Então?!
Acho que te devo uma explicação.
Sabe, estou assustado, com medo, sentimentos confusos.
Hoje estou aqui sozinho, com uma conhecida de anos, de mentiras, de falácias, de angústias… a solidão. E ao me deparar com ela novamente a primeira pergunta que fiz foi: “Por que você me deixou à mercê de sentimentos mundanos?”. Ela, como sempre faz, me respondeu com outra pergunta: “Por que sempre queremos o que não temos?”, sem virar seu rosto esquálido. Responder com perguntas sempre foi o meu jeito de fugir de questões difíceis, mas não me dou por rogado e insisto: “Por que tudo que eu amo sempre cai e quebra?”. Ela, que sempre foi muito astuta, me fazendo sentir como se estivesse a jogar xadrez com um computador, me respondeu sem pestanejar: “Por que você não ama os cacos?”.
Sabe menina, você foi a minha descida ao inferno. Com você descobri os prazeres mundanos, os arroubos da traição, a doçura do fel e a decadência das ruas.
Sabe, com você provei de tudo (tudo o que eu sempre tive medo), dei vazão a fantasias inconfessáveis, e realizei desejos secretos. Tudo era permitido em nosso mundinho perfeito e não deveria ser assim. Fantasias só são chamadas por esse nome, porque nunca foram postas em prática. Caso contrário, acabou-se o encanto, acabou a fonte externa de referências de prazer, e vira experiência. Sabe menina, devo-lhe muitas desculpas por ir ao encontro de suas necessidades. Te emprestei um pouco da minha sobriedade aparente e você me deu um terço da sua loucura.
Resultado?
Um oba-oba esfuziante, onde tudo era permitido, onde tudo era válido, para gáudio dos diabinhos que povoaram a nossa cama. Fazíamos de nossa cama, arena. E de nossa mesa, palanque. Desculpa, menina. Devo dizer que exagerei na dose quando na despedida te disse que nosso amor era uma farsa, uma ilusão. Sinto a sua falta, clamo teu nome, mas em nome da nossa dignidade, sigo em frente na esperança de que um dia nosso amor chegue aos níveis basais de sobriedade e de moralidade.
Adeus, minha adorável doidivanas.