o que não temos?”, sem virar seu rosto esquálido. Responder com perguntas sempre foi o meu jeito de fugir de questões difíceis, mas não me dou por rogado e insisto: “Por que tudo que eu amo sempre cai e quebra?”. Ela, que sempre foi muito astuta, me fazendo sentir como se estivesse a jogar xadrez com um computador, me respondeu sem pestanejar: “Por que você não ama os cacos?”.
Sabe menina, você foi a minha descida ao inferno. Com você descobri os prazeres mundanos, os arroubos da traição, a doçura do fel e a decadência das ruas.
Sabe, com você provei de tudo (tudo o que eu sempre tive medo), dei vazão a fantasias inconfessáveis, e realizei desejos secretos. Tudo era permitido em nosso mundinho perfeito e não deveria ser assim. Fantasias só são chamadas por esse nome, porque nunca foram postas em prática. Caso contrário, acabou-se o encanto, acabou a fonte externa de referências de prazer, e vira experiência. Sabe menina, devo-lhe muitas desculpas por ir ao encontro de suas necessidades. Te emprestei um pouco da minha sobriedade aparente e você me deu um terço da sua loucura.
Resultado?
Um oba-oba esfuziante, onde tudo era permitido, onde tudo era válido, para gáudio dos diabinhos que povoaram a nossa cama. Fazíamos de nossa cama, arena. E de nossa mesa, palanque. Desculpa, menina. Devo dizer que exagerei na dose quando na despedida te disse que nosso amor era uma farsa, uma ilusão. Sinto a sua falta, clamo teu nome, mas em nome da nossa dignidade, sigo em frente na esperança de que um dia nosso amor chegue aos níveis basais de sobriedade e de moralidade.
Adeus, minha adorável doidivanas.

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